Civilização romana/Corridas de quadrigas

Corridas de quadrigas

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Foi na atmosfera de feérico e de realismo, de poesia e de trivialidade que se desenvolveram os jogos romanos. Mesmo as corridas de carros ou os combates de gladiadores pareciam impregnados: nada, no circo, no anfiteatro, no teatro, é apenas o que parece ser; apresentava-se tudo aureolado de uma certa extravagância e assumia uma importância sem relação com a simples realidade. A vitória de um cocheiro de carros assumia proporções de vitória nacional e, para os vencidos, de catástrofe pública. Cremos que o espírito desportivo não basta para explicar estas paixões. No Império estavam representadas quatro facções: os Brancos, os Antis, os Verdes e os Vermelhos. E o público favorecia uma ou outra, e não - como aconteceria se se tratasse de simples atração desportiva - este ou aquele cocheiro. Estas facções permaneciam, mesmo quando mudavam os condutores encarregados de fazer triunfar a sua cor. E eram sempre os mesmos fautores (hoje diríamos apoiantes) que aplaudiam. Afirmou-se recentemente que só podia haver uma razão para tal fato. Cada cor fora adotada por uma classe social, que a tomara como símbolo e se identificava com ela. Assim, verifica-se que Calígula, Nero, Domiciano, Lucio Vero, Cômodo e Elagábalo, que foram os mais "democráticos" dos Imperadores, favoreceram os Verdes.

O que implica, evidentemente, que a massa popular estava empenhada na facção verde. O Senado, pelo contrário, e a aristocracia tradicionalista identificavam-se com os Antis e é sabido que o imperador Vitélio puniu com a morte partidários dos Verdes por terem "dito mal dos Azuis". Sob a aparência de uma simples competição desportiva, estavam em jogo interesses muito mais graves: os deuses não atribuíam a vitória a quem bem entendiam? E esta vitoria não era a prova de que os deuses tinham querido favorecer, além dos cocheiros e das parelhas, todos aqueles que se tinham voluntariamente identificado com eles e lhes tinham confiado a sua sorte? Veja mais...

Referências Bibliográficas

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  • A.FERRUA, Nuove tabulae lusoriae iscritte, in Epigraphica 1964, pp 3-44;
  • A.PIGANIOL, Recherches sur les jeux romains (acima, VIII);
  • R.AUGUET, Cruauté et civilisation, Les Jeus romains: Paris 1970;
  • R.GOOSSENS, Note sur les factions du Cirque à Rome, in Byzantion, 1939, pp. 205-209.