Civilização Tupi-Guarani/História: diferenças entre revisões

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No litoral brasileiro, o aumento da imigração portuguesa por causa da descoberta de ouro no Brasil no final do século XVII, a expulsão dos jesuítas (que mantinham escolas onde o tupi era o idioma usado no ensino) do Brasil e a proibição do uso do idioma tupi no Brasil pelo Marquês de Pombal (ambos em 1759) determinaram a progressiva redução da influência do tupi na região até sua substituição total pelo português como língua franca ao longo do século XVIII. No entanto, sua influência permaneceu sob a forma de um expressivo vocabulário de topônimos (Piratininga, Itaipu, Ubatuba etc.) e de nomes de animais e vegetais (jacaré, jabuti, jabuticaba etc.), bem como na forma de uma língua portuguesa com pronúncia, tempos verbais e colocações pronominais diferentes dos de Portugal.
 
Em 1822, o Brasil se tornou independente de Portugal. Isso fez com que a nova nação se voltasse para a cultura indígena como símbolo de sua autonomia. Uma das consequências desse surto nacionalista foi a criação do gentílico ''carioca'' (termo tupi que significa ''casa de cascudo'', ''casa de branco''<ref>http://blognorio.wordpress.com/2010/08/10/mais-curiosidades-sobre-a-baia-de-guanabara/</ref> ou ''casa de carijó''<ref>http://www.fflch.usp.br/dlcv/tupi/tempo_nomina_em_tupi.htm</ref>) para os naturais da cidade do Rio de Janeiro, em 1834 e a alteração do nome da Vila Real da Praia Grande para Niterói (outro nome tupi, significando ''água escondida'') em 1835. Esse interesse pela cultura indígena como símbolo do jovem país também se refletiu na literatura romântica brasileira do século XIX. O poeta brasileiro Gonçalves Dias (1823-1864) escreveu vários poemas com temática tupi, como ''I-juca-pirama'' (1851) e ''Os timbiras'' (1857). Embora este último apresente um título equivocado, pois os timbiras pertencem, na verdade, ao grupo linguístico macro-jê. Na obra, Gonçalves Dias descreve típicos costumes dos índios tupis, imputando-lhes erroneamente aos timbiras<ref>http://pib.socioambiental.org/pt/povo/timbira</ref>. Em 1857, José de Alencar escreveu ''O guarani'', clássico da literatura brasileira que tem como protagonista o índio guarani Peri<ref>ALENCAR, J. ''O guarani''. Adaptação de André Carvalho. Belo Horizonte: Itatiaia, 1964. p.141</ref> (ainda que o autor, contraditoriamente, o qualifique como um índio goitacá, em outra passagem do livro<ref>ALENCAR, J. ''O guaraniGuarani''. Adaptação de André Carvalho. Belo Horizonte: Itatiaia, 1964. p.142</ref>). Em 1865, Alencar escreveu ''Iracema'', na qual a protagonista era uma índia tabajara. Em 1874, lançou ''Ubirajara'', baseando-se em costumes tupis. O final do livro descreve uma batalha de duas tribos tupis contra uma tribo tapuia<ref>ALENCAR, J. ''Ubirajara''. São Paulo: Ática, 1996. pp. 61-70</ref>.
 
Os jesuítas foram igualmente expulsos da América Espanhola em 1768, causando a decadência das missões jesuíticas que se haviam transferido para a margem oeste do Rio Uruguai.<ref>http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/companhia-de-jesus/missoes-jesuitas-4.php</ref> Mas, no Paraguai, a língua guarani continuou a ser falada pela população, juntamente com o castelhano. Mesmo após um período de proibição da língua durante a ditadura do general Alfredo Stroessner, em meados do século XX.
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Em 17 de julho de 1873, o Ministério de Agricultura, Comércio e Obras Públicas do Império Brasileiro decretou o fim das aldeias indígenas no Brasil, sob o argumento de que não existiriam mais índios no país. Isso significou que as terras ocupadas pelos índios brasileiros passaram a ser consideradas legalmente sem dono e, portanto, passíveis de compra através de leilão público<ref>http://plantasenteogenas.org/community/threads/kariri-xoc%C3%B3-o-povo-da-sagrada-jurema.4376/</ref>.
 
A partir do final do século XIX, começou a ocorrer a migração de tribos guaranis do sul da América do Sul para o litoral brasileiro, num processo que continua até hoje<ref>http://www.ubatuba.com.br/indios.asp</ref><ref>http://www.tekoamboytyitarypu.site90.com/index.php?p=1_2_Aldeia</ref>. Isso resultou na legalização de alguns territórios indígenas guaranis no sudeste brasileiro, como a aldeia Krukutu e o território Tenondé Porá, na cidade de São Paulo<ref>http://www.culturaguarani.org.br/historia.htmlos</ref> e as aldeias de Sapukai, Parati-mirim, Araponga, Saco de Mamonguá e Rio Pequeno, no litoral oeste do estado do Rio de Janeiro<ref>http://www.aldeiaguaranisapukai.org.br/guarani/artigo_historia_guarani_brasil_domingos_nobre.pdf</ref>.
 
Em 1910, foi criado o primeiro órgão do governo brasileiro voltado para a questão indígena: o Serviço de Proteção ao Índio.
 
Em 1911, o escritor brasileiro Lima Barreto lançou a obra ''Triste fim de Policarpo Quaresma'', onde o protagonista propunha alterar o idioma oficial brasileiro do português para o tupi, argumentando que o tupi era o verdadeiro idioma brasileiro: o português seria um idioma emprestado dos portugueses, o que implicaria na eterna subserviência brasileira aos gramáticos portugueses. Na obra, o personagem era ridicularizado como sendo um louco visionário e internado num hospício.
 
Em 1920, ocorreu uma adaptação de ''O guarani'' para o cinema<ref>ALENCAR, J. ''Ubirajara''. Décima segunda edição. São Paulo: Ática, 1996. ''Vida e obra'': p. 13</ref>.
Na década de 1920, o movimento artístico modernista no Brasil se interessou pela cultura indígena brasileira como uma expressão da mais autêntica cultura brasileira. Exemplos desse interesse modernista pela cultura indígena são: o quadro ''Abaporu'' (termo em tupi que significa "homem que come gente"), pintado em 1928 pela pintora Tarsila do Amaral e que é atualmente o mais caro quadro de pintor brasileiro; a famosa frase do escritor Oswald de Andrade, ''tupi or not tupi: that's the question'' ("tupi ou não tupi: essa é a questão"), que está presente na sua obra ''Manifesto antropófago'' de 1928 e a epopeia amazônica do escritor Raul Bopp, ''Cobra Norato'', lançada em 1931<ref>http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/analises_completas/c/cobra_norato</ref>.
 
Em 19 de abril de 1940, índios de todo o continente americano se reuniram na cidade mexicana de Pátzcuaro para debater a situação dos povos indígenas americanos. Desde então, a data passou a ser comemorada como o dia do índio<ref>http://brincandocomarte.blogspot.com/2011/04/surgimento-do-dia-do-indio.html</ref>.
 
Em 1944, o distrito de Caçador, no município de São Pedro do Turvo, em São Paulo, no Brasil, mudou sua denominação para Ubirajara, título da obra de José de Alencar e que significa, traduzido do tupi, ''senhor da lança''<ref>http://www.ubirajara.sp.gov.br/a_cidade/p_historia.asp</ref><ref>http://www.triboeletrica.blogspot.com/</ref>. Atualmente, o distrito é um município independente.
 
Em 1949, ocorreu uma adaptação de ''Iracema'' para o cinema<ref>ALENCAR, J. ''Ubirajara''. 12ª edição. São Paulo: Ática, 1996. ''Vida e obra'': p. 14</ref>.
 
Em 1967, a empresa de fabricação de papel e celulose Aracruz comprou uma área no estado brasileiro do Espírito Santo para plantar eucalipto. A área era reivindicada por índios guaranis e tupiniquins. A disputa judicial continua até hoje, com ocorrência de episódios violentos<ref>http://www.direitos.org.br/index.php?option=com_content&task=view&id=833&Itemid=2</ref>. No mesmo ano, o SPI foi substituído pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI).
 
Em 1970, estreou o filme brasileiro ''Como era gostoso o meu francês'', baseado nos relatos de Hans Staden e Jean de Léry sobre os índios tupis brasileiros do século XVI. O filme, reproduzindo os idiomas dos fatos históricos, era falado em português, em francês e em tupi.
Em 1976, foi lançada uma versão para os cinemas do romance ''Iracema'' com Helena Ramos no papel principal<ref>http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u690185.shtml</ref>.
 
Em 1978, foi lançado o filme brasileiro ''Anchieta - José do Brasil'', dirigido por Paulo César Saraceni. O filme narrava a vida do padre jesuíta José de Anchieta e contava com diálogos em tupi<ref>http://www.meucinemabrasileiro.com.br/filmes/anchieta-jose-do-brasil/anchieta-jose-do-brasil.asp</ref>.
 
Em 1979, o diretor Fauzi Mansur lançou mais uma versão para os cinemas do romance ''O guarani''.
 
Na década de 1980, ocorreu o primeiro contato oficial dos índios zoés com o homem branco. Os índios zoés vivem no Estado brasileiro do Pará, no município de Óbidos. Foi, talvez, a última vez que um grupo macrotupi isolado entrou em contato com o homem branco. Istou gerou iniciativas do governo brasileiro no sentido de estudar a cultura zoé e, ao mesmo tempo, de protegê-la de influências culturais externas que corrompessem sua pureza e sua originalidade<ref>http://www.revistaforum.com.br/conteudo/detalhe_materia.php?codMateria=3189</ref>.
 
Em 1985, foi lançado o filme brasileiro ''Avaeté - semente da vingança'', que se baseava no episódio real do massacre dos índios cintas-largas no noroeste do estado brasileiro de Mato Grosso<ref>http://www.epipoca.com.br/filmes_detalhes.php?idf=6799</ref>. Para interpretar os papéis indígenas, o filme utilizou índios da etnia rikbaktsa, que não pertencem ao grupo linguístico macro-tupi, mas sim ao grupo linguístico macro-jê<ref>http://pib.socioambiental.org/pt/povo/rikbaktsa/349</ref>.
 
Em 1986, estreou o filme inglês ''The mission'' ("A missão"), que retratava o episódio histórico das guerras guaraníticas. O filme ganhou a palma de ouro no festival de Cannnes e o oscar de fotografia<ref>http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=107</ref>.
 
Em 1989, o norte do estado brasileiro de Goiás se emancipou, adquirindo o nome de ''Tocantins''. O nome era inspirado no principal rio do novo estado, nome que, traduzido do tupi, significa ''bico de tucano'', de ''tukana'' (tucano) e ''tim'' (bico, nariz)<ref>http://www.fflch.usp.br/dlcv/tupi/vocabulario.htm</ref>. O brasão do novo estado também conteria uma referência à cultura tupi: em vez dos costumeiros lemas em latim, o lema inscrito no brasão do novo estado era em língua tupi. O lema é ''co yvy ore retama'', que significa ''esta terra é nosso país''.
 
Em 1991, o guarani adquiriu o ''status'' de língua oficial do Paraguai. Vale ressaltar, no entanto, que o guarani paraguaio sofreu muita influência da língua castelhana, diferenciando-se em vários aspectos do guarani falado pelos índios. Em graus mais extremos de mescla, o guarani paraguaio deu origem a uma língua mista chamada "jopará". Em 1995, o guarani adquiriu a condição de língua histórica do Mercosul devido à sua importância na formação dos países constituintes do bloco econômico. Em 2006, o guarani tornou-se língua oficial do Mercosul, juntando-se ao português e ao castelhano<ref>http://noticias.uol.com.br/ultnot/efe/2006/11/21/ult1808u79815.jhtm</ref>.
 
Em 1996, mais uma adaptação do romance ''O guarani'' foi lançada nos cinemas: desta vez, pela diretora brasileira Norma Bengell<ref>http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u690185.shtml</ref>.
 
Em 1999, estreou o filme luso-brasileiro ''Hans Staden'', narrando a passagem do mercenário alemão Hans Staden entre os índios tupi brasileiros do século XVI. Foi, talvez, o primeiro filme onde quase todos os diálogos eram falados em tupi.
 
Em 2002, o município brasileiro de São Gabriel da Cachoeira, no estado do Amazonas, declarou três línguas indígenas como línguas oficiais do município, juntamente com o português. Entre elas, o nheengatu<ref>http://www.ipol.org.br/imprimir.php?cod=83</ref>.
 
A partir de 2004, fazendas do sul do estado brasileiro da Baía, na região da Serra do Padeiro, nos municípios de Una, Ilhéus e Buerarema, começaram a ser invadidas por descendentes de índios tupinambás, que reivindicavam o direito à posse da terra. A violência dos confrontos obrigou a intervenção do governo federal. De um lado, os invasores defendiam que tinham o direito à terra que era anteriormente ocupada por seus ancestrais. De outro lado, os fazendeiros argumentavam que a ascendência indígena dos invasores era falsa<ref>http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI105873-15223,00-O+LAMPIAO+TUPINAMBA.html</ref><ref>http://es.globalvoicesonline.org/2010/05/13/brasil-el-arresto-a-un-lider-indigena-aumenta-la-tension-en-bahia/</ref><ref>http://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:0DBC8PnWD8IJ:www.cimi.org.br/pub/publicacoes/1260883649_Porantim%2520321-final.pdf+documentos+falsos+cacique+babau+revista+%C3%A9poca+una+buerarema,+ilh%C3%A9us,+Bahia,+tupinamb%C3%A1,+demarca%C3%A7%C3%A3o+reserva+ind%C3%ADgena&hl=pt-BR&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEESjxP9PKt1ZJ6eU8VgEVkK8vD1_SHeOLt8aXd8C_olqbrrW3KG5MZO0mNuiHMQ0Q-LRqM2CIuEWR3rMQOOcyq3wG0RQK5nUBOFGPeQjiVVbG2UMpyZtB-xIXHDsIe9RU7KU2XdNS&sig=AHIEtbSUcEmYouHgeUKgg4cVoR1vGpyizg</ref>. No mesmo ano, o professor brasileiro Eduardo de Almeida Navarro lançou um método moderno de aprendizagem da língua tupi antiga, o ''Método moderno de tupi antigo''<ref>NAVARRO, E. A. ''Método moderno de tupi antigo. Terceira edição. São Paulo: Global, 2005. p. 4</ref>.
 
Em 2008, índios guaranis procedentes de Parati, no estado brasileiro do Rio de Janeiro, ocuparam uma área com restos arqueológicos indígenas na praia de Camboinhas, em Niterói, no estado brasileiro do Rio de Janeiro. Após um incêndio criminoso, a aldeia foi reconstruída sob o nome de ''Tekoá MBoy-ty'' (traduzido do guarani, ''Aldeia de Sementes'')<ref>http://www.tekoamboytyitarypu.site90.com/index.php?p=1_2_Aldeia</ref>.
 
Em 2009, foi lançada a versão em língua guarani da Wikipédia<ref>http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI3485912-EI4802,00.html</ref>.
 
Em 2010, o município de Tacaru, no extremo sul do estado brasileiro do Mato Grosso do Sul, oficializou o guarani como idioma oficial do município junto com o português<ref>http://www.tvcultura.com.br/auwe/player/content/27972</ref>. No mesmo ano, índios guaranis caiouás da aldeia Pirajuí invadiram a fazenda São Luís, em Paranhos, no oeste do estado brasileiro de Mato Grosso do Sul, reivindicando a terra que haveria pertencido a seus ancestrais. O ministério público e a polícia federal brasileiros interviram no caso, buscando uma conciliação entre as partes envolvidas<ref>http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM1324585-7823-INVASAO+DE+FAZENDA+EM+MATO+GROSSO+DO+SUL+ACIRRA+ANIMOS+ENTRE+INDIOS+E+AGRICULTORES,00.html</ref>.
Em 2011, na cerimônia de abertura dos jogos mundiais militares no Rio de Janeiro, no Brasil, o privilégio de hastear a bandeira brasileira coube à Tenente Silvia Wajãpi. A tenente, cuja etnia wajãpi fala uma língua do grupo macro-tupi e habita a fronteira entre Brasil e Guiana Francesa, foi a primeira indígena brasileira a se formar como oficial das forças armadas brasileiras<ref>http://betopantanal.blogspot.com/2011/07/jogos-mundiais-militares-organizacao-da.html</ref><ref>http://pib.socioambiental.org/pt/povo/wajapi</ref>.
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File:Ruinas-saomiguel9.jpg|Crucifixo produzido na missão de São Miguel Arcanjo, na atual São Miguel das Missões, no Rio Grande do Sul, no Brasil