Iniciação à Pesquisa Científica em Saúde /REPOSITÓRIO DE EXERCÍCIOS RESOLVIDOS/ Exercício 29: Meningite pneumocócica
Questão 29: Meningite pneumocócica Editar
Um estudo científico do tipo coorte buscou avaliar de forma retrospectiva a letalidade, morbidade, resistência bacteriana e sorotipos mais freqüentes de meningite pneumocócica, em 55 crianças doentes. Foram formados grupos de crianças com idade < 6 meses para comparação com as de idade a 6 meses. A ocorrência de complicações (Letalidade / Lesão neurológica: Convulsões, hidrocefalia, coleção subdural, seqüela neurológica) foi de 19 das 28 crianças abaixo de 6 meses de idade, enquanto que as complicações ocorreram em 8 das 27 crianças de idade a 6 meses[1]. Com base nos dados apresentados, responda as questões seguintes, justificando-as:
a) Prepare uma tabela de contingência 2 x 2, organizando o fator de exposição e o desfecho
b) Escolha um teste estatístico e teste a hipótese da independência entre o fator de exposição e o desfecho
c) Calcule a força da associação entre o fator de exposição e o desfecho utilizando a Razão de chances
d) Construa um intervalo de confiança de 95% para a medida Razão de chances e interprete-o (sugestão: use um software estatístico como o Statcalc EpiINFO)
Sugestão de leitura: Epidemiologia Básica (WHO, 2010)
Sugestão de software de apoio: EPI INFO
Resposta da questão: Editar
Para a solução da questão acima será necessário o conhecimento de alguns conceitos estatísticos que serão resumidos anteriormente a cada questão.
A) Uma tabela de contingência é um artifício usado para apresentar o número de indivíduos classificados em duas ou mais variáveis ou fatores. No problema em questão, foram fornecidas 2 variáveis: a idade e a ocorrência de complicações em indivíduos com meningite pneumocócica. Após a constatação dos fatores, será necessário qualificá-los como fator de exposição ou desfecho. Sendo assim, idade menor que 6 meses = fator de exposição; complicações = desfecho.
Por fim, deve-se organizar a tabela de tal maneira que a primeira célula esteja a população que represente o fator de exposição e o desfecho observado, os quais são os menores de 6 meses de idade que apresentaram complicações, sendo completada o restante da tabela em diante. Ademais, é interessante informar o total de cada coluna e linha da tabela para futuras análises estatísticas.
RESOLUÇÃO:
Com complicações | Sem complicações | Total | |
---|---|---|---|
< 6 meses | 19 | 9 | 28 |
> 6 meses | 8 | 19 | 27 |
Total | 27 | 28 | 55 |
B) Um teste estatístico analisa a associação ou seja, a independência entre o fator de exposição e o desfecho a partir de uma hipótese. Por isso, devemos formular um teste de hipótese da seguinte maneira:
-Hipótese nula (H₀)= não existe associação entre a idade das crianças com meningite pneumocócica e a ocorrência de complicações.
-Hipóteses alternativa (H₁)= existe associação entre a idade das crianças com meningite pneumocócica e a ocorrência de complicações.
Após a caracterização do teste de hipótese, ele deve ser testado para comprovar ou descartar a hipótese nula. Para isso, será necessária a utilização da Frequência Observada (O) em cada célula da tabela que construímos na questão anterior com a Frequência Esperada (E). Sendo que E pode ser calculado da seguinte forma:
- E= (total da linha que contém a célula) x (total da coluna que contém a célula) / total geral da tabela
Logo, os resultados obtidos de cada célula serão jogados a seguinte equação:
Em que X² é conhecido como qui-quadrado. Depois, deve-se descobrir o grau de liberdade da tabela a partir da equação:
Em que: Gl = grau de liberdade;
l= numero de linhas;
C=numero de colunas.
Com o valor de X² conhecido, será necessário compará-lo com o valor da tabela de qui-quadrado de significância 0,05 (5%) e grau de liberdade encontrado, e se o nosso valor for maior do que o comparado, nossa hipótese nula deverá ser rejeitada.
OBS: 5% é o valor mais utilizado nas análises estatísticas, o qual evidencia a significância de um determinado dado para o estudo, ou seja, valores menores do que 5% não evidenciam nenhum evento ou comparação significante.
RESOLUÇÃO:
Como nosso valor de X² é maior do que o observado na tabela (3,84 para significância=0,05), nossa hipótese nula deve ser rejeitada, evidenciando dependência entre o fator de exposição e o desfecho.
C)A força de associação é a relação da ocorrência do desfecho de uma determinada situação na presença do fator de exposição. Neste caso, seria a ocorrência de complicações da meningite pneumocócica devido à idade da criança.
Para avaliar a força de associação, são usados o risco relativo e a razão de chance (razão de odds RATIO). Como a questão pede para ser utilizada a razão de chance, ela que será explicada. Sendo assim, ela pode ser conceituada como uma razão entre a chance de ocorrência do evento em um grupo e a chance de ocorrência do evento em outro grupo. Matematicamente seria expressa desta maneira:
Em que: RC= razão de chance;
RCG1 =chance do evento em G1
RCG2 =chance do evento em G2
G1= grupo com fator de exposição
G2= grupo sem fator de exposição
E para calcular a chance de cada um, deve ser utilizada as seguintes fórmulas:
= estimativa de chance de desfecho no grupo exposto.
e = estimativa da chance de complicações no grupo sem exposição
Sendo: a, b, c e d os valores de cada célula da tabela
total(1)= total da primeira linha
Após a obtenção do valor da razão de chance do estudo, seu resultado mostrará a chance do desfecho aparacer devido o fator de exposição.
RESOLUÇÃO:
= 5,0139
Dessa forma, podemos concluir que crianças com menos de 6 meses de vida e que apresentam meningite pneumocócica têm uma chance 5 vezes maior de desenvolverem complicações se comparadas com crianças maiores de 6 meses de vida também infectadas.
D) Um intervalo de confiança de 95% da razão de chance de uma pesquisa mostra o intervalo de valores de razões de chance ONDE HÁ CONFINAÇA DE 95% DE SE ENCONTRAR O VERDADEIRO VALOR NA POPULAÇÃO DE ONDE A AMOSTRA DO ESTUDO SE ORIGINOU que outras pesquisas, utilizando indivíduos da mesma população que foram retirados os primeiros, podem encontrar. Sendo que os 95% significam que, em 100 pesquisas, com indivíduos diferentes, mas de uma mesma população, 95 destas terão sua razão de chance presentes no intervalo encontrado.
Para ser calculado deve-se utilizar a seguinte fórmula:
Sendo: RC a estimativa da razão de chance;
(visto que a,b,c e d são os valores da tabela 2x2 em questão)
e=2.71282 (constante de Euler)
RESOLUÇÃO:
Dessa forma, caso seja feito outro estudo com indivíduos diferentes mas da mesma população que foi retirado os pacientes desta questão, ele terá 95% de chance de possuir sua razão de chance presente no intervalo acima.
Indexadores do tema deste exercício Editar
Noções sobre Intervalo de confiança
Comparação entre grupos amostrais em saúde
Bibliografia utilizada Editar
- Epidemiologia Básica (WHO, 2010)
- -EPI INFO
- -COMUTARE: rede de compartilhamento de objetos de aprendizado. Disponível em <https://dspaceprod01.grude.ufmg.br/dspace/bitstream/handle/OAUFMG/747/Aula%2024%20-%20Razao%20de%20Chances%20e%20Risco%20Relativo.pdf?sequence=2> Acesso em 25 de novembro de 2016.
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- ↑ Meningite pneumocócica na infância: características clínicas, sorotipos mais prevalentes e prognóstico