A Cidade do Rio de Janeiro no Século XVII/A Cidade Desce o Morro: diferenças entre revisões

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No início do século dezessete, a cidade do Rio de Janeiro começou a descer o morro do Castelo, no qual havia se instalado no século anterior e começou a ocupar a várzea que ficava localizada entre quatro grandes morros: o morro do Castelo, o morro de Santo Antônio, o morro de São Bento e o morro da Conceição.
[[File:Rio-Masse1713.jpg|center|700px|thumb|Mapa do Rio de Janeiro, delimitado pelos quatro morros]]
O morro do Castelo, também chamado morro do Descanso, morro de São Januário, alto da Sé ou alto de São Sebastião, havia sido ocupado no século anterior. Lá, já se localizavam a igreja de São Sebastião, a casa da câmara e cadeia, a casa do governador e a igreja dos jesuítas e o colégio de São Sebastião, pertencente aos padres jesuítas. A estrutura defensiva que o protegia era constituída por muralha (de taipa, pedra e entulho) e fosso com 1.408 metros de extensão, por um forte no alto do morro (o reduto de São Januário, também conhecido como fortaleza de São Sebastião do Castelo) e por um forte no porto, o forte de São Tiago. O forte de São Tiago, após sucessivas ampliações e reformas, daria origem ao atual prédio do Museumuseu Históricohistórico Nacionalnacional. A construção de tais estruturas defensivas havia sido iniciada no século dezesseis pelo governador Mem de Sá, mas só veio a ser concluída no início do século seguinte pelo governador Martim Correia de Sá (1602-1608). Deveu-se ao aspecto militar gerado por esta estrutura defensiva a designação popular de morro do Castelo<ref>http://www.marcillio.com/rio/encechil.html</ref>.
[[File:Franz Josef Frühbeck Rio de Janeiro San Sebastian.jpg|center|400px|thumb|Antiga Sé, no alto do morro do Castelo]]
[[File:Victor Meirelles - Estudo para Panorama do Rio de Janeiro - c. 1885.jpg|center|400px|thumb|Morro do Castelo]]
[[File:2005 f santiago rj.jpg|center|300px|thumb|Museu Históricohistórico Nacionalnacional. Em primeiro plano, os resquícios do forte de São Tiago.]]
O morro do Castelo se ligava ao engenho do rei às margens da lagoa de Amorim Soares (atual lagoa Rodrigo de Freitas) pelo caminho do Catete (atual rua do Catete), trilha indígena que acompanhava o rio Catete e que já existia desde antes da chegada dos portugueses à região. Aliás, o idioma predominante na cidade e em todo o Brasil, nessa época, era a língua tupi, chamada de língua geral. A língua portuguesa só iria prevalecer no Brasil no século seguinte, com a descoberta de ouro nas minas gerais, com o aumento da imigração portuguesa, com a expulsão dos padres jesuítas do Brasil por ordem do Marquês de Pombal e com a proibição da língua tupi no Brasil pelo mesmo marquês. Os jesuítas, até então, monopolizavam o ensino no Brasil, ensino este que era transmitido em língua tupi.
[[File:Rua do Catete (2).jpg|center|300px|thumb|Rua do Catete em foto de 2009]]
Entre 1602 e 1608, no primeiro mandato de Martim Correia de Sá como governador da capitania do Rio de Janeiro (era a primeira vez que um natural da terra ocupava o posto), foi construído o fortim de Santa Cruz, na várzea entre os quatro morros da cidade. Mais tarde, no segundo mandato de Martim, o fortim foi substituído pela primeira igreja de Santa Cruz dos militares.
 
Em 1609, a atual lagoa Rodrigo de Freitas se chamava lagoa de Amorim Soares, mesmo nome do proprietário das terras ao redor da lagoa. A região era ocupada pela cultura da cana-de-açúcar. Nesse ano, as terras foram vendidas para Sebastião Fagundes Varela, que passou a ter a posse de toda a região desde o atual bairro do Humaitá até o bairro atual do Leblon. A lagoa então passou a se chamar lagoa do Fagundes. No mesmo ano, teria sido construída uma pequena ermida em homenagem a Nossa Senhora da Candelária por um casal de espanhóis que havia miraculosamente se salvado do naufrágio do navio ''Candelária''. Essa ermida seria posteriormente ampliada, vindo a constituir-se na atual igreja de Nossa Senhora da Candelária.
[[File:Lagoa Rodrigo de Freitas.jpg|center|400px|thumb|Lagoa Rodrigo de Freitas]]
Em 1618, foi construído o forte de São Teodósio no local onde Estácio de Sá havia fundado a cidade, no século anterior<ref>http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/hrsxvii.htm</ref>.
 
Em 1619, os frades da ordem do Carmo foram autorizados a iniciar a construção de uma igreja no lugar de uma antiga ermida dedicada a Nossa Senhora do Ó à beira-mar. Para a construção, foram utilizadas pedras da ilha das Enxadas na baía de Guanabara. Com o tempo, a cidade foi aterrando a região em frente à igreja, originando assim a futura praça Quinze de Novembro<ref>http://www.jblog.com.br/rioantigo.php</ref>.
 
[[File:Igreja de São Francisco Xavier do Engenho Velho.jpg|center|300px|thumb|Igreja de São Francisco Xavier do Engenho Velho]]
Em 1624, o temor de um ataque holandês à cidade levou à construção de uma fortaleza na ilha das Cobras, ao lado do morro de São Bento: a fortaleza de São José da ilha das Cobras.
 
Em 1624, foi construída a capela de São Gonçalo em Jacarepaguá, que existe até hoje<ref>http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/hrsxvii.htm</ref>.
 
Em 1627, os padres jesuítas construíram a igreja de São Cristóvão, que viria a dar origem ao atual bairro homônimo. Na época, a igreja ficava à beira-mar, situação que viria a ser alterada posteriormente devido aos inúmeros aterros<ref>http://rio-curioso.blogspot.com/2008/09/igreja-de-so-cristvo.html</ref>.
Em 1633, começaram as obras da igreja dos monges beneditinos no morro de São Bento, o qual havia sido doado aos monges no final do século anterior. Os monges eram procedentes da Bahia.
 
Em 16351634, foi construída uma pequena e rústicaa igreja no alto de um rochedo, dedicada a Nossa Senhora da Penha de FrançaConceição, porno iniciativaalto do Capitão Baltazar de Abreu Cardoso. Esta igreja, com escadaria cavada na pedra, viria posteriormente a nomear o bairromorro da Penha.Conceição<ref>http://www.riopedagogiaemfoco.rj.govpro.br/riotur/pt/atracao/?CodAtr=3905hrsxvii.htm</ref>.
 
Em 1635, foi construída uma pequena e rústica igreja no alto de um rochedo, dedicada a Nossa Senhora da Penha de França, por iniciativa do Capitão Baltazar de Abreu Cardoso. Esta igreja, com escadaria cavada na pedra, viria posteriormente a nomear o bairro da Penha.<ref>http://www.rio.rj.gov.br/riotur/pt/atracao/?CodAtr=3905</ref>.
O porto era o utilizado pelos jesuítas e se localizava no local atual da praça quinze de novembro. Em 1637, a imagem de Nossa Senhora do Bonsucesso foi trazida de Portugal e instalada na Igreja da Misericórdia, na Santa Casa da Misericórdia, na base do Morro do Castelo. Por este motivo, a igreja mudou sua denominação para Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso.<ref>http://www.marcillio.com/rio/enceprma.html</ref>.
 
O principal porto da cidade era o utilizado pelos jesuítas e se localizava no local atual da praça quinze de novembro. Em 1637, a imagem de Nossa Senhora do Bonsucesso foi trazida de Portugal e instalada na Igrejaigreja da Misericórdia, na Santasanta Casacasa da Misericórdia, na base do Morromorro do Castelo. Por este motivo, a igreja mudou sua denominação para Igrejaigreja de Nossa Senhora do Bonsucesso.<ref>http://www.marcillio.com/rio/enceprma.html</ref>. No mesmo ano, os vereadores da cidade decidiram transferir a casa da câmara e cadeia do morro do Castelo para a várzea entre os quatro morros da cidade<ref>http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/hrsxvii.htm</ref>.
[[File:Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso, entrada enfeitada para um casamento.jpg|center|300px|thumb|Fachada da igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso]]
[[File:Interior da Igreja de Nossa Senhora do Bonsucesso, visto do coro alto (6).jpg|center|300px|thumb|Interior da igreja da Nossa Senhora do Bonsucesso]]
Em 1639, o temor novamente de um ataque holandês levou à reforma da fortaleza na Ilhailha das Cobras, que passou a se chamar fortaleza de Santa Margarida da ilha das Cobras, em homenagem à vice-rainha de Portugal, Margarida de Saboia.
 
Em 1641, João de Souza Pereira Botafogo foi morar na enseada de Francisco Velho, que havia sido batizada em homenagem a um companheiro do fundador da cidade Estácio de Sá. A partir de então, a enseada passou a chamar-se enseada de Botafogo<ref> http://www.solardebotafogo.com.br/index.htm</ref>. No mesmo ano, a cidade comemorou a coroação de D. João V como rei de Portugal com a encenação de uma peça no largo do paço<ref>http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/hrsxvii.htm</ref>.
 
Em 1644, foi criada a freguesia de Irajá<ref>http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/hrsxvii.htm</ref>.
[[File:Brasao-irajario.jpg|center|300px|thumb|Brasão de Irajá. A abelha se refere ao significado de "irajá": "o mel brota", em tupi.]]
[[File:IgrejaNSApresentacao.jpg|center|300px|thumb|Igreja de Nossa Senhora da Apresentação, construída em 1613 e em torno da qual se desenvolveu o bairro de Irajá]]
Em 1645, uma expedição chefiada por Francisco de Souto Maior partiu da cidade para lutar contra a dominação neerlandesa de Angola<ref>http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/hrsxvii.htm</ref>.
 
Em 1648, uma frota de quinze navios com mil e quatrocentos homens sob o comando de Salvador Correia de Sá e Benevides, filho de Martim Correia de Sá, partiu da cidade com destino a Angola e São Tomé e Príncipe, na África. O seu objetivo era recuperar essas possessões portuguesas, então sob controle neerlandês. A população da cidade financiou a expedição com a quantia de sessenta mil cruzados. Com o sucesso da missão, o dinheiro reverteu à cidade. Durante todo o século, a cidade teve papel destacado na luta contra as invasões neerlandesas na África e no nordeste brasileiro<ref>http://www.marcillio.com/rio/hisxviis.html#ang</ref>. Salvador Correia de Sá e Benevides fazia parte da família do fundador da cidade, Estácio de Sá. A família Sá possuía extensas plantações de cana da região do atual bairro de São Conrado<ref>http://www.marcillio.com/rio/ensconra.html</ref>.
Como consequência da revolta da cachaça, a produção de cachaça foi finalmente liberada, resultando em desenvolvimento econômico da região e aumento do comércio com Angola, onde a cachaça era trocada por escravos.
[[File:NavioNegreiro.gif|center|400px|thumb|Interior de navio negreiro]]
Em 1671, o português Antônio Caminha esculpiu uma imagem de Nossa Senhora da Glória e a colocou numa ermida de taipa no alto de um morro no começo da praia de Uruçumirim (atual praia do Flamengo). Tal ermida daria origem, no século seguinte, à igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro<ref>http://www.jblog.com.br/rioantigo.php</ref>. No mesmo ano, terminaram as obras da igreja de Nossa Senhora de Montserrat, no morro de São Bento. Ligando os morros do Castelo e de São Bento, formou-se a rua Direita, que é a atual rua Primeiro de Março<ref>http://www.marcillio.com/rio/enceprma.html</ref>.
[[File:DeSinety1841.jpg|center|350px|thumb|Igreja de Nossa Senhora de Montserrat no alto do Morro de São Bento]]
[[File:Rugendas - Vue prise devant l'eglise de San-Bento.jpg|center|450px|thumb|Morro de São Bento. Ao fundo, o morro do Castelo]]
Em 1673, foi criada a freguesia de Campo Grande<ref>http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/hrsxvii.htm</ref>.
Em 1676, com a criação da diocese do Rio de Janeiro, a igreja de São Sebastião, no morro do Castelo, tornou-se a catedral, ou sé, da cidade.
 
Em 1676, com a criação da diocese do Rio de Janeiro, a igreja de São Sebastião, no morro do Castelo, tornou-se a catedral, ou sé, da cidade. Também foi criada a freguesia de Guaratiba<ref>http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/hrsxvii.htm</ref>.
Em 1679, a lagoa que se localizava no sopé do morro de Santo Antônio foi aterrada, dando origem ao atual largo da Carioca. Para a drenagem da lagoa, foram abertos uma vala e um cano para escoamento da água, dando origem às ruas da Vala e do Cano, respectivamente, atuais ruas Uruguaiana e Sete de Setembro.<ref>http://www.marcillio.com/rio/encecari.html e http://www.marcillio.com/rio/encerbe1.html</ref>
[[File:Praiagrande1.JPG|center|300px|thumb|Praia grande, em Barra de Guaratiba]]
Em 1679, a lagoa que se localizava no sopé do morro de Santo Antônio foi aterrada, dando origem ao atual largo da Carioca. Para a drenagem da lagoa, foram abertos uma vala e um cano para escoamento da água, dando origem às ruas da Vala e do Cano, respectivamente, atuais ruas Uruguaiana e Sete de Setembro.<ref>http://www.marcillio.com/rio/encecari.html e http://www.marcillio.com/rio/encerbe1.html</ref>.
 
Nessa época, grande parte da população branca da cidade era composta por cristãos-novos, ou seja, judeus convertidos à força ao Cristianismo. Porém, como a repressão religiosa era branda, os cristãos-novos continuaram a manter suas tradições religiosas judaicas, ao lado das práticas cristãs<ref>http://www.rumoatolerancia.fflch.usp.br/node/105</ref>.
 
Por volta de 1680, o tesoureiro da sé, o padre Clemente Martins de Matos, comprou terrenos no atual bairro de Botafogo e nomeou o morro que limitava sua propriedade como Dona Marta, em homenagem a sua mãe, que havia falecido alguns anos antes<ref>http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/rj/conheca+a+origem+dos+nomes+de+algumas+favelas+do+rio/n1237967511709.html</ref><ref>http://www.favelatemmemoria.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=36&sid=3</ref>.
 
Uma interessante rua da cidade nessa época era a rua dos Ourives, que concentrava grande quantidade desses profissionais que trabalhavam a prata trazida legal ou ilegalmente do Peru (durante grande parte do século, Portugal esteve unido à Espanha através da união ibérica. Isso favoreceu os intercâmbios comerciais através do continente, pois diminuiram os controles fronteiriços entre a América portuguesa e a espanhola<ref>http://educaterra.terra.com.br/voltaire/500br/uniao_iberica.htm</ref>). Hoje, a rua tem o nome de Miguel Couto<ref>http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.marcillio.com/rio/centro/arb/cerbeouv.jpg&imgrefurl=http://www.marcillio.com/rio/encerbes.html&usg=__ZdkcN8tnwphKwi9EEG731gCrub8=&h=315&w=216&sz=34&hl=pt-BR&start=5&zoom=1&um=1&itbs=1&tbnid=DtxnRjB4XMgEKM:&tbnh=117&tbnw=80&prev=/images%3Fq%3Drua%2Bdo%2Bouvidor%26um%3D1%26hl%3Dpt-BR%26sa%3DX%26tbs%3Disch:1</ref>.
 
Em 1695, uma esquadra francesa comandada por De Gennes que explorava o Atlântico sul foi bombardeada pelas fortalezas da cidade<ref>http://www.pedagogiaemfoco.pro.br/hrsxvii.htm</ref>.
 
Em 1696, foi inaugurada a igreja de São Francisco da Prainha, no morro da Conceição. Como o nome diz, na época, a igreja se localizava à beira-mar. Atualmente, com os sucessivos aterros, a igreja se localiza bem distante do mar<ref>http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=996117</ref>.
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