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===O Estado Imperial===
Em ''650'', quando o governo da reforma tinha cerca de quatro anos, a ''China dos Tang'' se aliou ao reino coreano de ''Silla''. Para os japoneses, esse foi um sinal assustador da intenção da ''China'' de dominar a península coreana e possivelmente o ''Japão''. Essa aliança, seguida pelos avanços militares chineses, despertou preocupações no ''Japão'' que moldariam sua política governamental por décadas. Os efeitos podem ser detectados em três correntes que apontariam para as mudanças históricas desses anos. A primeira tinha um caráter militar e se manifestou numa resistência contra os avanços dos ''Tang'' na ''Coréia'' e, mais tarde, nas tentativas frenéticas de fortalecer as defesas do país contra a invasão. A segunda era uma corrente administrativa marcada por um uso extensivo de imigrantes e outras pessoas familiarizadas com as técnicas continentais. A terceira tomou a forma de tensão política interna que levou à ''Guerra Civil de 672'' e ao estabelecimento de um regime com a intenção de criar uma administração de estilo chinês no ''Japão''.
====A expansão Tang e a resposta do Japão====
A aliança de ''650'' entre ''Tang'' e ''Silla'' foi destinada a conquistar ''Paekche''. Para ''Tang'', as dificuldades enfrentadas em conquistar ''Paekche'' eram secundárias com relação prolongada guerra com ''Koguryo'' e, para ''Silla'', os problemas com ''Paekche'' não podiam ser desvinculados dos problemas com seus vizinhos, especialmente ''Koguryoto'', a noroeste, e o ''Japão'', do outro lado do ''Estreito de Tsushima''. No ''Japão'', as implicações da aliança eram ameaçadoras, levando a uma divisão entre os líderes sobre a questão de se o país deveria tomar medidas militares imediatas contra ''Silla'' ou simplesmente fortalecer suas defesas.
As linhas foram traçadas nitidamente em ''651'' quando embaixadores de ''Silla'' chegaram a ''Tsukushi'' a província rebelde da ilha de ''Kyūshū'', vestidos como oficiais da ''Dinastia Tang''. A ''Corte'' japonesa decidiu que a delegação de ''Silla'' deveria ser enviada de volta para casa, e o ''Sadaijin'' (ministro da esquerda, na época ''Kose no Tokuda'') dirigiu um memorial ao trono no qual defendia a preparação para a guerra:
''Se não atacarmos ''Silla'' agora, vamos nos arrepender. Devemos construir uma grande frota e lança-los no mar entre ''Naniwa'' e ''Tsukushi''. Então devemos convocar os embaixadores de ''Silla'' e exigir uma explicação para as ofensas que seu Estado cometeu. [Apoiado por tal demonstração de força], devemos então obter o que queremos''. <ref> Hakuchi 2 (651), NKBT 68. 317 </ref>
Mas nenhuma ação foi tomada. O príncipe herdeiro (''Príncipe Naka-no-Ōe-no-Ōji'', futuro ''Imperador Tenji'') e seus conselheiros - muitos dos quais tinham conhecimento em primeira mão da situação no continente - preferiram, em vez disso, fortalecer os laços diplomáticos com a ''Corte Tang''.
Depois de alguns meses, eles enviaram para a ''China'' uma missão diplomática dividida em dois grupos, que tomaram diferentes rotas: a primeira, composta de 121 pessoas, seguiu para Silla (a rota norte), e a segunda, com 120 a bordo, navegou pelo Mar da China Oriental (a rota do sul). O primeiro grupo chegou ao seu destino e retornou ao Japão no sétimo mês de ''654'', trazendo consigo várias pessoas que logo se tornaram ativas e proeminentes nos assuntos políticos e culturais do país.
Antes do retorno desse grupo em ''654'', uma segunda missão foi enviada a ''Corte Tang''. Foram enviados dois navios que seguiam para a China, via Silla, com autoridades que já haviam passado vários anos na China, incluindo ''Takamuko no Kuromaro'' (nomeado estudioso oficial durante a reforma do regime) e o sacerdote budista ''Yakushi no Enichi'' (o professor do filho de ''Fujiwara no Kamatari'' ). Quando esta missão chegou à capital ''Tang'' e apresentou suas mensagens e presentes, o ''Imperador Kaotsung'' (ou ''Gaozong'') cumprimentou-a com uma declaração que incluía estas palavras: “Seu país tem contato próximo com os estados coreanos de ''Silla'', ''Koguryo'' e ''Paekche''. Se alguma situação emergente ocorrer lá, você deve nos enviar um embaixador e pedir ajuda. ” <ref> Inoue, Asuka no Chotei, p. 348.</ref>
A declaração de ''Kaotsung'' sugere que interesses políticos, bem como culturais, levaram os membros da corte imperial do ''Japão'' a enviar esta segunda missão a ''Tang''. O ''Nihon Shoki''não nos informam se os japoneses que participaram desta missão ouviram falar de planos chineses para enviar expedições para a Coréia, de apoiar ''Silla'' e enviar uma força expedicionária contra ''Koguryo''.
O príncipe herdeiro e os ministros do ''Japão'' devem ter escutado, de uma forma ou outra, sobre a ''Aliança Tang-Silla'' e dos planos para uma ação militar conjunta contra ''Kogury''o, pois o príncipe decidiu em ''653'' abandonar o novo palácio imperial na cidade portuária de ''Naniwa'' e construir um novo na região de ''Asuka'' da planície de ''Nara''. O ''Imperador Kotoku'' se opôs a essa mudança, mas o príncipe herdeiro e os principais ministros da corte retiraram-se para ''Asuka''. Não temos registro de por que o imperador e o príncipe herdeiro tomaram posições diferentes sobre essa questão. Mas parece que o primeiro não viu muito perigo na situação externa e que o segundo (o futuro ''Imperador Tenji'') queria a capital em um lugar que pudesse ser mais facilmente defendida contra uma invasão estrangeira.
O ''Imperador Kotoku'' permaneceu em ''Naniwa'', mas morreu alguns meses depois. Embora o príncipe herdeiro estivesse na linha sucessória do trono, ele preferiu governar como príncipe herdeiro. Portanto, sua mãe, a ex-''Imperatriz Kogyoku'', foi entronizada pela segunda vez como ''Imperatriz Saimei''. Um novo palácio foi construído para ela, não em ''Naniwa'', mas no interior um local mais mais seguro como ''Asuka''. Este era o ''Palácio Futatsuki'' localizado no pico de uma montanha e cercado por muros de pedra, algo parecido com as fortalezas montanhosas da ''Coréia''. O ''Nihon Shoki'' explica que um novo canal teve que ser escavado para os duzentos barcos que foram usados para transportar pedras até o sopé da montanha onde as paredes de pedra do palácio estavam sendo construídas. A grande demanda por mão-de-obra e materiais fez com que as pessoas dissessem que o “canal foi construído por um coração tolo” e que, por mais fortes que sejam os fortes, acabarão caindo. <ref> Saimei 2 (656) NKBT 68 328-329</ref>
Esse descontentamento popular - possivelmente agravado pela política de apaziguamento do príncipe herdeiro, bem como por seus dispendiosos projetos de defesa - foi um fator para que ocorresse o ''Incidente Arima'' de ''658''. ''Príncipe Imperial Arima'', o filho mais velho do ''Imperador Kotoku'' com uma filha do ministro da esquerda (o ''Sadaijin Kose no Tokuta'') e tinha fortes reivindicações ao trono no momento da morte de seu pai em ''654''. Mas suas esperanças foram frustradas quando a mãe do príncipe foi empossada como ''Imperatriz Saimei''. O registro sugere que o ''Príncipe Arima'' também estava chateado com as misérias do povo e que ele foi atraído para uma conspiração contra o trono por ''Soga no Akae'', um neto de ''Soga no Umako'' e um proeminente líder do ''Clã Soga'' derrotado.
Enquanto ''Soga no Akae'' estava guardando o ''Palácio Futatsuki'' na ausência da Imperatriz, teria dito ao ''Príncipe Arima'' que o atual governo havia cometido três erros sérios. Primeiro, construiu grandes armazéns públicos onde a riqueza das pessoas estava sendo empilhada. Em segundo lugar, escavaram longos canais para construir o palácio nos quais a receita pública era desperdiçada. E terceiro, decidira transportar grandes rochas de barco para lugares altos nas montanhas. A primeira queixa apontava diretamente para a política de aumento da receita pública, mas as outras duas resultavam da política pós-653 de fortalecer as defesas contra uma possível invasão do exterior.
No início, tal conversa convenceu o príncipe de que chegara a hora de passos drásticos. Mas então o ''Príncipe Arima'' e ''Soga no Akae'' decidiram que a situação ainda não estava madura para a rebelião. Nesse ponto, ''Akae'' vazou o conteúdo da discussão para as autoridades do governo. O ''Príncipe Arima'' foi preso e estrangulado e seus principais financiadores foram exilados. Mas então as crônicas não dizem nada sobre punição para ''Akae''. De fato, ele foi logo designado para um cargo na distante ''Tsukushi'', mas, no início do reinado do ''Imperador Temmu'' em ''672'', tornou-se ''Sadaijin''. Ainda há muitas incertezas sobre o ''Incidente Arima'' de ''658'', mas existem relatos nas crônicas que sugerem que a construção de defesas contra uma possível invasão do exterior estava se transformando num fardo e despertando descontentamento.
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