Civilização Tupi-Guarani/História: diferenças entre revisões

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Em suas migrações através da América do Sul, os macrotupis eram orientados por líderes religiosos, os pajés, que lhes prometiam um paraíso ao final da jornada: a chamada "terra sem males" (em guarani, ''yvy marae''<ref>http://www.tekoamboytyitarypu.site90.com/index.php?news&nid=9</ref>).
[[File:Xamã guarani.jpg|thumb|Pajé guarani]]
No século XVI, com a chegada dos colonizadores europeus, alguns povos macrotupis, como os temiminós e os tabajaras, se aliaram aos portugueses, enquanto outros, como os potiguares e os tamoios, se aliaram aos franceses. Os carijós e os guaranis se aliaram aos espanhóis. Porém o resultado era sempre o mesmo: destruição das aldeias indígenas, escravização, doenças trazidas pelos europeus, fuga das populações indígenas para o interior do continente e para os aldeamentos criados pelos padres jesuítas (as "reduções" ou "missões", onde os índios eram catequizados e perdiam muito de sua cultura indígena). Um importante fator que estimulou a escravização dos índios foi a falta de mulheres entre os europeus que chegavam à América. Com isto, o ataque a aldeias indígenas e o apresamento de índias tornou-se uma saída para a obtenção de mulheres. Os filhos dessas uniões, chamados de mamelucos, por sua vez, também tomavam parte nas expedições escravizadoras de índios em direção ao interior do continente, as chamadas "entradas e bandeiras"<ref>http://www.red.unb.br/index.php/emtempos/article/view/2668/2217</ref>.
[[File:Oscar Pereira da Silva - Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500.jpg|thumb|Quadro de Oscar Pereira da Silva retratando o desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500. Os primeiros índios contatados pelos portugueses no Brasil foram os tupiniquins.]]
[[File:Tibiriçá.jpg|thumb|Tibiriçá, líder tupiniquim aliado dos portugueses na região da atual cidade brasileira de São Paulo, a qual teve origem num aldeamento jesuítico]]
Os índios macrotupis reagiram contra essa política de escravização ou fugindo para o interior do continente ou atacando as povoações portuguesas no Brasil. Uma importante rebelião macrotupi contra os portugueses foi a confederação dos Tamoios, que reuniu os tupinambás desde Cabo Frio, no atual estado brasileiro do Rio de Janeiro, até Bertioga, no atual estado brasileiro de São Paulo, de 1554 a 1567. Os tamoios (termo que vem do tupi ''tamuya'', "velho") eram liderados por Cunhambebe e, posteriormente, por Aimberê<ref>http://www.staff.uni-mainz.de/lustig/guarani/lingua_tupi.htm</ref>. Reflexos dessa confederação puderam ser encontrados no episódio da França Antártica, quando a França tentou criar uma colônia na baía de Guanabara e aliou-se aos índios tamoios locais. A colônia francesa acabou por ser destruída pela aliança entre portugueses e índios tupiniquins e temiminós, episódio que culminou nas fundações das cidades do Rio de Janeiro (1565) e Niterói (1567). A confederação dos Tamoios só veio a ser destruída totalmente em 1567, na guerra de Cabo Frio, com o ataque português ao último reduto tamoio nessa localidade do litoral fluminense e com a morte do líder tamoio Aimberê.
[[File:Quoniambec.jpg|thumb|Cunhambebe, líder tamoio, retratado por André Thevet no século XVI]]
Muitos europeus dos séculos XVI e XVII que viveram durante algum tempo no continente americano descreveram os hábitos dos índios macrotupis em livros que se tornaram ''best sellers'' no continente europeu, como o alemão Hans Staden, os franceses Jean de Léry, André Thevet e Claude d'Abbeville, os portugueses Pero de Magalhães Gândavo e Gabriel Soares de Sousa e o florentino Américo Vespúcio.
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[[File:Anônimo - Episódios da vida de Diogo Álvares Correia, o Caramuru (II).JPG|thumb|Pintura no mosteiro de São Bento da Bahia retratando a chegada de Diogo Álvares Correia à Bahia no século XVI]]
No litoral brasileiro, o aumento da imigração portuguesa por causa da descoberta de ouro no Brasil no final do século XVII, a expulsão dos jesuítas (que mantinham escolas onde o tupi era o idioma usado no ensino) do Brasil e a proibição do uso do idioma tupi no Brasil pelo marquês de Pombal (ambos em 1759) determinaram a progressiva redução da influência do tupi na região até sua substituição total pelo português como língua franca ao longo do século XVIII. No entanto, sua influência permaneceu sob a forma de um expressivo vocabulário de topônimos (Piratininga, Itaipu, Ubatuba etc.) e de nomes de animais e vegetais (jacaré, jabuti, jabuticaba etc.), bem como na forma de uma língua portuguesa com pronúncia, tempos verbais e colocações pronominais diferentes dos de Portugal.
[[File:Louis-Michel van Loo 003.jpg|thumb|Retrato de 1766 do marquês de Pombal, por Louis-Michel van Loo e Claude-Joseph Vernet]]
[[File:Jabuticaba2.jpg|thumb|Jabuticaba (''Myrciaria'' sp.). "Jabuticaba" é uma palavra tupi que significa "comida de jabuti"<ref>http://dicionariorapido.com.br/jabuticaba/</ref>.]]
[[File:Ipanema.png|thumb|Praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. "Ipanema" vem do tupi ''upá'-nem-a'', que significa "lagoa fedorenta". O nome é uma referência ao antigo proprietário da região: o barão de Ipanema<ref>http://www.fflch.usp.br/dlcv/tupi/os_pronomes_pessoais_continuacao.htm</ref>.]]
Em 1822, o Brasil se tornou independente de Portugal. Isso fez com que a nova nação se voltasse para a cultura indígena como símbolo de sua autonomia. Uma das consequências desse surto nacionalista foi a criação do gentílico "carioca" (termo tupi que significa "casa de cascudo", "casa de branco"<ref>http://blognorio.wordpress.com/2010/08/10/mais-curiosidades-sobre-a-baia-de-guanabara/</ref> ou "casa de carijó"<ref>http://www.fflch.usp.br/dlcv/tupi/tempo_nomina_em_tupi.htm</ref>) para os naturais da cidade do Rio de Janeiro, em 1834 e a alteração do nome da Vila Real da Praia Grande para Niterói (outro nome tupi, significando "água escondida") em 1835. Esse interesse pela cultura indígena como símbolo do jovem país também se refletiu na literatura romântica brasileira do século XIX. O poeta brasileiro Gonçalves Dias (1823-1864) escreveu vários poemas com temática tupi, como ''I-juca-pirama'' (1851) e ''Os timbiras'' (1857). Embora este último apresente um título equivocado, pois os timbiras pertencem, na verdade, ao grupo linguístico macrojê. Na obra, Gonçalves Dias descreve típicos costumes dos índios tupis, imputando-lhes erroneamente aos timbiras<ref>http://pib.socioambiental.org/pt/povo/timbira</ref>. Em 1857, José de Alencar escreveu ''O guarani'', clássico da literatura brasileira que tem como protagonista o índio guarani Peri<ref>ALENCAR, J. ''O guarani''. Adaptação de André Carvalho. Belo Horizonte: Itatiaia, 1964. p.141</ref> (ainda que o autor, contraditoriamente, o qualifique como um índio goitacá, em outra passagem do livro<ref>ALENCAR, J. ''O guarani''. Adaptação de André Carvalho. Belo Horizonte: Itatiaia, 1964. p.142</ref>). Em 1865, Alencar escreveu ''Iracema'', na qual a protagonista era uma índia tabajara. Em 1874, lançou ''Ubirajara'', baseando-se em costumes tupis. O final do livro descreve uma batalha de duas tribos tupis contra uma tribo tapuia<ref>ALENCAR, J. ''Ubirajara''. São Paulo: Ática, 1996. pp. 61-70</ref>.
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[[File:Oswald de andrade 1920.jpg|thumb|Oswald de Andrade]]
Em 19 de abril de 1940, índios de todo o continente americano se reuniram na cidade mexicana de Pátzcuaro para debater a situação dos povos indígenas americanos. Desde então, a data passou a ser comemorada como o dia do índio<ref>http://brincandocomarte.blogspot.com/2011/04/surgimento-do-dia-do-indio.html</ref>.
[[File:SanAgustinPatz.JPG|thumb|Praça de Gertrudis Bocanegra, em Pátzcuaro, em Michoacán, no México. A cidade foi o palco do encontro indígena que resultou na criação do dia do índio, em 1940.]]
Em 1944, o distrito de Caçador, no município de São Pedro do Turvo, em São Paulo, no Brasil, mudou sua denominação para Ubirajara, título da obra de José de Alencar e que significa, traduzido do tupi, "senhor da lança"<ref>http://www.ubirajara.sp.gov.br/a_cidade/p_historia.asp</ref><ref>http://www.triboeletrica.blogspot.com/</ref>. Atualmente, o distrito é um município independente.
[[File:Ubirajara.PNG|thumb|Brasão do município paulista de Ubirajara]]
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Em 1978, foi lançado o filme brasileiro ''Anchieta - José do Brasil'', dirigido por Paulo César Saraceni. O filme narrava a vida do padre jesuíta José de Anchieta e contava com diálogos em tupi<ref>http://www.meucinemabrasileiro.com.br/filmes/anchieta-jose-do-brasil/anchieta-jose-do-brasil.asp</ref>.
[[File:Paulo cesar saraceni.jpg|thumb|Paulo César Saraceni, que dirigiu o filme brasileiro ''Anchieta'']]
[[File:Latorraca28122006.jpg|thumb|Ney Latorraca, que interpretou Anchieta no filme]]
Em 1979, o diretor Fauzi Mansur lançou mais uma versão para os cinemas do romance ''O guarani''.