Teoria dos conjuntos/Números ordinais

Nos capítulos anteriores foram apresentados os ordinais segundo von Neumann, e foram exibidas e demonstradas várias propriedades. Este capítulo sintetiza os resultados anteriores e apresenta novos resultados.

Ordinais editar

Conforme visto no capítulo Explorando os axiomas da extensão, separação, par e união, um ordinal segundo von Neumann é um conjunto α satisfazendo:

  • Existe uma relação bem ordenada ((α, α), R)
  • Esta relação satisfaz  
  • Todo elemento de α é um subconjunto de α (ou seja,  

Classificação dos ordinais editar

Vimos até agora dois tipos de ordinal:

  •   - o conjunto vazio
  • s(α) - o sucessor de um outro ordinal

Um terceiro tipo de ordinal, ordinal limite, é definido como um ordinal que não é nem o conjunto vazio nem o sucessor de outro ordinal. Ainda não vimos se existe, mas, se existir, este ordinal tem uma propriedade notável:

  • Seja α um ordinal limite. Então  .

Prova: já vimos anteriormente que   é um ordinal (ver Explorando os axiomas da extensão, separação, par e união). É imediato verificar que  . Suponha, portanto, que  , então mostraremos que α é um ordinal sucessor, o que completa a prova.

Mas se  , então temos que existe um elemento   tal que  . Mas vimos anteriormente (ver Axioma da potência) que  , Neste caso,   não pode ser elemento de α, portanto α = s(β).

A recíproca é obviamente verdadeira: se temos um ordinal α em que  , então obviamente α não é um ordinal sucessor (é imediato verificar que  , pois α é um elemento de s(α) mas não é um elemento de algum elemento de s(α)), então este ordinal é o conjunto vazio ou um ordinal limite.

A boa ordenação dos ordinais editar

O que foi visto até agora permite escrever as seguintes propriedades:

 
 

Por definição, se S for um conjunto não-vazio de ordinais contido em algum outro ordinal, então S possui elemento mínimo (considerando a relação de ordem total definida por  ).

Este fato pode ser generalizado: se S for um conjunto não-vazio de ordinais, então S tem um elemento mínimo.

Na verdade, podemos generalizar ainda mais: se Φ(x) for uma propriedade escrita na linguagem formal da teoria dos conjuntos através de uma fórmula bem formada, e existir algum ordinal α que satisfaça Φ(α), então existe um ordinal μ que é mínimo para Φ(x), ou seja, que, qualquer que seja x satisfazendo Φ(x) temos que x = μ ou  .

Informalmente, costuma-se dizer que uma propriedade Φ(x) que pode valer ou não valer conforme o conjunto x define uma classe; existem outras apresentações da teoria dos conjuntos em que o conceito de classe faz parte da teoria. Este teorema, então, diz que uma classe não-vazia de ordinais tem um elemento mínimo.

Note-se que este não é apenas um teorema: é um esquema de teoremas, e para cada fórmula Φ(x) temos uma nova versão do teorema.

Prova: suponha que a fórmula Φ(x) seja satisfeita para os ordinais α e β.

Então vamos formar os conjuntos (bem definidos, pelo Axioma da extensão):

 
 

Estes conjuntos são subconjuntos não-vazios de ordinais (por exemplo,  ), logo podemos tomar seus mínimos

 
 

Afirmação: a = b.

Prova: sem perda de generalidade, se a ≠ b, suponhamos que  . Neste caso, como  , pela transitividade,  , ou seja,  , contradizendo o fato de b ser mínimo.

Ou seja, se a fórmula Φ(x) é satisfeita por qualquer ordinal, então o mínimo de Φ(x) existe e não depende do ordinal escolhido, ou seja, ele existe e é único.