Acupuntura hoje/Bases teóricas/Medicina tradicional chinesa/Cinco elementos

A teoria dos cinco movimentos Wu Xing, (五行 wŭ xíng) ou cinco elementos grafados nos ideogramas que significam cinco (Wu) e "andar" (Hsing / Xíng), [1], [2] afirma que a madeira (木), o fogo (火), a terra (土), o metal (金) e a água (水), são os elementos básicos que formam o mundo material. Existindo uma interação e controle recíproco entre eles que determina seu estado de constante movimento e mudança. [3] Nessa teoria que estabelece um conjunto de matrizes, todas as coisas podem ser classificadas de acordo (em analogia) á estes elementos ou relações entre eles. (ver abaixo matriz aplicada à acupuntura)

Diagrama dos 5 elementos

De acordo com Ronan [4] historiador da ciência da Universidade de Cambridge, a teoria dos cinco elementos foi estabelecida e sistematizada pelo naturalista Tsou Yen (Zou Yan), entre 350 e 270 a.C. por esse mais destacado membro, por vezes chamado fundador do pensamento científico chinês, da Academia Chin Hsia (Zhi-Xia) do príncipe Hsuan (Xuan).

A acupuntura e medicina tradicional chinesa, como visto, pode e deve ser considerada como um complexo sistema etnomédico com milhares de anos de experiências práticas, com uma descrição narrativa própria (a exemplo do Livro do Imperador Amarelo) organizada em escolas com relações mestre - discípulo instituídas formalmente. Observe-se também como propôs o antropólogo Claude Lévi-Strauss (1908-2009), que o conhecimento mítico / empírico diverge das teorias científicas ocidentais por privilegiar a analogia em vez da identificação de contradições como na lógica formal. [5]

Como se sabe o ambiente natural, como as mudanças de tempo e as condições geográficas influenciam grandemente as atividades fisiológicas. Tal constatação, visível sobretudo nas epidemias sazonais de inverno (gripes, meningites) ou verão (diarreias), não passou despercebido à biomedicina nem à medicina tradicional chinesa. Segundo o Livro dos 4 Institutos (o.c.) esse reconhecimento, conecta a fisiologia e a patologia dos órgãos e tecidos classificados segundo a teoria do zang-fu, a muitos fatores ambientais e naturais. Esses fatores são classificados nas cinco categorias e são empregadas similaridades e alegorias para explicar os intrincados elos entre o ambiente externo (macrocosmos) e interno (psíquico / afetivo) como pode ser visto na tabela ao lado extraída do Livro dos 4 Institutos (o.c. p.41) muito comum nos diversos manuais de acupuntura.

Elemento Direção Cor Órgãos Zang Órgãos Fu Estação do ano Emoção
Madeira leste 東 verde Fígado (肝) Vesícula biliar (胆) Primavera (春 chūn) Raiva (怒 nù)
Fogo sul 南 vermelho Coração (心) Intestino delgado (小肠) Verão (夏 xià) Alegria (喜 xǐ )
Terra centro 中 amarelo Baço-pâncreas (脾) Estômago (胃) Canícula (天狼星) Preocupação (想 si)
Metal oeste 西 branco Pulmão (肺) Intestino grosso (大肠) Outono (秋 qiū) Tristeza (悲 bēi)
Água norte 北 preto Rins (肾) Bexiga (膀胱) Inverno (冬 dōng) Medo (恐 kǒng)
Diagrama chinês do "Wu Xing" indicando as relações de estimulação e inibição entre os elementos: madeira (木), fogo (火), terra (土), metal (金) e água (水)

A matriz ou diagrama dos cinco “elementos” estabelece simultaneamente comparações entre múltiplos códigos sensoriais e simbólicos referentes a observações da natureza. Pode representar, como selecionado acima, os órgãos do corpo e respectivos "canais de energia" (经络 - Jīng Luò) ou , a fisiologia normal ou patológica do corpo humano, os sentimentos e emoções, cores e as estações do ano sempre comparadas aos 5 elementos e às regras de sua transformação, interdependência e controle recíproco. Pois como dito, na concepção da medicina chinesa relaciona entre si as leis do cosmos que regem o universo à vida do homem.

É básico, o entendimento facilitado para nós ocidentais pela antropologia estrutural, onde se afirma que, ...”todo mito coloca um problema e o trata mostrando que é análogo a outro problema”... [6], símbolo, ou relação entre signos. Nesse caso o controle ou restrição imposto por exemplo na ação da água agindo sobre o fogo ou do fogo sobre o metal que representam as ações de inibição que um determinado grupo de meridianos ("canais de energia") ou pontos (穴位), possui sobre os outros. O mesmo exemplo pode ser dado para os processos de excitação quando consideramos que a madeira estimula o fogo ou a água que estimula (gera, faz crescer) a madeira. As analogias são organizadas de tal forma que completam um ciclo, que por sua vez a análogo às estações do ano que se sucedem, às emoções humanas que variam durante o dia ou comportamento dos animais adaptando-se às estações do ano, etc.

Suas características, tal como escreveu o autor do método estrutural de análise, é que: ..."esse jogo de espelhos e reflexos que se remetem mutuamente, nunca corresponde um objeto real, para ser mais exato, o objeto tira sua substância das propriedades invariantes que o pensamento mítico consegue extrair, quando coloca em paralelo uma pluralidade de enunciados" (Levi Strauss, 1986 o.c.).

Os processos de estimulação (tonificação) e inibição (sedação) do Qi (氣), a energia vital, como vimos, "obedecem" as regras da relação entre os cinco elementos conhecidas como lei da mãe-filho ou ciclo de geração e lei do avô-neto ou ciclo de inibição. (Livro dos 4 instituto o.c.; Marins, 1979 [7])

O ciclo de geração (também chamado ciclo de estimulação ou 生 - shēng):

  • a madeira alimenta o fogo,
  • o fogo, com suas cinzas, produz terra,
  • a terra reúne o metal,
  • o metal se aquece (ao se dissolver) a água,
  • a água dá vida à madeira.

No ciclo de inibição/ sedação (também chamado estrela da dominação e grafado como 剋/克, kè):

  • a madeira se nutre (absorve) a terra,
  • a terra retém a água,
  • a água apaga o fogo,
  • o fogo funde o metal,
  • o metal corta a madeira.

Tais relações resultam na prática clínica no aumento ou diminuição da atividade de um determinado grupo de meridianos ou órgãos correspondentes, que como vimos são classificados com representantes de cada um dos elementos, o que pode ser visto na matriz e diagramas aqui apresentados.

Referências

  1. Faubert, Gabriel; Crepon, Pierre. A cronobiologia chinesa. SP, Ibrasa, 1990
  2. Wen, Tom Sintan. Acupuntura clássica chinesa. SP, Cultrix, 1995
  3. Livro dos 4 Institutos – Escola de Medicina Tradicional Chinesa de Beijing; Escola de Medicina Tradicional Chinesa de Shanghai; Escola de Medicina Tradicional Chinesa de Nanjig; Academia de Medicina Tradicional Chinesa. Fundamentos essenciais da acupuntura chinesa. SP, Ed. Ícone, 1995
  4. Ronan, Colin A. História Ilustrada da Ciência da Universidade de Cambridge (4vol.) vol 2 - Oriente, Roma Idade Média RJ, Zahar Ed, 1987
  5. Levi-Strauss, C. O Pensamento Selvagem São Paulo, Companhia Ed Nacional, 1976
  6. Lévi-Strauss, C.. “A Natureza do Pensamento Mítico”, in: A oleira ciumenta. São Paulo: Brasiliense, 1986
  7. Marins, Attilio C.D. Elementos de acupuntura. SP, Ground/ Global Ed. 1979