História da Europa/Era das Revoluções: diferenças entre revisões

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À esquerda, Marx era praticante da Realpolitik, defendendo as revoluções violentas entre o proletariado para poder instalar um novo sistema comunista.
 
==Revolução Industrial==
 
A mudança que precipitou muitos conflitos do inicio do século dezenove foi a Revolução Industrial. O crescimento industrial, base de muitos países europeus encorajava a urbanização, muitas vezes em detrimento das condições de vida dos trabalhadores.
 
Acrescente-se a isso as novas tecnologias agrárias que necessitavam de menos pessoas para trabalhar nos campos, produzindo um rendimento agrícola muito maior. Em alguns países isso precipitou uma revolução industrial, onde as industrias urbanas tiveram um papel cada vez mais dominante na economia.
 
Esse processo ocorreu primeiro na Grã Bretanha, Prússia e nos Países Baixos, no final do século 18 e início do século 19, enquanto outros países, como a França, Itália e os Estados Unidos da América só se tornaram industrializados no final do século 19.
 
Algumas nações como a Rússia e a Áustria, fracassaram na industrialização durante esse período, um fator que as levou a ter grandes dificuldades mais tarde, durante a Primeira Guerra Mundial.
A primeira evidência da produção industrial pode ser encontrada nas grandes cidades da jovem Europa moderna. Mesmo as capitais europeias de tamanho modesto, no inicio do período moderno possuíam uma especialização no comércio, conforme as cidades cresciam a produção aumentava e mudava de lugar, passava a ser feita em oficinas especializadas.
 
Comerciantes que antes tinham um ou dois aprendizes, começaram a contratar grupos maiores de funcionários, um processo que se transformou em emprego remunerado de mão de obra numa empresa industrial.
 
Mudança similar ocorreu nas áreas rurais, naquilo que ficou conhecido como indústria artesanal, onde os trabalhadores rurais usavam a matéria prima dos contratantes e com ela produziam bens para vender.
 
Contudo, todo esse desenvolvimento não poderia ir em frente sem um sistema de transporte apropriado, que permitisse carregar as mercadorias e colocá-las a venda. No início do século 18 o custo do transporte de mercadorias via terrestre era proibitivamente caro, só sendo usado para pequenas distâncias.
 
[[File:Marshall's flax-mill, Holbeck, Leeds - interior - c.1800.jpg |thumb|left|300px|operários e suas máquinas em Leeds 1800]]
 
A era da industrialização na Europa começou com pequenos progressos nos anos 1780, A parte oeste da Europa tendia a avançar mais rápido que os países do leste.
 
Inicialmente a Grã Bretanha tomou a frente, mas o progresso foi lento até por volta de 1850, porque grande parte do povo continuava a usar os velhos métodos e o aumento da população reduzia os benefícios da industrialização.
O resultado foi que a era industrial só começou na Europa continental após 1815 e não se completou na Grã Bretanha até 1850.
 
Em 1750, a Grã Bretanha estava pouca coisa na frente da França em produção industrial. Por volta de 1830, sua industrialização era duas vezes a da França e em 1860 era três vezes mais.
Outros países estavam um pouco atrás; muito do progresso europeu foi retardado pelas agitações políticas e sociais assim como pelo constante estado de guerra.
 
A industrialização também foi limitada pela falta de transporte adequado, pela relutância de abandonar as práticas comerciais tradicionais e pela falta de tecnologia.
 
Mais as coisas estavam mudando. ''O foguete de Stephenson'', (the rocket) foi um protótipo de locomotiva criado por George Stephenson que alcançava mais de 50 km por hora. Assim, puxava os vagões pelos trilhos de forma rápida permitindo o transporte de matéria prima, bens, pessoas e transformava a comunicação. A população crescia rapidamente através da Europa e finalmente foi inventada a máquina a vapor, que foi amplamente aprovada e permitiu a mecanização da indústria.
 
Por volta de 1815 a Europa continental começou a ver o progresso. Sua industrialização foi facilitada por uma mão de obra qualificada, governos fortes e pelo fato de não precisar desenvolver novas ideias, uma vez que, a Grã Bretanha já tinha testado e aprovado tudo, bastava que as outras nações a seguissem.
 
Os governos europeus se tornaram mais e mais envolvidos na industrialização, construindo infraestrutura para as ferrovias e canais. O governo alemão criou o ''Zollverein'', uma união de comércio livre de impostos, que permitia que os bens circulassem dentro dos estados alemães sem ficarem prejudicados pelas taxas.
 
[[File:William Bell Scott - Iron and Coal.jpg|thumb|right|300px|ferro e carvão por William Bell Scott]]
 
Os governos também tiveram seu papel com relação aos bancos permitindo que estes se tornassem corporações, como o Crédit Mobilier of Paris.
 
Por volta de 1851, a Grã Bretanha era a oficina do mundo. Possuia 2/3 de todo o carvão do mundo, e ½ do ferro. Centros de industrialização no continente incluíam a Bélgica, França e Alemanha.
 
==O impacto social da revolução industrial==
 
Esse movimento resultou em sérios problemas para as cidades porque a vida urbana estava cada vez mais difícil e não havia saneamento. O crescimento urbano e industrial se agigantou escapando do controle do governo.
 
Uma das reações ao estilo de vida sombrio foi o excesso de bebida do povo nas ruas, as cidades eram imundas e as condições de vida duras. A expectativa de vida era muito pequena, as doenças se espalhavam.
A qualidade de vida piorou para a maioria, com baixos salários e preços altos, as condições terríveis de trabalho e o uso das crianças como mão de obra.
Havia uma pequena parcela de pessoas, particularmente da classe média industrial e de trabalhadores urbanos que viviam bastante bem em meio a tudo isso.
Percebendo as condições deploráveis dos trabalhadores pobres nas cidades superlotadas, muitos economistas expressaram suas predições pessimistas para o futuro da sociedade industrial.
 
'''Thomas Malthus (1766–1834)''' - foi um economista inglês que fez uma previsão terrível para o futuro. ''Um ensaio sobre o principio da população'', afirmava que a população iria crescer mais do que o suprimento de alimentos, e que isso iria causar inevitavelmente uma grande fome, ou uma enorme falta de comida.
 
[[File:Portrait of David Ricardo by Thomas Phillips.jpg|thumb|left|200px|David Ricardo por Thomas Phillips]]
 
Malthus sugeriu, como solução para esse problema, que os casamentos se dessem tardiamente de modo a diminuir o aumento da população, mas não tinha esperanças que isso fosse se tornar realidade.
 
'''David Ricardo (1772-1823)''' - economista inglês nascido em Londres, criador da teoria da ''lei de ferro dos salários''. Ele predizia que os salários dos trabalhadores permaneceriam abaixo ou apenas ao nível da subsistência, a despeito de qualquer tentativa de aumentá-los.
 
A resposta das classes trabalhadoras à industrialização foram movimentos populares.
 
'''Ludismo''' - os ludistas eram um grupo de trabalhadores que se opunham aos efeitos da mecanização da indústria, particularmente das têxteis.
O advento em larga escala das máquinas de fiação e tecelagem, significava que os tecidos poderiam ser produzidos a custos mais baixos que antes. Isso significava dificuldades para a indústria artesanal dos tecelões de teares manuais.
 
Os ataques dos ludistas começaram em 1811 e se dirigiram às fábricas de maquinário e aos proprietários delas. As campanhas dos ludistas eram, em geral, dirigidas a formas específicas de maquinário e, apesar das conotações modernas do nome, o grupo não se opunha, em princípio, ao progresso.
 
O nome do grupo era derivado de seu líder fictício, Ned Ludd. Essa figura foi usada como ponto central para as manifestações, e para distrair a atenção dos líderes reais dos vários protestos.
 
Os ludistas foram seguidos, anos mais tarde pelos desordeiros Swing, que seguiam um líder mítico, o Capitão Swing, que se opunha à mecanização da agricultura. Os baderneiros Swing deram trabalho durante o inicio de 1830 e diversas vezes foram dominados de maneira vigorosa.
 
[[File:Opening Liverpool and Manchester Railway.jpg|thumb|right|300px|abertura da ferrovia Liverpool e Manchester]]
 
'''Sindicalismo''' - os ludistas foram, em essência, parte de um movimento reacionário, lutando contra a modernização dos métodos de produção. Uma alternativa e um método efetivo de ação, foi a organização dos trabalhadores em sindicatos, onde seus direitos podiam ser assegurados em negociações coletivas e ameaças de greve.
 
Embora esse tipo de movimento não fosse sempre ilegal, algumas de suas ações o eram. Por exemplo, era considerado crime que um trabalhador quebrasse seu contrato e grevistas podiam ser culpados por crimes relacionados a conspirações ou por perturbar a ordem pública.
 
Apesar de tudo isso, havia uma necessidade sustentada por parte dos trabalhadores, para que seus direitos fossem reconhecidos e suas campanhas persistentes, eventualmente conseguiram o reconhecimento legal dos governos.
 
'''Cartismo''' - foi o primeiro movimento político em larga escala da classe trabalhadora. ''A Associação Geral dos Operários de Londres'' escreveu metas de reforma numa carta, com seis pontos:
 
*Sufrágio universal masculino (o direito de todos os homens ao voto);
 
*Voto secreto através da cédula;
 
*Eleição anual para a Casa dos Comuns;
 
*Igualdade entre os direitos eleitorais;
 
*Participação de representantes da classe operária no parlamento;
 
*E que os parlamentos fossem remunerados.
 
 
Embora o Cartismo não apresentasse sucesso imediato em suas exigências, todos os pontos principais da carta, com exceção das eleições anuais, foram adotados no inicio do século 20.
 
==Sociedade e cultura==
 
Tantas mudanças que afetavam profundamente a vida das pessoas, eram motivo de estudo e novas teses. A cada instante surgiam novas máquinas, novos produtos, novos gostos, novas modas e paralelo a isso novas ideias econômicas e novos anseios de liberdade, nacionalismo e igualdade.
 
'''Capitalismo''' - a indústria na Grã Bretanha, no oeste da Europa e nos Estados Unidos se desenvolveram com um sistema chamado capitalismo. O capital era um meio de troca por bens ou serviços que eram valorizados. O sistema capitalista precisa do principio do ''laissez-faire'', ou seja, da mínima intervenção do governo.
 
[[File:Metternich (c. 1835-40).jpg|thumb|left|200px|Metternich]]
 
 
'''Republicanismo''' - defende a liberdade, fraternidade e igualdade, além de ser a favor das constituições, parlamentos e democracias. É o completo oposto da monarquia, aristocracia e da igreja. Os republicanos tendem a ser estudantes, escritores, membros da inteligentsia e também trabalhadores. Eram partidários da Revolução Francesa e seus ideais.
 
 
'''Liberalismo''' - ou liberalismo clássico, na época defendia o comércio livre, ''laissez faire'', as constituições, parlamentos e a não violência. Não defendia a democracia, mas uma monarquia constitucional. Os liberais tendiam a ser comerciantes da classe média e profissionais.
 
'''Conservadorismo''' - surgiu como reação às ideias liberais que começaram com a violência e o terror, com a desordem social da Revolução Francesa. Era a tendência apoiada pela classe governante tradicional assim como pelos camponeses. Os conservadores acreditavam na ordem da sociedade e do estado, baseados na fé e na tradição.
Metternich era o campeão do conservadorismo e tentou preservar seus ideais e o Velho Regime através do Sistema de Congresso. Os conservadores eram contra o iluminismo e seus efeitos, e eram anti revolucionários, anti democráticos e anti nacionalistas. Eles preferiam a tradição, reformas graduais e a manutenção do Velho Regime.
 
'''Socialismo''' - é em teoria um sistema de organização social, no qual a produção e a distribuição de bens é coletiva ou feita por um governo central. A ideia era combater a sociedade industrial que permitia que milhões trabalhassem sem descanso, enquanto uns poucos proprietários ficavam com os benefícios do trabalho.
 
Os socialistas argumentavam que o liberalismo estava fragmentando a sociedade e que o socialismo iria reuni-la. Após 1815, o socialismo se tornou uma nova doutrina radical, especialmente na França. Os socialistas lutavam para proteger os interesses dos trabalhadores e não dos capitalistas e argumentavam que a riqueza estava mal distribuída, que os trabalhadores mereciam uma parte maior.
O socialismo era uma filosofia política diferente e abrigava pontos de vista de pensadores variados, como Saint Simon, Fourier e Owen.
 
[[File:El Tres de Mayo, by Francisco de Goya, from Prado in Google Earth.jpg|thumb|right|350px|O Três de maio - Goya]]
 
'''Henri de Saint-Simon''' - acreditava que a elite da sociedade não tinha habilidade necessária para ser tão valorizada. Ele acreditava que as recompensas deveriam ser proporcionais para cada contribuição social, e que a sociedade deveria ser comandada por tecnocratas qualificados ou por uma elite tecnicamente habilitada.
 
'''Charles Fourier''' - era um comerciante francês, cujas experiências com a Revolução Francesa o levou a crer que o mercado livre e o capitalismo em geral, e a especulação em particular, eram danosos para o bem estar de todos. Sua solução foi sugerir uma economia planejada, baseada na ideia de comunidades conhecidas como ''falanstérios'' ou habitações de falanges. Seria um único prédio onde viveriam 1620 pessoas rodeado por 5 mil acres de terra.
Centralizando a produção, as pessoas teriam uma agricultura eficiente assim como uma indústria. Embora seus planos nunca tivessem sido postos em prática, seu socialismo utópico foi de grande influência entre os próximos pensadores.
 
 
'''Robert Owen''' - era um industrial escocês. Em suas fábricas em New Lanark na Escócia, ele provou que investir no bem estar dos empregados podia ser rentável. Ele construiu escolas, acomodações e a primeira cooperativa, para seus empregados. Com isso Owen foi recompensado com a lealdade e o trabalho duro dos empregados que estavam satisfeitos com a melhoria de vida. Suas fábricas se tornaram as mais produtivas e rentáveis da Grã Bretanha.
Owen, mais tarde investiu na comunidade de New Harmony nos Estados Unidos, mas eles não acreditaram na liderança de Owen e logo a experiência naufragou. Embora as comunidades de Owen não tivessem sobrevivido a ele, suas ideias foram de grande influência entre os seguintes socialistas, e o termo comunista foi originalmente cunhado para descrever os seguidores de Owen.
 
'''Karl Marx (1818-1883)''' - provavelmente o mais importante pensador socialista do século 19. Escritor alemão, a ascensão de Marx à fama começou no Ano das Revoluções, em 1848 com a publicação do ''Manifesto Comunista'', um volume que ele escreveu com a ajuda de Frederick Engels.
 
O livro era uma tentativa de criar tensão política entre as classes econômicas pelo mundo afora. Ele também escreveu ''O Capital'', uma critica ao capitalismo, que explica porque Marx acreditava que o capitalismo fracassaria.
Ele procurou incitar a violenta revolução do proletariado contra a burguesia. O proletariado seria a classe trabalhadora, enquanto que os burgueses seriam as classes média e alta que detinham os meios de produção. Essa revolução seria causada pelo que Marx descrevia como a luta de classes entre esses dois grupos. Após essa revolução, Marx queria uma sociedade sem classes, na qual a propriedade privada, religião e governo não existissem.
 
Também defendia o conceito do materialismo dialético. A teoria diz que a história é dirigida pelas condições econômicas e pela falta de igualdade com relação à propriedade material privada. Essa teoria foi baseada na teoria dialética de Hegel, na qual a tese e a antíteses são resolvidas pela síntese.
O final do conceito da história dialética de Marx é a síntese do comunismo, porque a propriedade privada é proibida. Marx acreditava que a ascensão do proletariado era inevitável, mesmo que ele nunca tivesse existido e nem escrito seu livro.
Isto é o que separa o marxismo do socialismo utópico – o socialismo utópico exigia a rendição benevolente e pacífica dos meios de produção pelos capitalistas.
 
[[File:Eugène Delacroix - La liberté guidant le peuple.jpg|thumb|left|350px|A liberdade guiando o povo – Delacroix]]
 
 
 
 
'''Utilitarismo''' - proposto por Bentham, sugeria que a melhor forma de governo era aquela que faça o melhor pelo maior número de pessoas. Sua doutrina é:
''Agir sempre de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar (Princípio do bem-estar máximo).''
 
 
'''Nacionalismo''' - foi gerado pelo império de Napoleão Bonaparte e enfatizava o orgulho pela língua, tradição, cultura e religião de cada nação. O nacionalismo causou conflitos relacionados com as fronteiras na Europa. Os nacionalistas estavam sempre procurando em contos folclóricos, poemas, cantigas, gramática e dicionários pelas fontes da cultura tradicional de uma nação. O nacionalismo cresceu de maneira especial na Alemanha, Itália, Irlanda, Polônia e Hungria.
 
 
 
Culturalmente, temos o movimento chamado romantismo, nas artes. Surgiu no final do século 18 e se estendeu pelo século 19, enfatizava a emoção, a imaginação, o drama, desordens e cores escuras.
A arte romântica cria obras com uma atmosfera de comunhão mística entre a arte e a natureza. Nas obras dos românticos, havia fantasia e heroísmo, valorizavam a emoção e a liberdade inclusive quando retratavam um fato real.
 
A Europa estava sob os efeitos das revoluções e das mudanças e nesse tipo de arte temos uma visão emotiva do mundo.
 
 
 
'''Francisco Goya (1746-1828)''' - Francisco José de Goya y Lucientes, foi um pintor espanhol muito importante do período romântico.
Talvez seu trabalho mais famoso seja ''Três de Maio, 1808 - A Execução dos Defensores de Madrid''. Nele retrata as Guerras Napoleônicas na Espanha, com um exército francês sem rosto atirando e matando os membros da resistência espanhola.
 
 
 
'''Delacroix (1798-1863)''' - Ferdinand Victor Eugène Delacroix foi o líder do romantismo francês na pintura. Suas técnicas influenciaram os outros pintores assim como o uso de cores, num trabalho profundamente marcado e expressivo do impressionismo e simbolismo.
Seu trabalho mais famoso é ''A liberdade guiando o povo''. Esse quadro é um dos marcos do romantismo e retrata a Revolução Francesa. Ele acreditava que a forma, e a imaginação, eram mais importantes que a razão.