Iniciação à Pesquisa Científica em Saúde/Iniciação à Pesquisa Científica em Saúde/ REPOSITÓRIO DE EXERCÍCIOS RESOLVIDOS/Álcool, fadiga e performance
Autores: Dawson D, Reid K. Nature 1997; 388(6639): 235
Resumo: O estudo busca correlacionar o déficit cognitivo observado em indivíduos privados de sono e compara esse resultado com o mesmo grupo, em um segundo momento, após a ingestão doses de álcool ao longo das horas observadas. Utilizou-se o teste de Hand-Eye coordenation para obter um escore final dos dois grupos. Esses scores foram submetidos a análises de correlação linear , constatando-se que o déficit observado nos indivíduos privados de sono é próximo ou maior do que o grupo que beirou concentrações sanguíneas de intoxicação alcoólica. O resultado mostra que uma fadiga moderada produzem grandes déficits cognitivos, podendo ser comparado ao decréscimo gerado pela ingestão de álcool etílico.
editarAnálise de artigo científico
editarObjetivo: O estudo objetiva analisar, comparar e ,por fim, quantificar se o déficit cognitivo induzido por privação de sono pode ser correlacionado com o déficit promovido pela ingestão de álcool etílico ao longo do tempo observado.
editarAmostra: O estudo utilizou 40 indivíduos que participaram de dois experimentos distintos em dias diferentes.
editarDesenho de estudo: Foi utilizado o teste Intervencional Não-randomico. Isto é, nesse caso, os avaliadores não só intervieram no estudo como também sabiam a quais testes os avaliados se submetiam. Embora não seja o desenho de estudo mais imparcial por natureza, devido a possível interferência, os dados colhidos foram objetivamente produzidos pelos próprios participantes por atividades padronizadas gerados por sistemas computacionais que, ao final de cada rodada, apresentavam um score do participante.
editarVariáveis: Os pesquisadores trabalharam com dois preditores : Privação de sono por 28 horas ininterruptas (8:00h até 12h do dia seguinte) e quantidade de álcool etílico (10-15g a cada 30 min a partir das 8:00 até concentração sanguínea de 0.1%). Ambas são variáveis quantitativa (numéricas) contínuas. Desfecho: Pontuação no score "hand-eye coordination". A variável quantitativa (numérica) contínua.
editarAnálise: Os dois grupos analisados ao longo do experimento e os dados de score colhidos foram plotados em pontos de um gráfico que posteriormente foram submetidos a uma correlação linear em computador.
O autor preferiu ilustrar alguns gráficos em Scatter plot e outro gráfico de Error Bars of Mean(E.B.M).
No primeiro gráfico ( Figura 1 - A) temos a regressão linear executada com base nos scores após as horas acordado. Nele, podemos observar o valor de R², o coeficiente de determinação, que demonstra o quanto o modelo de regressão consegue explicar os pontos de score. Nesse caso, R² = 0.92 nos diz que 92% dos pontos podem ser explicados pelo modelo adotado. ¹
Embora o artigo não expresse o valor, O coeficiente de correlação linear de Pearson, "r", pode ser obtido pela equação r=+- raiz R². Nesse caso, temos que r=-0,919, indicando que para valores crescentes do preditor(horas acordado) podemos ter um decréscimo no desfecho(score de performance).
No gráfico abaixo(Figura 1-B) temos a regreção linear indicando R²=0.69, isso nos diz que 69% dos resultados podem ser explicados pelo modelo de regressão linear, ao passo que o valor de r=-0.830 nos diz que há uma correlação linear negativa entre o preditor (concentração de álcool no sangue) e o desfecho(score de performance).
Para ambos os gráficos, temos o valor de "p" menor que 0.05, indicando que caso a hipótese nula seja verdadeira, indica a probabilidade de se obter resultados iguais ou mais extremos que o observado na amostra. Logo, quanto mais baixo esse valor,
menor é o nível de significância para o qual se rejeita a hipótese nula(H0).²
Não foi citado intervalo de confiança(IC).
No terceiro gráfico (figura 2), nota-se que o autor utilizou o método Error Bars incluindo o Erro nas barras verticais indicando o desvio padrão de cada ponto. Isso demostra o quanto a marcação se difere da média. ³
Nele, foi plotado o equivalente entre concentração sanguínea de álcool etílico e horas acordado quando comparados simultaneamente com o resultado dos Scores finais de cada grupo, indicando que a privação de sono pode ser comparada a ingestão de álcool ao observar os testes realizados nos padrões do estudo. O déficit observado entre 10 e 26 horas privados de sono equivalem-se a 0.004% a mais de álcool no sangue dos participantes.
Utilizou-se nessa análise o Teste de F, a comparação entre duas variâncias. Nesse caso, mesmo não sendo o foco desse trabalho, o teste mensura a variabilidade dentro de cada amostra bem como a variabilidade que existe entre as médias das amostras. Quando maior o valor de F, maior será a variação entre os grupos em relação à variação dentro dos grupos. Logo, maior a probabilidade de rejeitar H0. ⁴
Críticas ao artigo: Observei que o próprio fato de consumir álcool etílico já induz o participante a se considerar "inapto" para as tarefas, uma vez que o senso comum diz que pessoas alcoolizadas possuem naturalmente reflexos mais lentos e apresentam imprecisões na realização de tarefas. Enquanto isso, a privação de sono não é amplamente debatida como um fator prejudicial aos reflexos e imprecisões. Isso pode ser visto até nas leis, já que é proibido dirigir alcoolizado, mas é permitido (e até estimulado) dirigir após privação de sono.
O artigo também não fornece dados diretamente colhidos na pesquisa, nem anexos para serem analisados. Isso acontece freqüentemente quando a pesquisa é de uma data antiga, no caso, 1997. Desse ano para cá, a estrutura dos artigos científicos sofreu alterações, outras exigências são feitas para averiguar a verossimilhança dos resultados.
O artigo foi escolhido a partir do questionamento: Quantos médicos não saem do plantão dirigindo após um plantão de 24 horas? É verificado que esse feito aumenta quando se passa diversas noites com sono irregular. Portanto, é um tema relevante e pouco debatido.
Críticas pessoais: A principal dificuldade que sempre encontrei na leitura de pesquisas foi a divisão de métodos. As análises estatísticas descritivas e principalmente inferenciais eram os maiores entraves para a análise correta do artigo. A disciplina clareou essa área e deu embasamento teórico-prático para entender o básico dessa vasta área. A maior dificuldade que está por vir, ao meu ver, é a análise estatística de métodos que diferem dos aprendidos em sala e que apresentam, na sua maioria, maior complexidade matemática e estatística.
Indexadores do tema deste exercício
editarComparação entre grupos amostrais em saúde
Bibliografia
editar²Doria Filho, Ulysses. Introdução à bioestatística: para simples mortais. São Paulo: Negócio Elsevier, 1999. p.72-73.
³Doria Filho, Ulysses. Introdução à bioestatística: para simples mortais. São Paulo: Negócio Elsevier, 1999. 158 p. 30-32.
¹Doria Filho, Ulysses. Introdução à bioestatística: para simples mortais. São Paulo: Negócio Elsevier, 1999. 158 p. 121-122.
⁴ Doria Filho, Ulysses. Introdução à bioestatística: para simples mortais. São Paulo: Negócio Elsevier, 1999. 158 p. 116-117.