Civilização Banto/História

Por volta de 2000 a.C., os primeiros povos chamados de bantos partiram do sudeste da atual Nigéria e se expandiram por todo o sul da África. Eram povos agricultores (exemplos de plantas de origem africana e que talvez tenham sido cultivadas pelos primeiros povos bantos são: o sorgo, a melancia, o jiló, o feijão-fradinho, o dendezeiro e o maxixe), caçadores, pescadores, coletores e criadores (por exemplo, de galinha d'angola).

Sorgo (Sorghum bicolor)
Melancia (Citrullus lanatum)
Jiló (Solanum aethiopicum)
Dendezeiro (Elaeis guineensis)
Feijão-fradinho (Vigna unguiculata)
Maxixe (Cucumis anguria)
Galinha d'angola (Numida meleagris)

Conheciam a metalurgia do ferro. Praticavam religiões tribais, onde grande ênfase era dada ao culto a seus antepassados. Nesse processo de expansão pelo continente africano, mataram, expulsaram ou se fundiram às populações nativas, que eram aparentadas aos atuais povos de línguas khoisan que habitam algumas regiões do sul da África, como a Namíbia. Como resultado, o sul da África quase inteiro fala hoje idiomas bantos.

Nesse processo de expansão, surgiram desenvolvidas civilizações de língua banta. A partir do século VII, o islamismo começou a se propagar pela costa leste africana, difundido por comerciantes árabes. Na região, o islamismo se fundiu aos costumes nativos bantos, gerando uma forma particular de islamismo, menos erudito e com a utilização de atabaques.[1]

Arco de uma mesquita na ilha de Moçambique

A influência cultural árabe também determinou a formação da língua suaíli, língua banta com um quarto de seus vocábulos com origem árabe.

Distribuição atual do suaíli
A oração cristã do pai-nosso em suaíli

Entre os séculos IX e XIV, surgiu uma desenvolvida civilização de língua banta no norte da atual África do Sul, na região de Mapungubwe. Tal civilização construiu grandes muralhas de pedra, palácios e dominou o comércio entre a África austral e a Índia e os países árabes. Ela perdurou até ser destruída pela invasão de povos de língua sichona a partir do século XIV.

Desenho de um rinoceronte de ouro encontrado nas ruínas de Mapungubwe
Mapa das ruínas de Mapungubwe
Escavações em Mapungubwe
Monte Mapungubwe

Na região do atual Zimbábue, surgiram palácios cercados por muralhas de pedra. Tais muralhas são atualmente chamadas pelos povos locais como Madzimbabawe. Este nome veio a influenciar a atual designação do Zimbábue e o nome pelo qual são conhecidas estas cidades de pedra: "grande Zimbábue". Tais cidades eram provavelmente habitadas por uma elite dirigente, que congregava em torno das muralhas de pedra uma massa de trabalhadores. Esta elite controlava o comércio de ouro, pedras preciosas, marfim e objetos de ferro desde o atual território sul-africano até o rio Zambeze e o litoral do Quênia, onde estes produtos eram trocados com mercadores árabes. Era um povo que falava a língua banta sichona. Seu apogeu foi entre 1250 e 1450. A partir desta época, foram dominados por um povo invasor também de língua sichona, que fundou o império chamado Mwenemutapa. Alguns pesquisadores, no entanto, defendem que o nome "Mwenemutapa" já era utilizado para nomear o império da grande Zimbábue antes dessa invasão.

Muralha da Grande Zimbábue
Torre da Grande Zimbábue
Réplica do pássaro de pedra encontrado na Grande Zimbábue

Enquanto isso, outro império banto surgia a oeste, na bacia do Rio Congo. Era o Reino do Congo, que perdurou de 1395 a 1914. Abrangia territórios dos atuais Gabão, República do Congo, República Democrática do Congo e Angola. Falava a língua banta quicongo e era governado por um rei que detinha o título de mwene kongo, ou "rei do Congo". Seu exército praticava uma técnica de luta aparentada com a atual capoeira brasileira.[2]

Mapa mostrando a extensão do reino do Congo em 1711
Audiência do rei do Congo para navegadores portugueses e súditos africanos
Brasão de armas do rei Afonso I do Congo
Gravura de 1685 retratando o rei do Congo
Gravura do final do século XVIII retratando um servo do rei do Congo
Gravura retratando um rei do congo no final do século XVIII
Mfutila, o último rei do Congo

A partir do século XV, a África negra começou a ter contato com os navegadores europeus. Inicialmente com os portugueses, seguidos pelos espanhóis, ingleses, franceses e neerlandeses. As potências europeias procuravam riquezas na África, mas a principal riqueza que encontraram revelou-se cruel para os povos nativos: era o tráfico de escravos. Os escravos eram adquiridos pelos navios no litoral africano, em troca de aguardente, contas de vidro, argolas, pequenos pedaços de cobre e fumo. Muitas vezes, os escravos eram obtidos a partir de lutas entre os próprios reinos africanos. Os europeus introduziram uma nova religião na região, o cristianismo, bem como novas línguas, novos produtos agrícolas e novas formas de organização política. Na luta contra os invasores portugueses, destacou-se a rainha Nzinga, do reino de Ndongo, no atual território angolano.[3]

Gravura retratando ataque de caçadores de escravos a uma vila do Congo, no final do século XIX
Gravura do século XIX retratando escravos africanos sendo transportados na África
Museu Nacional da Escravatura em Luanda, em Angola. O museu situa-se em uma igreja do século XVII onde os escravos eram batizados antes de embarcarem em navios para a América.
Rainha Nzinga
Igreja cristã construída pelos portugueses em Benguela, em Angola
Plantação de milho na África do Sul. O milho é uma planta de origem americana que foi introduzida na África a partir do século XVI.

A dominação europeia intensificou-se até atingir o apogeu nos séculos XIX e XX, quando quase toda a África estava sob domínio das potências europeias. Ocorreu um processo generalizado de aculturação das populações nativas segundo o modelo da cultura europeia. Isto significou uma grande difusão das línguas europeias em todo o continente africano. Porém as línguas locais do sul da África, majoritariamente pertencentes à família linguística banta, não desapareceram durante este processo e continuaram a ser faladas pelas populações. Em 1948, a segregação racial entre brancos e negros institucionalizou-se na África do Sul, com a adoção do apartheid.

Placa em praia de Durban, na África do Sul, reservando o local aos brancos, escrita em inglês, em africâner e em isizulu

Na segunda metade do século XX, as nações africanas conseguiram sua autonomia política. Sua cultura tornou-se um amálgama de influência europeias e africanas. Especificamente no sul do continente, a influência africana era basicamente de origem banta. Com a autonomia política, ocorreu um processo de resgate das influências africanas. Por exemplo:

  • a renomeação da "Rodésia do Sul" (nome que homenageava o explorador britânico Cecil Rhodes) como "Zimbábue" (em homenagem à civilização banto do Grande Zimbábue) e a renomeação da "Rodésia do Norte" como "Zâmbia", em homenagem ao Rio Zambeze, que corta o país;
  • a renomeação da moeda nacional moçambicana "escudo de Moçambique" para "metical", o mesmo nome da antiga moeda moçambicana de antes da dominação portuguesa, moeda esta constituída por um talo de pena de ave preenchido com ouro em pó;
  • a renomeação de cidades de nome europeu como "São Salvador do Congo", "Salisbury", "Lourenço Marques", "São Paulo de Luanda", "Santo António do Zaire" e "Léopoldville" para "M'Banza Kongo", "Harare", "Maputo", "Luanda", "Soyo" e "Kinshasa", respectivamente;
  • a reformulação das bandeiras de alguns países, retirando elementos culturais europeus (como os símbolos do Reino Unido e de Portugal) e trocando-os por elementos nativos, como o pássaro de pedra encontrado nas ruínas da Grande Zimbábue ou a cor negra, representando a etnia negra, majoritária na região;
  • a oficialização das línguas nativas da África do Sul, que passaram a desfrutar do mesmo status do africâner e do inglês: o ndebele, o xhosa, o zulu, o soto do norte, o sessoto, o suazi, o tsonga, o setsuana e o venda, todas elas línguas bantas;
  • o fim do regime racista na Rodésia do Sul em 1979.
  • e o fim do regime do apartheid na África do Sul, em 1990, e a subida ao poder do líder negro Nelson Mandela, em 1994.
Bandeira de Zâmbia
Bandeira do Zimbábue
Harare
Bandeira da África do Sul
Bandeira de Angola
Bandeira de Moçambique
Bandeira do Lesoto, com o chapéu típico lesotense, o mokorotlo, ao centro
Bandeira do Quênia
Estátua de Nelson Mandela na praça do Parlamento, em Londres

Em 1994, estreou, nas telas de cinema do mundo inteiro, o desenho "Rei Leão". O desenho fez bastante sucesso e tornou conhecido um termo em suaíli, hakuna matata, que significa "sem preocupação". No desenho, o termo se referia ao estilo de vida despreocupado adotado pelo suricato (Suricato suricatta) Timão e pelo javali (Phacochoerus africanus) Pumba.

Suricato

Em 2004, foi lançado o sistema operacional para computadores Ubuntu. O nome "ubuntu" refere-se a um tradicional conceito banto de solidariedade entre todas as pessoas. Assim como a filosofia ubuntu, o novo sistema operacional tinha, como meta, servir a todas as pessoas gratuitamente, sem distinções de qualquer natureza.

Login do Ubuntu

Em 2010, ocorreu a primeira copa do mundo de futebol no continente africano: a copa da África do Sul.

Referências