Língua artificial: diferenças entre revisões

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__NOTOC__
*[[/Introdução a língua artificial/]]
*[[/Quais são os diferentes tipos de línguas artificiais?/]]
*[[/FAQ/]]
=== Iniciante ===
*[[/Iniciante/Introdução ao nível iniciante|Introdução ao nível iniciante]]
*[[/Iniciante/Sons|Sons]]
*[[/Iniciante/Palavras|Palavras]]
*[[/Iniciante/Gramática|Gramática]]
*[[/Iniciante/Sistemas de escrita|Sistemas de escrita]]
*[[/Iniciante/Aprender sua língua artificial|Aprender sua língua artificial]]
=== Intermediário ===
* Introdução ao nível intermediário
* Notação de som
* Fonética e fonologia
** Fonemas
** Sílabas
** Fonotáticas
** Regras de Sandhi
* Gramática
** Formas
** Substantivos
** Verbos
** Adjetivos e advérbios
** Derivações
** Cláusulas
* História
** Mudanças comuns no som
** Alterações da gramática
** Etimologia e origens das palavras
* Sistemas de escrita
* Dicas para adicionar irregularidades no sua Língua artificial
* Explorar novos domínios
=== Avançado ===
* Introdução ao nível avançado
* Fonologia
** Comum sons
** Insólito sons
** Fonologias de não humanos
* Gramática
**Alinhamento
*** Ergativo
*** Tripartido
*** ''Active-stative''
*** Gatilho
** Formando palavras
** Restrições em línguas naturais
*** Governo e teoria vinculativa
**** Partes do discurso
**** Constituinte, as árvores, as regras
**** Relações estruturais
**** Vinculação teoria
**** Linguísticas universais
**** Aplicação do conhecimento
**** Encontrando problemas
** Destruindo o substantivo/verbo distinção
* A ligação entre uma língua e sua cultura
* Metáfora e as suas aplicações para a língua artificial
 
=== Apêndices ===
[[File:Conlangflag.svg|right|thumb|250px|A Bandeira Conlang é um símbolo de entusiastas de linguagens construídas. Ela representa a Torre de Babel contra o sol nascente. Traduzir Gênese 11:1-9 tem sido uma tradição de construtores de línguas.]]
'''Línguas artificiais''' são idiomas construídos por uma pessoa ou um pequeno grupo, ao invés de ter evoluído como parte da cultura de algum povo. Elas são criadas com diversos motivos.
*'''Línguas projetadas''' são elaboradas com o propósito de experimentação em lógica ou filosofia.
*'''Línguas auxiliares''' com o de facilitar a comunicação entre os povos.
*'''Línguas artísticas''' são inventadas por puro prazer.
São divididas em dois tipos, as linguagens a priori, onde toda a gramática e vocabulário são criados do zero, e as linguagens a posteriori, derivadas de uma ou mais línguas naturais. Muitas línguas artificiais foram criadas especialmente para obras de ficção, como {{w|Klingon}}, da série ''{{w|Star Trek|Jornada nas Estrelas}}''. Alguns malucos começam a falar Klingon sem parar, e afirmam só saber falar esse idioma. {{w|J. R. R. Tolkien}} criou duas linguagens, o {{w|Quenya}} e o {{w|Sindarin}}, para a sua trilogia de livros ''{{w|O Senhor dos Anéis}}''. A língua artificial mais famosa é o [[Esperanto]], criado pelo polonês {{w|Ludwik Lejzer Zamenhof|Ludwick Zamenhof}}, um idioma auxiliar que contém características de várias línguas do Ocidente, para que pessoas de diferentes partes do mundo pudessem se entender com facilidade, e que até ganhou versões dos projetos Wikimedia ([[w:eo:|Vikipedio]], [[:eo:|Vikilibroj]], entre outros).
 
* Conlang X-SAMPA
Se você quer construir uma língua artificial, o ideal seria pesquisar os diferentes idiomas naturais existentes primeiro, para ter uma idéia de como outras linguagens funcionam, suas diferenças e semelhanças. Depois, você criará as palavras e seus sons, a gramática e a escrita. Isso certamente é desgastante para quem não está acostumado com o estudo da comunicação verbal, por isso este livro vai auxiliar você em alguns passos simples.
* Lista de palavras
* Glossário
 
== Gramática{{ver também}} ==
* [[Linguística]]
=== Organização ===
 
Eu acredito que o ideal quando se quer criar uma língua é começar pela gramática, decidindo qual será a ordem das palavras na oração e como elas vão formar uma frase. Claro que não é uma coisa muito original ir traduzindo palavra por palavra a partir do português, construtores de linguagens criam a sua própria ordem. Tomemos um exemplo.
 
'''Kevin está regando as flores.'''
 
Vemos que existem três termos fundamentais na oração: "Kevin", o núcleo do sujeito, "regar", o verbo, e "flor", o núcleo do objeto. A ordem das palavras na língua portuguesa é Sujeito-Verbo-Objeto. Essa é a ordem falada por mais pessoas, e está presente em línguas como o {{Busca|mandarim}}, o espanhol e o inglês. Agora, observe como essa frase fica em japonês.
 
'''Kevin wa hana no mizu yari desu.'''
 
O japonês é uma língua Sujeito-Objeto-Verbo. A maioria das línguas do mundo estão organizadas nessa ordem, como coreano, turco e hindi, embora menos pessoas falem esses idiomas. "Kevin" vem primeiro, "hana", que significa "flores", está em segundo e no final está "mizu", que significa "regar". Os outros termos na oração somente caracterizam o verbo ou são conjunções.
 
Existem ainda algumas línguas com ordens diferentes é claro, mas 75% das línguas no mundo são desses dois tipos. Se você estiver fazendo uma linguagem a posteriori, então seria prudente escolher Sujeito-Verbo-Objeto, mas você pode fazer do modo que você quiser se estiver criando um idioma alienígena. É possível fazer com que tanto faça a ordem dos termos na frase, usando a flexão de modo, uma flexão que indica a função que a palavra está exercendo.
 
Você precisa decidir também a ordem em que os adjuntos e complementos vão aparecer. No [[alemão]] e no inglês, o nome fica sempre por último e seus adjuntos ficam atrás, como "blue flower", mas em espanhol e português é ao contrário.
 
Depois de resolver essa questão, você precisa pensar em como você vai formar orações adjetivas, aquelas que caracterizam um nome. No português, usamos um pronome relativo, normalmente "que", "quem", "o qual", "onde", "quanto" ou "cujo".
 
'''A flor que Kevin regou é azul.'''
 
Mas, em várias línguas, não existem pronomes relativos. Você simplesmente usa um pronome pessoal.
 
'''A flor, Kevin regou-a, é azul.'''
 
É importante também formar perguntas. No português, usamos uma mudança na entonação, mas essa técnica é evitada por várias línguas ao redor do mundo. Em vários idiomas, mudanças no tom de voz podem inclusive mudar o sentido da frase. Na maioria das vezes, a melhor solução é usar uma flexão ou uma palavra pequena que indique a pergunta. Pense em como você vai fazer as perguntas com pronomes relativos. Em português, nós colocamos o pronome na frente, mas em várias línguas ele é colocado no lugar do objeto. Por exemplo, no mandarim, em vez de "o quê aconteceu aqui?", dizemos "aconteceu aqui o quê?". Também existem meios de indicar se a resposta que você espera é "sim" ou "não". Veja os exemplos abaixo. O primeiro sugere a resposta "não", enquanto que o segundo sugere a resposta "sim".
 
*A parede não é vermelha, é?
*A parede é vermelha, não é?
 
No português, temos que fazer uma nova oração, como "não é?", por exemplo, para poder criar essa sensação de que uma resposta está sendo sugerida. Porém, essa expectativa pode ser indicada com flexões ou palavras, se você quiser.
 
Não se esqueça também de pensar em como negar uma frase. Na maioria das línguas ocidentais, se adiciona uma palavra próxima ao verbo, como o nosso "não". Mas no japonês, por exemplo, o verbo pode ser flexionado para indicar negação. Ou você pode fazer como no inglês, usando um verbo auxiliar, como o "to do".
 
=== Morfossintaxe ===
 
Olhando novamente para o nosso exemplo, é óbvio que "regar" e "flor" não estão do modo como os encontramos no dicionário. Eles estão flexionados. "Regar" fica "está regando", de acordo com a terceira pessoa e indicando que a ação está sendo feita no exato momento. A palavra "flor" fica "flores", pois é plural. O português é uma língua '''flexiva''' pois flexiona as palavras adicionando morfemas para formar novas palavras.
 
'''cacofonia''' (som ruim)
 
'''caco''' (ruim) + '''fono''' (sonoro) + '''ia''' (indica adjetivo substantivado)
 
A flexão é algo que acontece em muitas outras línguas no ocidente. No inglês, por exemplo, temos "write", "wrote" e "written", dependendo do tempo em que o verbo está.
 
Uma outra forma de criar palavras novas é a fusão. Em linguagens '''fusionais''', muitos morfemas são juntados de modo que fica realmente difícil separá-los. Embora as palavras fiquem compridas, costumam ser bem mais precisas. Um bom exemplo é o alemão, embora outras línguas como {{Busca|grego}} e [[russo]] também sejam um pouco fusionais. Por exemplo, existe uma única palavra em alemão para aquela água da chuva que flui sobre o solo quando não consegue penetrar nele.
 
'''Oberflächenwasser'''
 
'''Ober''' (sobre) + '''flächen''' (superfície) + '''wasser''' (água)
 
Existem também aquelas línguas que são '''aglutinantes''', como o [[finlandês]], o {{Busca|húngaro}} ou o {{Busca|turco}}, onde muitas palavras de uma frase são fundidas, inclusive aquelas com diferentes funções sintáticas, podendo misturar sujeito e predicado e expressar uma oração completa com apenas uma palavra. Embora costumem economizar saliva, são essas línguas que batem os recordes mundiais de palavras mais compridas. A frase "eu me pergunto se deveria me sentar por um tempo" pode ser escrita desse jeito.
 
'''istahtaisinkohan'''
 
'''istah''' (sento-me) + '''tai''' (por um tempo) + '''sinko''' (deveria?) + '''han''' (pergunto-me)
 
[[Image:Pinyin Tone Chart.svg|right|thumb|150px|Mudanças relativas na altura da voz nos quatro tons do Mandarim.]]
Todas as línguas que flexionam, aglutinam ou fundem são chamadas de línguas '''sintéticas'''. Existem ainda aquelas linguagens que não são sintéticas, ou seja, não unem palavras nem utilizam afixos, as chamadas línguas '''analíticas'''. A mais famosa é o mandarim, mas também são analíticas todas as outras variedades de {{Busca|chinês}}, {{Busca|coreano}} e alguns outros, o que equivale a um quinto da população mundial. Em primeira análise, teriam que ser muitas palavras e algumas seriam muito compridas. Contudo, no mandarim, por exemplo, o vocábulo é praticamente monossilábico. Isso porque uma única palavra pode ter muitos significados diferentes. Além disso, o mandarim é uma linguagem tonal, ou seja, o tom da pronúncia é importante para o significado da palavra. Embora seja rara a existência de idiomas tonais no Ocidente, a maioria das línguas do mundo são tonais. No mandarim temos 4 tipos diferentes de tons, além do tom neutro, e cada um resulta num entendimento completamente diferente do sentido da palavra.
 
{{Audio|zh-pinyin_tones_with_ma.ogg|mā, má, mǎ, mà (clique para escutar)}}
 
O modo que você vai usar para formar palavras depende bastante do tipo de escrita que você vai usar. Se a escrita é a partir de logogramas, ou seja, símbolos que significam palavras, como acontece no mandarim, o ideal é uma língua analítica com palavras de pronúncia rápida e simples. Porém, se você quer escrever com um alfabeto onde as letras representem sons ou sílabas, não há problema algum em unir várias palavras em uma só.
 
== Vocabulário ==
=== Palavras ===
 
Agora, você começará a criar palavras. Nesse momento, existem dois fatores importantes: a simplicidade e a especificidade. Quanto mais específico você tentar ser, mais complicada a língua parecerá. Porém, se você tentar reduzir demais o número de palavras, as frases ficarão muito pouco específicas podendo inclusive resultar em grandes problemas práticos. Você precisa se fazer algumas perguntas para saber que palavras usar.
 
A primeira pergunta é se a sua língua possuirá adjuntos, aquelas palavras que ficam junto de outra, caracterizando-a, ou seja, adjetivos, advérbios e artigos. Não é difícil de eliminar adjetivos e advérbios, e existem algumas línguas aonde eles não existem, como o [[árabe]]. No árabe, as únicas classes que existem são nomes, verbos ou preposições. Assim, ao invés de dizer "o homem correu lentamente", deve-se dizer "o homem correu [com] lentidão", e ao invés de "a parede vermelha", deve-se dizer "a parede [de] vermelho".
 
Artigos também não são muito necessários. No caso de "o homem correu lentamente", o artigo está indicando que "homem" se refere a algum homem já referido anteriormente. Se você diz "um homem correu lentamente", então pode ser qualquer homem, e quando você diz "homem corre lentamente" parece que todos os homens correm lentamente. Mesmo assim, você pode usar pronomes, como "aquele homem", "algum homem" ou "todos os homens" se você quiser. O russo e outras línguas soviéticas ou asiáticas se dão bem sem artigos.
 
'''Kevin poliva tsvetov.'''
 
'''Kevin está regando''' [aquelas] '''flores.'''
 
Você pode deixar de usar o verbo "ser" em orações nominais, como o russo também faz. A frase "a parede é vermelha" fica somente "parede vermelha". O verbo "ser" só seria utilizado em orações do tipo "então é isso!".
 
Outra coisa que você se deve perguntar é como serão as conjunções. Elas ligam as orações umas às outras, formando uma lógica, mas às vezes essas conecções já estão subentendidas. Por exemplo, ao invés de "nos aproximamos do fogo porque estava frio", podemos dizer "estava frio, nos aproximamos do fogo". A lógica fica implícita. Porém, existem algumas conjunções que ficam difíceis de substituir: que, se, ou, qual, quanto, como, etc. Normalmente, as conjunções coordenativas, que ligam duas orações independentes, são dispensáveis, enquanto as conjunções subordinativas, que unem uma oração principal a uma subordinada, não podem ser retiradas sem causar confusão.
 
Depois disso, você precisa escolher que pronomes você vai usar. Nas línguas românicas, prefere-se flexionar o verbo ao invés de usar pronomes pessoais, como "vi-lo" em vez de "eu vi ele". Se você vai flexionar ou deixar palavras separadas, como eu já disse, depende do sistema de escrita. Se a sua língua for sintética, o melhor é conjugar o verbo e deixar os pronomes de lado, mas se sua língua é analítica você vai precisar dos pronomes. Você pode criar vários pronomes pessoais diferentes para distinguir gênero, número, formalidade, se é uma pessoa, um animal ou um objeto. Lembre-se também que existem outros pronomes além dos pessoais, como "que", "isso", "esse", "algum", "nenhum", "todos", "outro", etc.
 
O passo seguinte é decidir como serão os números. Os nossos números são baseados em dezenas, por causa que temos dez dedos nas duas mãos. A base dez é a mais falada no mundo, mas as bases dois, oito, doze, dezesseis e vinte também são populares. Os sumérios criaram a base 60, que é usada hoje para medir o tempo e os ângulos. Essa base é muito útil porque o 60 tem muitos divisores, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 10, 12, 15, 20, 30 e 60, o que facilita bastante as contas. A única desvantagem é ter que aprender todos os 60 números, mas isso não é tão difícil. Em uma língua de base dez, o normal é ir contanto até o dez, então depois do dez vem "dez-um", "dez-dois", "dez-três", e assim vai. Porém, existem várias outras maneiras de contar. O número quarenta e três, por exemplo, pode ser escrito "quatro-três", "três-e-quarenta", "quatro-dez-três" ou "oito-cincos-e-três". Algumas línguas dão aos números nomes relacionados ao processo de contar com as mãos. Por exemplo, cinco pode ser "mão", onze pode ser "desce-aos-pés" e vinte pode ser "homem".
 
=== Síntese ===
 
A próxima coisa a decidir é como você vai indicar coisas como número, caso, gênero, etc. Podemos fazer essa transformação de várias formas, como vimos anteriormente. Podemos flexionar a palavra ou pegar uma nova palavra e fundir as duas, aglutiná-las ou deixar as duas separadas. Ao contrário do português, muitas línguas não flexionam os adjuntos de acordo com o substantivo, simplesmente porque não é necessário indicar a condição do nome que o adjunto está caracterizando se ela já está indicada no próprio nome.
 
Vamos começar a pensar na flexão de número. Normalmente, é necessário indicar se o substantivo está no singular ou no plural em um idioma. Mas não precisamos disso em todos os casos. No mandarim, por exemplo, quando a gente fala em um número grande e indefinido de coisas, não usamos nenhum afixo. Pelo contrário, quando estamos nos referindo a um número preciso de coisas, precisamos indicar isso com uma espécie de palavra auxiliar, chamada de quantificador. A dor de cabeça no mandarim é que, por algum motivo, os substantivos não são todos quantificados da mesma forma. Existem vários quantificadores diferentes, ou seja, quando você aprende uma palavra nova também precisa aprender como quantificá-la.
 
'''Kevin zài chōng huā.'''
 
'''Kevin agora rega flores.'''
 
Em algumas línguas, como o árabe, {{Busca|gaélico}} e {{Busca|lituânio}}, existe também o número dual, que indica um conjunto de duas coisas. Certos idiomas não indicam o dual no substantivo, mas possuem um pronome dual. No português, quando falamos "nós", não se sabe se estamos falando de "eu e tu", "eu e vós", "eu e ele" ou "eu e eles". Pronomes duais podem ajudar nesse sentido.
 
A próxima coisa a decidir é o caso. Nós não indicamos a condição de caso no português, mas essa flexão já existiu em algumas línguas antigas, como o [[latim]], o {{Busca|sânscrito}} e o grego. Ela ainda está presente no Russo, por exemplo, e também foi incorporada ao Esperanto. Ela indica qual é a função do nome, o que permite que a ordem da frase seja quebrada. Muitas pessoas odeiam os casos, pois são desnecessários e tornam a língua bem mais difícil. Naquele nosso exemplo, "Kevin" está no caso nominativo, pois está exercendo a função de sujeito, realizando a ação, enquanto "flor" está no caso acusativo, pois está exercendo a função de objeto, sofrendo a ação.
 
Em seguida, você precisa decidir se os substantivos da sua língua terão gêneros. Claro, substantivos como "homem", "mulher, "cavalo" e "égua" podem facilmente ser classificados como masculinos ou femininos, mas fica mais complicado quando se decide fazer isso com os objetos, como faz o português, o alemão e o francês. Não faz muito sentido dizer se objetos inanimados são masculinos ou femininos, mas esse hábito persistiu na nossa língua ao longo do tempo. Nem sempre os gêneros são feminino e masculino. Em várias línguas também existem gêneros para animais, seres humanos, seres abstratos, etc. Alguns idiomas podem ter até vinte gêneros.
 
Também é importante pensar em como serão os afixos para os nomes. No português, muitos deles são cheios de afixos de diferentes tipos.
 
*'''in'''capaz
*'''des'''ordem
*gordur'''oso'''
*confi'''ável'''
*ciné'''filo'''
*cinó'''fobo'''
*parana'''ense'''
*lenta'''mente'''
 
Claro que, se você estiver fazendo uma língua sintética, não vai usar afixos. A palavra "aspirador" ficaria "aquele-que aspira", por exemplo. Adicionar afixos ou pequenas palavras para mudar o significado de um nome é muito eficiente, pois isso poupa o trabalho de criar novas palavras. E quanto menos palavras, menores elas podem ser.
 
Depois de anotar quais palavras você quer, pode começar a construí-las. É bom tentar traduzir as palavras para várias outras línguas antes de inventar a sua. Naquele nosso exemplo, a tradução para o inglês do verbo "regar" é "water", que também pode significar "água". Assim, você poderia ter a idéia de criar uma mesma palavra para "regar" e "água". Pesquise também a etimologia das palavras. Quanto mais você conhecer das outras línguas, melhor será a sua. Crie figuras de linguagem, como "a todo vapor" ou "não ir com a cara de". Pesquisa também as expressões e ditados populares de outras línguas.
 
Lembre-se de que a história das palavras nem sempre é óbvia. Veja um exemplo: na {{Busca|Idade Média}}, a educação superior compreendia sete disciplinas. Estas eram divididas em dois grupos, o "trívium", que continha três disciplinas, e o "quadrívium" que continha as outras quatro. No quadrívium era ensinado aritmética, geometria, música e astronomia. Era considerado muito difícil, e temido pelos estudantes. Antes de chegar nele, tinha-se que passar pelo trívium, o básico, que era ensinado nos primeiros anos da faculdade, onde era estudado somente gramática, lógica e retórica. Daí vem a palavra "trivial", do português. Se você estiver construindo uma língua alienígena, invente também a história dos seus extraterrestres quando for construir palavras.
 
== Escrita ==
 
Obviamente, se você estiver construindo uma língua a posteriori, não é difícil pensar numa pronúncia e num alfabeto. Mas lembre-se de que, quando se trata de outros alfabetos pelo mundo, nem sempre a romanização é fiel à pronúncia real da palavra. Procure sites aonde você possa ouvir as palavras, caso você ainda não esteja familiarizado com alguma língua diferente. Por outro lado, se você está procurando uma língua alienígena, use os sons que você acha que mais combinam com a cultura que você está imaginando. J. R. R. Tolkien criou uma língua com mais vogais abertas e consoantes fortes para o Quenya, e reservou as vogais fechadas e consoantes suaves para o Sindarin.
 
O melhor modo de ter um panorama completo dos vários fonemas no mundo é através do alfabeto fonético internacional, feito especialmente para isso. Esse sistema contém todos os sons humanos. Visite o site http://www.yorku.ca/earmstro/ipa/ para ver e ouvir os sons dispostos em tabelas informativas.
 
Existem diversos tipos diferentes de alfabeto. O importante é não deixar as letras se confundirem umas com as outras. Tolkien não é um bom exemplo disso, porque as letras das suas línguas artificiais eram tão similares que os elfos provavelmente teriam que escrever seus livros com espaçamentos enormes para que as palavras não ficassem indistinguíveis.
 
Os alfabetos no Ocidente, que tiveram origem nas línguas do Oriente Médio, começaram com logogramas. Mas como essas línguas eram sintéticas, aos poucos os logogramas foram se transformando em letras. Por exemplo, a palavra "cobra" em egípcio antigo era "nun", e ele era representado com o desenho de uma cobra. Com o tempo, o "nun" começou a ser usado como letra, representando o fonema "n". A letra "nun" foi evoluindo, até virar uma linha bem torta, que lembrava vagamente uma cobra. Ela viajou até a Grécia, foi virada de lado, adaptada no alfabeto grego, e estava pronta a nossa letra "n". Você pode simular esse processo na hora de criar o seu alfabeto. Para criar o fonema "k", por exemplo, você poderia fazer o desenho de um cachorro e ir simplificando-o.
 
A direção com a qual se escreve não precisa ser sempre da esquerda para a direita. No árabe, é da direita para a esquerda e, no japonês, é de cima para baixo. Escrever na vertical não é muito recomendável para quem quer criar escritas cursivas, mas é mais fácil para ideogramas.
 
[[Image:Arabic albayancalligraphy.svg|thumb|250px|Um exemplo de texto árabe, um abjad impuro. (Lê-se "Al-Arabiyya", literalmente "o árabe".)]]
Em um alfabeto, cada letra representa mais ou menos um fonema. Porém, existem outros sistemas de escrita. Um deles é o '''abjad'''. Em um abjad, não existem vogais, somente as consoantes. Isso não é um grande problema. Note que, sem as vogais, mesmo assim é possível entender boa parte do português.
 
'''Kvn st rgnd s flrs.'''
 
O abjad mais conhecido é o alfabeto árabe, embora esse não seja um abjad puro, pois existe a vogal "a" no árabe. Se você quiser construir um abjad, é importante tomar certos cuidados. Não poderiam existir as palavras "bala" e "bolo" em um abjad, por exemplo, pois se você falasse "qr m bl, pr fvr", ninguém saberia se você está pedindo uma bala ou um bolo.
 
Há também o '''abugida''', que é um meio termo entre o abjad e o alfabeto. Em um abugida, existem vogais e consoantes. Cada consoante possui, subentendida, uma vogal padrão. Imagine um abugida hipotético onde essa vogal padrão seja "a". Para querer dizer "fato", se escreveria "fto". A letra "t" está seguida de um "o", para formar a sílaba "to", mas não foi preciso colocar o "a", pois ele já está subentendido na letra "f". O abugida é bastante prático pois economiza vogais sem atrapalhar a interpretação. Porém, existem poucos abugidas.
 
'''Kevin est regndo s flores.'''
 
Outra opção é o '''logossilabário''', constituído de logogramas. O mais conhecido é o chinês. Os logogramas tentam lembrar o significado que representam. Os chamados pictogramas são aqueles logogramas que representam uma coisa concreta e são parecidos com ela, enquanto os ideogramas são aqueles que representam idéias abstratas, e tentam se parecer com algo que lembre elas. Por exemplo, o ideograma "shàng", que significa "cima", lembra uma seta apontando para cima. Às vezes, no chinês, existem logogramas que são compostos de dois ou mais outros logogramas juntos. Porém, isso não se trata de uma fusão, pois o som do logograma composto não é semelhante ao dos logogramas que o formam. Como já foi mencionado, não existem fusões no chinês.
 
[[Image:katakana origine.svg|thumb|250px|O sistema japonês Katakana de escrita, em comparação com os caracteres originais chineses.]]
Por último, temos o '''silabário''', cujos exemplos mais famosos são os kana, usados no Japão. Cada símbolo representa uma consoante e uma vogal, formando uma sílaba, ou quase isso. Nos silabários, não existem semelhanças únicas entre os símbolos foneticamente semelhantes. A desvantagem é que você não pode escrever "hotel" com um kana, por exemplo. Você teria que escrever "ho-te-ru". É um sistema que economiza símbolos na hora de escrever, mas é pior na hora de falar. O kana japonês é derivado de ideogramas chineses, e ainda hoje existem alguns ideogramas na língua japonesa significando palavras inteiras.
 
== Texto ==
 
Depois que você praticamente já montou o funcionamento de sua língua, você precisa ir traduzindo vários textos, para ir pegando o jeito e criar todas as palavras necessárias para um bom diálogo. Faça um teste: tente traduzir o Pai Nosso. Essa oração tem vários dos componentes necessários para a construção da fala. Se você conseguir traduzi-la, então sua linguagem está praticamente pronta. Agora é simplesmente questão de ir aumentando o seu vocabulário. Pegue um mini dicionário e faça um para a sua língua. Continue traduzindo textos, pegue páginas de livros e traduza, em algum tempo você já terá uma linguagem completa. Não pare por aí, continue inventando outras línguas, com diferentes sons, sistemas de escrita e gramática. Construir idiomas pode ser o seu novo passatempo e, quem sabe, você não acaba criando uma língua famosa um dia?
 
{{Dados catalográficos