Bibliografia das publicações indígenas do Brasil/Introdução
Escrita indígena é resistência
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A escrita sempre esteve presente nas sociedades indígenas, seja nos grafismos, nas tramas das cestarias entre outras formas de representar graficamente seus conhecimentos. Já a escrita alfabética, como conhecemos, passou a ser incorporada no contexto cultural indígena durante o processo de colonização europeia. Nas décadas finais do século XX e, especialmente após a Constituição de 1988, a escrita indígena passou a se apresentar de forma mais consistente, com a produção de materiais didáticos específicos para as escolas nas aldeias e o crescimento do movimento indígena. Considerando o fato de os povos indígenas estarem intimamente ligados à oralidade, vale salientar que a oralidade e a escrita não se opõem, e sim, são modalidades complementares no processo comunicacional.
A escrita indígena é considerada um elemento de fortalecimento de identidades e permite a atuação e a ocupação de espaços simbólicos, representatividade e autonomia.
Muitos pesquisadores se dedicam aos estudos relacionados a questões linguísticas de diferentes povos indígenas e suas relações com a escrita. No entanto, a produção textual indígena ainda se encontra bastante dispersa. Com esta Bibliografia das Publicações Indígenas do Brasil, pretendemos formar um inventário, produzindo uma fonte de informação referencial para interessados nas produções indígenas de caráter bibliográfico.
Quanto às formas de autoria, é importante observar que a escrita indígena inaugurou uma modalidade de autoria até então desconhecida: a autoria do povo. Nestas publicações a propriedade intelectual do conteúdo registrado é atribuída ao povo como um todo, evidenciando o caráter coletivo do conhecimento registrado, e não a um ou outro indivíduo. Nestes casos, é comum identificar a denominação do povo na página de rosto dos livros e a relação dos indivíduos envolvidos na elaboração daquele material (pode ultrapassar o número de 50 pessoas).
A fim de esclarecimento, a autoria individual é considerada quando uma pessoa é detentora da responsabilidade pelo conteúdo registrado. Comum em obras literárias onde há apenas um autor.
Na autoria compartilhada, como o próprio nome sugere, os autores, colaboradores ou instituições envolvidas são igualmente responsáveis pelo conteúdo da publicação. A contribuição de cada autor pode constituir uma parte independente e distinta, ou pode não ser separável da contribuição daos demais. São publicações onde há dois ou mais autores, antologias, etc.
A autoria coletiva do povo, ou apenas autoria do povo, é caracterizada por publicações onde o principal objetivo é registrar os diferentes tipos de saberes tradicionais e envolve grupos criados com a finalidade de elaborar uma determinada obra. Em alguns casos, o nome do povo aparece explicitamente nas áreas da publicação onde são registradas as informações de autoria, em outros casos são criadas associações informais (por exemplo: “Alunos Guarani/Kaiowá e seus professores indígenas” ou “narradores indígenas do Rio Negro”).
O conteúdo desta bibliografia divide-se nas seguintes seções:
- Lista de autores (por origem): reúne o nome dos escritores indígenas de acordo com seu povo de origem;
- Lista geral de Publicações (ordenada pelo nome do autor): listagem dos livros publicados por escritores indígenas no Brasil. Possui obras literárias e não literárias. As obras são referenciadas de acordo com a NBR 6023, ordenadas alfabeticamente;
- Lista de antologias indígenas: apresenta as antologias formadas exclusivamente por escritores, artistas e pensadores indígenas. Identifica nominalmente os autores participantes.
- Teses e dissertações: relaciona as teses e dissertações produzidas por pesquisadores indígenas do Brasil e possui links de acesso ao respectivo currículo lattes e ao texto integral (quando disponível). As teses e dissertações são agrupadas por áreas temáticas, ordenadas cronologicamente pelo ano de defesa.
Outras seções estão previstas para criação futura.
Para saber mais sobre este assunto, recomendamos a leitura “Uma outra história, a escrita indígena no Brasil”, por Lynn Mario T. Menezes de Souza.