Drogas de abuso/Por que algumas substâncias causam abuso?

Primeiro precisamos entender os conceitos de "dependência" e "adicção". Dependência refere-se ao termo mais antigo "dependência física". Já "adicção" é a "dependência psicológica".

A dependência física ou simplesmente dependência é definida por uma síndrome de abstinência. Alguns fármacos podem causar esse tipo de reação, como vasoconstritores simpatomiméticos e broncodilatadores, além dos vasodilatadores de nitrato orgânico, mas não causam adicção.


A adicção é o uso de forma compulsiva e recorrente da droga. Seu uso pode ser "engalilhado" por desejos compulsivos causados por indícios do contexto. Dependência ocorre quando alguém toma um medicamento por um longo tempo, mas somente poucos acabam desenvolvendo um hábito e tornando-se 'adictos'. Poucos pacientes que tomam opióides como analgésicos possuem o desejo de tomar o fármaco após o encerramento do tratamento. De 6 pessoas que tiveram o primeiro uso de cocaína, apenas uma torna-se adicta no decorrer de 10 anos.

As drogas que são capazes de gerar adicção atuam sobre o mecanismo de reforço de comportamentos no qual a dopamina é um componente principal. Estudos revelaram que o sistema dopaminérgico mesolímbico é o grande alvo das drogas de uso abusivo. Ele é originado na extremidade do tronco encefálico chamada de área tegmental ventral (VTA) que se projeta para o núcleo accumbens, para a amígdala, para o hipocampo e para o córtex pré-frontal. Grande parte dos neurônios da VTA são produtores de dopamina. Grandes quantidades de dopamina são liberadas no núcleo accumbens e no córtex pré-frontal quando os neurônios da VTA disparam de forma intensa. Estudos em animais mostraram que quando a estimulação elétrica da VTA é acoplada a uma "ação" do animal (por exemplo acionar uma alavanca) o comportamento é reforçado. A administração direta de drogas na VTA também funciona como um importante reforço, e a aplicação de forma sistêmica de drogas de uso abusivo provoca liberação de dopamina. Além disso, a ativação seletiva dos neurônios dopaminérgicos é capaz de induzir alterações no comportamento semelhantes aquelas causadas por drogas que causam adicção. Isso é feito, usando opgenética. Camundongos que podem mover-se de forma livre são expostos a uma luz azul via condutores de luz para que a rodopsina do canal seja ativada (canal de cátions regulado pela luz que é modificado geneticamente para ser expresso em neurônios dopaminérgicos).

Todas as drogas de adicção ativam o sistema dopaminérgico mesolímbico. O impacto do aumento da dopamina sobre o comportamento ainda é controverso, mas uma hipótese muito promissora é que a dopamina mesolímbica está associada com a diferença entre recompensa esperada e recompensa real, desta forma estabelecendo como um forte sinal de aprendizagem.

As drogas podem ser divididas pelo seu modo de atuação:

  • ligação a receptores acoplados à proteína Gio;
  • interação com receptores ionotrópicos ou canais iônicos;
  • transportador de dopamina.

Drogas que atuam sobre os receptores acoplados à proteína Gio são capazes de inibir os neurônios pela hiperpolarização pós-sináptica e regulação pré-sináptica da liberação do neurotransmissor. Na VTA, a ação dessas substâncias é observada principalmente nos neurônios gabaérgicos , que funcionam como interneurônios inibitórios locais.