Retórica e argumentação/Figuras de estilo/Aetiologia


Aetiologia consiste em uma figura de estilo na qual se justifica uma declaração, geralmente depois desta ter sido feita. Quando se intercala cada parte da sentença com uma justificativa dessa, a figura é chamada de prosapodose.

Exemplo 1: “Os penhoristas na Inglaterra têm o hábito, quando obtém um relógio de bolso, de riscar os números da cautela com um alfinete no interior da caixa. É mais conveniente que uma etiqueta, pois não há perigo de o número se perder ou ser trocado.” (Sir Arthur Conan Doyle, The Sign of the Four)

Exemplo 2: “Todas as guerras são civis, porque é sempre homem contra homem, que espalha o seu próprio sangue.” (François Fénelon, Oeuvres de Fénélon)

Exemplo 3: “Ora, para aquele que está entre os vivos há esperança (porque melhor é o cão vivo do que o leão morto). Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem coisa nenhuma, nem tampouco terão eles recompensa, mas a sua memória fica entregue ao esquecimento. ... Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra nem projeto, nem conhecimento, nem sabedoria alguma.” (Ecl 9, 4.5.10)

Exemplo 4: "Eu não o temo como acusador, porque sou inocente; nem como rival, porque sou Antônio; nem espero vê-lo como cônsul, porque ele é Cícero." (Gaio Antônio segundo Quintiliano, Institutio Oratoria)

Exemplo 5: "Homens civilizados são mais descorteses que os selvagens, pois esses sabem que podem ser rudes sem ter seus crânios partidos, geralmente." (Robert E. Howard, The Tower of the Elephant)

Exemplo 6: "De todas as coisas que existem, a mais antiga é deus, pois ele não foi criado; a mais bela é o universo, pois é a obra de deus; a maior é o espaço, pois engloba todas as coisas; a mais veloz é a mente, pois vai a toda parte; a mais forte, a necessidade, pois rege tudo; a mais sábia, o tempo, pois traz tudo à luz." (Tales segundo Diógenes Laërtius, Vidas dos Filósofos Eminentes)

Exemplo 7: "Existe um universo criado, visto que ele é perceptível aos sentidos, o qual foi feito por deus... E ele é animado porque aquilo que é animado é melhor do que aquilo que é inanimado... e ele foi feito um e não ilimitado porque o modelo a partir do qual ele foi feito era um. E ele é esférico porque esta é a forma de seu criador; visto que o criador contém os outros seres vivos e este universo as formas deles todos. Ele é liso e não tem órgãos porque não precisa de órgãos. Ademais, o universo permanece imperecível porque não está dissolvido na divindade." (Diógenes Laërtius, Vidas dos Filósofos Eminentes)

Uso na retórica: Obviamente, aetiologias provém fundamentação ao que é alegado, quer esta fundamentação seja causal, lógica, jurídica ou de qualquer outra natureza.