Português/Morfologia(2): diferenças entre revisões
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== Introdução ==
Modernamente, observamos que os alunos de 1º e 2º graus utilizam gramáticas em seu estudo da língua, mas para nossa preocupação, essas não possuem, quase sempre, base científica por não se basearem em estudos lingüísticos.
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Acreditamos ser este trabalho de profunda relevância, pois permitirá aos profissionais da área uma reflexão acerca dos conteúdos hoje ministrados em nossas escolas e a necessidade de se criar manuais que possibilitem um melhor ensino de morfologia, objetivando um melhor aproveitamento de nossos discentes.
== A morfologia e seu estudo ==
Ao formularmos a pergunta "para que se dá aulas de português a falantes nativos do português?" (Travaglia, 1996, pág. l7), encontraríamos, por certo, respostas diferentes, de acordo como o professor ministra seus conteúdos.
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a) quanto à sua estrutura e formação;
b) Quanto às suas flexões;
c) Quanto à sua classificação." (Almeida, 1983, pág. 80)
"Disciplina que se ocupa do sistema morfológico da língua, do aspecto formal das palavras, vem do grego morphê+log(os)+ia= tratado, estudo das formas.
Distinguem-se duas morfologias:
1) A propriamente dita, morfologia em sentido restrito (...), que se ocupa
de problemas gramaticais, flexões, etc.;
2)
problemas lexicais, como estrutura, formação e sentido das palavras, etc.
segundo a NGB, a morfologia trata das palavras:
a)
b)
c) Quanto a sua classificação. (Luft, 1989 pág. 71)
Como vemos, as duas definições, de Almeida e Luft, não diferem quanto ao campo de estudo da morfologia, utilizam o termo palavras ao invés de vocábulos e pregam a norma estabelecida pela NGB (sem contestação), o que nos leva a deduzir serem as gramáticas prescritivas meros modelos de reprodução, sem nenhuma postura crítica.
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Já os lingüístas diferem bastante dos gramáticos prescritivos e entre si, no conceito e campo de estudo da morfologia. Observemos alguns conceitos de lingüístas:
"A morfologia trata da estrutura e dos processos de flexão e formação das palavras. Cabe-lhe ainda, segundo as gramáticas, a tarefa de classificar os vocábulos" (Monteiro, 1991, pág. 203)
"A gramática tradicional distinguia a morfologia da sintaxe, de acordo com o critério das dimensões relativas dos significantes. Assim, caberia à sintaxe estudar as construções superiores à palavra (locuções, frases, etc.), nas quais a palavra fosse a unidade constituinte mínima) e caberia à morfologia efetuar o estudo das construções cujos constituintes mínimos fosse palavras, ou partes de palavras (sufixos, raízes, etc.) . Os lingüístas da atualidade (...) apontam as sobreposições freqüentes entre os dois setores e recusam-se a distingui-los; a sintaxe, para eles, começa a partir do encontro de dois morfemas (parecer de Pottier), e seria mais apropriado falar-se nesse caso, em morfossintaxe".
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O nosso estudo não se prenderá aos morfemas, mas ao aspecto das chamadas classes gramaticais, que no entender da lingüística deve ser abordado numa perspectiva semântica e funcional, abrangendo uma parte da sintaxe.
== Classes e funções das palavras ==
Como vimos, a grande preocupação dos lingüistas é tornar o estudo da gramática mais racional e crítico, embasado em teorias que possibilitem um conhecimento da língua a partir de sua estrutura funcional e semântica.
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Luís Antônio Sacconi expõe em sua gramática uma classificação independente das classes gramaticais, intitulada palavras e locuções denotativas e a elas não atribui classe gramatical nem função sintática. São dezoito tipos, assim distribuídos:
- Adição. Ex.: A senhora não trabalha e ainda reclama!?
- Afastamento. Ex.: Vou embora
- Afirmação. Ex.: Com certeza você já sabe das minhas intenções.
- Aproximação. Ex.: Esse rapaz já é quase doutor.
- Coincidência. Ex.: Logo eu fui ser escolhido.
- Continuação. Ex.: Ora, o acusado se diz pai da criança. Em sendo pai da
- Distribuição. Ex.: cada paixão é, a princípio, como um mendigo; em seguida, como um hóspede e, finalmente, como o dono da casa.
- Exclusão. Ex.: Ela olhou só para mim, apenas para mim.
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- Retificação. Ex.: Foram assaltados por um mascarado, aliás, por dois.
- Seleção. Ex.: Gosto do Brasil, principalmente da Bahia.
- Situação. Ex.: Mas quem é essa pessoa que insiste em falar comigo
(Sacconi, 1990-adaptação, pág. 120/124)
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Ernani Terra só admite duas flexões para o substantivo: o gênero e o número; entretanto estuda o grau no mesmo item destinado à flexão dos substantivos sem nenhuma referência a alguma classificação diferente, provocando confusão e até incoerência em seu pensamento.
== As classes dos vocábulos ==
O nome, tanto quanto o verbo, é um vocábulo que possui semantema, por isso, classifica-se como palavra. Se tivéssemos o semantema am-, poderíamos Ter o nome o amo (senhor) ou o verbo eu amo; o que caracteriza principalmente o nome são as suas desinências (de gênero e/ou de número), da mesma forma, o verbo é caracterizado por suas desinências (modo-temporal e/ou número-pessoal).
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Para nós, o que existem realmente são três classes gramaticais, sendo o nome, representado pelas desinências de gênero e de número, o verbo, representado pelas desinências modo-temporal e número-pessoal, e o pronome, com seu sentido dêitico.
== As funções do vocábulo ==
Para iniciar essa discussão, cumpre-nos dizer que as funções exercidas pelas classes dos vocábulos dependem de um critério sintático, das relações sintagmáticas e paradigmáticas exercidas .
Por relação sintagmática, vejamos essa definição:
"A dependência que existe entre dois elementos seqüenciais de uma mesma cadeia chama-se relação (dependência, função) sintagmática (de sintagma: conjugado de duas unidades consecutivas onde o valor de cada um se define por relação ao valor da outra)." (Lopes,1995, pág. 88)
Por paradigma, Lopes, baseado nos estudos de Mattoso Câmara Jr., diz:
"Um paradigma é uma classe de elementos que podem ser colocados no mesmo ponto de uma cadeia, ou seja, são substituíveis ou comutáveis". (Lopes,1995, pág.
O substantivo é, numa relação sintagmática, o elemento e o adjetivo, o elemento determinante, senão vejamos:
percebe-se que "menino", dentro do sintagma nominal, é determinado por "pobre", que é determinante; portanto, "menino" é um substantivo e "pobre", um adjetivo. Se antepusermos o vocábulo "este" ao sintagma nominal, obtém-se:
onde, novamente, "menino" é determinado, só que agora por dois determinantes: "este", que estabelece coordenadas geográficas, e "pobre", que situa o seu nível sócio-econômico, portanto, "este" e "pobre" são adjetivos e "menino" é o substantivo.
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Engana-se, porém, quem acredita que os pronomes só podem ser termos determinantes (adjetivos); numa construção como:
"Não disse um isto de prosa" (Graciliano Ramos).
"isto" é determinado por "de prosa" e por "um", funcionando como substantivo, tendo as formas "de prosa" e "um" função de adjetivo. Em
:este é meu
"este" é determinado por "meu", sendo este substantivo e "meu", adjetivo.
== Classe e função ==
Conforme observamos, não se pode confundir classe gramatical com função. As classes gramaticais são obtidas pelas desinências características ou pelo sentido dêitico, enquanto que a função é obtida pelo critério sintático, de acordo com a função exercida pelo vocábulo no sintagma, pela relação entre os termos da frase.
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a) Substantivo
Para a NGB, é a classe que designa os seres em geral, ou "O substantivo é o nome de todos os seres que existem ou que imaginamos existir". (Sacconi, 1990, pág. 124)
Primeiro, o substantivo não é classe, mas função, e, segundo, o que são seres? Em "isto não está certo", isto é um ser? É um nome de um ser que existe ou imaginamos existir?
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O substantivo é pois um termo que dentro de um sintagma nominal é determinado por um adjetivo, como por exemplo,
onde bonita determina menina, que é substantivo. Em
isto é determinado pelo adjetivo certo, com circunstância negativa, funcionando como substantivo.
b) Adjetivo
Para a NGB, adjetivo é a palavra que expressa qualidade "É a palavra (...) que caracteriza o substantivo, indicando-lhe qualidade, estado, modo de ser ou aspecto". (Terra, 1991)
Critica-se, aqui, o estudo do adjetivo dentro das classes de palavras, quando, na verdade, o adjetivo, tanto quanto o substantivo, são funções. No sintagma meninas bonitas, encontramos nos dois vocábulos a mesma desinência de gênero -a- e a mesma desinência de número -s. Tais desinências caracterizam os vocábulos pertencentes à classe dos nomes. O que difere as duas palavras é sua relação funcional, onde bonita caracteriza e menina é caracterizada, exercendo bonita a função de adjetivo e menina a função de substantivo.
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Terra (1991), em sua gramática, tentando dar um cunho mais didático e abrangente, tentou captar semanticamente todas as significações do adjetivo, o que complica ainda mais o seu estudo, uma vez que não preenche todas as funções semânticas, já que o gramático não leva em consideração os eixos sintagmático e paradigmático.
c
Para a NGB, "Artigo é a palavra que serve para determinar ou indeterminar o substantivo". (Saviolli,1994, pág. 273)
Causa-nos estranheza a classificação do artigo como palavra, uma vez que o mesmo não possui valor semântico próprio, não possui sequer um semantema, sendo, apenas, um vocábulo. Estranha-nos, ainda, sua classificação como artigo, uma vez que não passa de um pronome, visão amplamente defendida por José Lemos Monteiro, em livros e artigos.
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d) Numeral
De acordo com um gramático tradicional, numeral "é a palavra que dá idéia de número". (Sacconi, 1990, pág. 168)
Essa definição parece-nos bastante limitada, uma vez que pode ser perigoso criar uma classe por transmitir idéia de. Nesse caso, criaríamos uma classe denominada de passado, por dar idéia de passado (velho, antigo, anterior, antes, etc.).
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Concebemos uma visão diferente da NGB com o numeral desempenhando uma função e pertencendo a uma classe por critérios estruturais, como nas frases abaixo:
I-
II-
Na frase I, dois funciona como determinante de homens, sendo, portanto, adjetivo; na frase II, dois é determinado por par, sendo, portanto, substantivo. Logo, os numerais da NGB devem ser classificados como pertencentes à classe dos nomes, com função de substantivo ou adjetivo, e não como numerais.
e) Pronomes
Para a NGB, "Pronome é a palavra que substitui ou acompanha um substantivo (nome), em relação às pessoas do discurso (...) pronomes substantivos são aqueles que substituem o substantivo; pronomes adjetivos são aqueles que acompanham o substantivo." (Sacconi, 1990, pág, 171)
Embora já tenhamos abordado o assunto pronome no item dedicado ao "artigo", cumpre-nos aqui observar um erro de nomenclatura, face à não separação dos gramáticos tradicionais entre classe e função, onde, como já assinalamos anteriormente, o pronome é uma classe, pelo seu caráter dêitico, que pode Ter a função de substantivo (isto é incrível) ou de adjetivo (este menino é incrível).
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f) Verbo
Para a NGB, "Verbo é a palavra que, por si só, indica um fato (em geral ação, estado ou fenômeno) e situa-o no tempo". (Ferreira, 1992, pág)
Qualquer estudante reconhece um verbo na frase, mas a NGB insiste em conceituar "classes" de palavras por um critério semântico isolado, sem relação distintiva com outras palavras.
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g) Advérbio
Para os gramáticos tradicionalistas, o "advérbio é a palavra invariável que modifica essencialmente o verbo, exprimindo uma circunstância".
(Sacconi, 1990, pág, 252)
Essa definição carece de propriedades, uma vez que o advérbio pode estar relacionado com o adjetivo ou com outro advérbio.
Percebe-se que, na frase I, o advérbio muito está relacionado ao adjetivo feliz, enquanto que na frase II, muito está relacionado ao advérbio cedo, que por sua vez está relacionado ao verbo cheguei.
Mas o grande problema de se classificar o advérbio como classe é não se entender a diferença entre classe e função. Como já vimos anteriormente, a classe gramatical é identificada por critérios mórfico e semântico, ou seja, seu quadro desinencial e seu valor semântico.
Se analisarmos a frase
:Eu cheguei cedo
percebemos que o elemento cedo determina o verbo chegar, que determina o sujeito eu. Pode-se dizer que cedo situa eu cheguei no tempo, servindo como sinal, nada simbolizando, sendo, portanto, um pronome. Os símbolos (nomes) não podem ser retirados da frase ou substituídos, sob pena de não mais haver o significado, diferente dos sinais (pronomes), que são situacionais.
Quanto à função, essa é de natureza sintática. Vejamos, então, a frase:
observamos que menino é determinado por este e por inteligente, sendo menino um substantivo e este e menino, adjetivos. Entretanto, muito determina inteligente, que possui função adjetiva, sendo um elemento terciário, ou simplesmente advérbio. O advérbio é, portanto, um elemento terciário, que determina um termo determinante, como na frase:
onde menino é determinado pelo adjetivo o e pelo verbo saiu. Já o verbo saiu é determinado pelo advérbio de madrugada, que o situa no tempo.
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Daí conclui-se que o advérbio não é uma classe, mas uma função, pertencente à classe dos pronomes.
h) Preposição e
Observemos duas definições dadas pelo gramático Savioli (1994), de acordo com a NGB:
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Colocamos preposição e conjunção no mesmo item por não considerarmos que exerçam função ou possuam classe gramatical. Na verdade, são conectivos que ligam vocábulos ou orações, dando relação subordinativa (o livro de Pedro/quero que venhas) ou coordenativa (eu e você/fui e voltei).
i) Interjeição
Sobre a interjeição, já falamos no início deste estudo e não consideramos classe de palavras, mas frases de situação, como: viva! Valha-me Deus!
== Conclusão do trabalho ==
Como se percebeu, os nossos livros "didáticos" passam para o nosso aluno uma gramática geralmente desprovida de fatos científicos. As classes gramaticais estudadas atualmente não correspondem ao que realmente são e, pior ainda, não se estabelece uma diferença entre classe e função.
Por
Por função, entendemos as relações que se processam nos eixos sintagmático e paradigmático, dependendo da sua função dentro do contexto frasal, e podem ser: substantivo, adjetivo e advérbio.
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Entendemos que os graduados em letras devam Ter essas teorias discutidas em sua plenitude crítica para que os mesmos possam representar uma esperança de, num futuro muito próximo, tenhamos professores com maior senso crítico em relação ao material didático utilizado e com maior compromisso com o conteúdo ministrado.
== Bibliografia ==
ALMEIDA, Napoleão Mendes de (1983). Gramática metódica da Língua Portuguesa. 32ª ed. São Paulo, Saraiva.
CABRAL, Leonor Scliar (1979). Introdução à Lingüística. 4ª ed. Porto Alegre, Editora Globo.
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________ (1977) Princípios de Lingüística Geral. 5ª ed. Rio de Janeiro, padrão.
COUTINHO, Ismael de Lima (1976). Pontos de gramática histórica. 7ª ed. Rio de Janeiro, Ao Livro Técnico.
FERREIRA, Mauro (1992). Aprender e Praticar Gramática. São Paulo. Ed. FTD.
LUFT, Celso Pedro (1989). Novo Manual de Português: Gramática, Ortografia oficial, Redação e Literatura. 5ª ed. Rio de Janeiro. Ed. Globo.
MONTEIRO, José Lemos (1991). Morfologia Portuguesa. 3ª ed.. Campinas-SP, Pontes.
___________ (1978). Caráter pronominal do Artigo em Português. In: Revista de Letras. V.1, nº 2. Fortaleza, UFC.
SACCONI, Luís Antônio (1990). Nossa Gramática: teoria. São Paulo, Atual.
SAVIOLI, Francisco Platão (1994). Gramática em 44 lições. São Paulo, Ática.
SILVA, Luiz Antônio da (1989). O Nome e seus Determinantes. 4ª ed., São Paulo, Editora Atual.
TERRA, Ernani (1991). Curso Prático de Gramática. São Paulo, Ed. Scipione.
TRAVAGLIA, Luiz Carlos (1996). Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. 1ª ed. São Paulo, Cortez editora.
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