Judaísmo/História do Judaísmo
Origens do judaísmo
editarAinda que o judaísmo só vá ser chamado como tal apenas após o retorno do Cativeiro em Babilônia, de acordo com a tradição judaico-cristã a origem do judaísmo estaria associada ao chamado de Abraão à promessa de YHWH. Abraão, originário de Ur, teria sido um defensor do monoteísmo em um mundo de idolatria, e pela sua fidelidade à YHWH teria sido recompensado com a promessa de que teria um filho, Isaque, do qual levantaria um povo que herdaria a Terra da promessa. Abraão é chamado de primeiro hebreu (do hebraico עִבְרִי ivrit aquele que vem do outro lado),e passa à viver uma vida nômade entre os povos de Canaã.
De acordo com a Torá , YHWH não seria apenas o Senhor de Israel, mas sim o Princípio Uno que criou o mundo, e que já havia se revelado a outros justos antes de Abraão. Mas com Abraão inicia-se um pacto de obediência, que deveria ser seguido por todos os seus descendentes se quisessem usufruir das bênçãos de YHWH. Alguns rituais tribais são seguidos pelos membros da família de Abraão que depois serão incorporados à legislação religiosa judaica.
Alguns estudiosos no entanto creem que YHWH trata-se de uma divindade tribal, que apenas posteriormente será elevada ao status de Deus único. A questão é que com a libertação dos descendentes de Israel da terra do Egito pelas mãos de Moisés, será organizado pela primeira vez o culto a esta Divindade. Ao contrário de outras religiões antropomórficas, YHWH é tido como uma figura transcendente, toda-poderosa, ilimitada, o qual influencia a sociedade humana, e que revela aos israelitas sua Torá que consistiriam em mandamentos de como ter uma vida justa diante de YHWH. A religião mosaica só atingirá sua maturação com o início da monarquia israelita e sua subsequente divisão em dois reinos: Yehuda (Judá) e Yisrael (Israel). Esta divisão marcará uma separação entre os rituais religiosos dos reinos do norte e do sul, que permanecem até hoje, entre o judaísmo e o judaísmo samaritano.
No entanto, a visão histórica e bíblica mostram que esta religião mosaica não era única e exclusiva . Durante todo o período pré-exílio as fontes nos informam que os israelitas serviam diversas outras divindades, dos quais os mais proeminente era Baal. Enquanto a maioria dos religiosos aceita que na verdade a mistura entre os israelitas e os cananitas após a conquista de Canaã tenha corrompido a religião israelita, a maioria dos estudiosos prefere aceitar que o mosaismo era apenas mais uma das diversas crenças entre as tribos israelitas, e que só virá a se firmar com os profetas e com o exílio.
A hierarquia e os rituais de culto mosaico serão firmemente estabelecidos com a monarquia, onde serão elaboradas as regras de sacerdócio e estabelecidos os padrões do culto com a construção do Templo de Jerusalém. Este novo local de culto ,substituto do antigo Tabernáculo portátil de Moisés,serviu como centro da religião judaica, ainda que em meio a outros cultos estrangeiros.
Exílio em Babilônia e o início da Diáspora
editarUm dos elementos fortes da religião pré-judaísmo é o surgimento dos profetas, homens de diversas camadas sociais que pregavam e anunciariam profecias da parte de D-us.Sua pregação, anunciando os castigos da desobediência para com D-us, encontraram eco com a destruição de Israel em 722 a.C. e com a conquista de Judá pelos babilônios em 586 a.C.
Com a dispersão dos reinos israelitas , muitos judeus assimilaram-se aos povos para o qual foram dispersados. Mas as comunidades israelitas remanescentes desenvolveram sua cultura e religião, criando o que temos hoje como Judaísmo. O fortalecimento da comunidade e a descentralização do culto (através da criação das sinagogas), além do estabelecimento de um conjunto de mandamentos que deveria ser aprendidos pelos membros da comunidade e obedecidos em qualquer lugar em que vivessem, aliaram-se à esperança no restabelecimento novamente na Terra Prometida ,dando aos judeus uma consciência messiânica . No entanto, com a liberação do retorno dos judeus para a Judéia, poucas comunidades retornaram para a Judéia.
O período do Segundo Templo
editarCom o retorno de algumas comunidades judaicas para a Judéia, uma renovação religiosa levou à diversos eventos que seriam fundamentais para o surgimento do judaísmo como uma religião mundial. Entre estes eventos podemos mencionar a unificação das doutrinas mosaicas, o estabelecimento de um cânon das Escrituras, a reconstrução do Templo de Jerusalém e a adoção da noção do "povo judeu" como povo escolhido e através do qual seria redimida toda a humanidade.
A comunidade judaica da Judéia cresceu com relativa autonomia sob o domínio persa, mas a história judaica tomará importância com a conquista da Palestina por Alexandre Magno em 332 a.C.. Com a morte de Alexandre, o seu império foi dividido entre seus generais, e a Judéia foi dominada pelos Ptolomeus e depois pelos Selêucidas, contra os quais os judeus moveram revoltas que culminaram em sua independência.
Com a independência e o domínio dos Macabeus como reis e sacerdotes, surgem as diversas ramificações do judaísmo da época do Segundo Templo: os fariseus, os saduceus e os essênios. As diversas polémicas entre as diversas divisões do judaísmo levaram à conquista da Judéia pelo Império romano (63 a.C.).
O domínio romano sobre a Judéia foi ,em todo o seu período, conturbado principalmente em relação aos diversos governadores e reis impostos sobre Roma, o que levou à Revolta judaica que culminou com a destruição do Segundo Templo e de Jerusalém em 70 d.C. Muitas revoltas judaicas explodiram em todo o Império romano ,que levaram à Segunda revolta judaica sob o comando de Shimmon Bar-Kosiva e do rabino Akiva que fracassou, e em 135 ,com sua derrota levou à extinção do estado judeu, que só retornaria em 1948.
As seitas da época do Segundo Templo e posterior desenvolvimento do judaísmo
editarPor volta do primeiro século d.C. havia várias grandes seitas em disputa da liderança entre os judeus, e em geral todas elas procuravam, de forma diversa, uma salvação messiânica em termos de autonomia nacional dentro do Império Romano: os fariseus, os saduceus, os zelotas e os essênios. Entre estes grupos,os fariseus obtiveram grande influência dentro do judaísmo, já que após a destruição do Templo de Jerusalém, a influência dos saduceus diminuiu, enquanto os fariseus , que controlavam a maior parte das sinagogas continuaram a promover sua visão de judaísmo, que originará o judaísmo rabínico. Os judeus rabínicos codificaram suas tradições orais na obras conhecidas como os Talmudes.
O ramo dos saduceus dividiu-se em diversos pequenos grupos, que no século VIII adotaram a rejeição dos saduceus pela lei oral dos fariseus / rabinos registada na Mishná (e desenvolvida por rabinos mais recentes nos dois Talmudes), pretendendo confiar apenas no Tanakh. Estes judeus criaram o judaísmo caraíta, que ainda existe hoje em dia, se bem que os seus seguidores sejam em muito menor número que o judaísmo rabínico. Os judeus rabínicos defendem que os caraítas são judeus, mas que a sua religião é uma forma de judaísmo incompleta e errónea. Os caraítas defendem que os rabinitas são idólatras e necessitam retornar às escrituras originais.
Os samaritanos continuaram à professar sua forma de judaísmo, e continuam à existir até os dias de hoje.
Ao longo do tempo, os judeus também foram-se diferenciando em grupos étnicos distintos: os asquenazitas - - (da Europa de Leste e da Rússia), os sefarditas (de Espanha, Portugal e do Norte de África), os Judeus do Iêmen, da extremidade sul da península Arábica e diversos outros grupos. Esta divisão é cultural e não se baseia em qualquer disputa doutrinária , mas acabou levando à diferentes peculiaridades na visão de cada comunidade sobre a prática do judaísmo .
Judaísmo na Idade Média
editarO cristianismo teria surgido como uma ramificação messiânica do judaísmo no primeiro século d.C.Após o cisma que levou à separação entre judaísmo e cristianismo, o cristianismo desenvolveu-se separadamente, e também foi perseguido pelo Império romano.Com a adoção do cristianismo como religião do império no século 4 d.C, a tendência à querer erradicar o paganismo e a visão do judaísmo como uma religião que teria desprezado à Jesus Cristo, levou à um constante choque entre as duas religiões, onde a política de converter judeus à força ,levava à expulsão, espoliação e morte caso não fosse aceita.
Os judeus e diversas minorias tornaram-se vítimas de diversas acusações e perseguições por parte dos cristãos. A conversão ao judaísmo foi proibida pela Igreja, e as comunidades judaicas foram relegadas à marginalidade em diversas nações ou expulsas.O judaísmo tornou-se ,então, uma forma religiosa de resistência à dominação imposta pela Igreja, desenvolvendo algumas das doutrinas exclusivistas de muitas tradições judaicas atuais.
Com o surgimento do Islamismo no século 7 d.C. e sua rápida ascensão entre diversas nações ,inicia-se a relação deste com o judaísmo ,caracterizado por períodos de perseguição e outros de paz, no qual deve-se enfatizar a Era de Ouro no judaísmo na Espanha muçulmana.
O desenvolvimento do judaísmo chassídico
editarO judaísmo hassídico foi fundado por Israel ben Eliezer (1700-1760), também conhecido por Ba'al Shem Tov, ou pelo Besht. Os seus discípulos atraíram muitos seguidores, e eles próprios estabeleceram numerosas seitas hassídicas na Europa. O judaísmo hassídico acabou por se transformar no modo de vida de muitos judeus na Europa, e chegou aos Estados Unidos durante as grandes vagas de emigração judaica na década de 1880.
Algum tempo antes, tinha havido um sério cisma entre os judeus chassídicos e não-chassídicos. Os judeus europeus que rejeitavam o movimento hassídico eram chamados pelos hasidim de mitnagdim, (literalmente os contrários, oponentes). Alguns dos motivos para a rejeição do judaísmo hassídico radicavam-se na exuberância opressiva da prece hassídica - nas suas imputações não-tradicionais de que os seus líderes eram infalíveis e alegadamente operavam milagres, e na preocupação com a possibilidade de o movimento se transformar numa seita messiânica. Desde então, todas as seitas do judaísmo hassídico foram absorvidas pela corrente principal do judaísmo ortodoxo, e em particular pelo judaísmo ultra-ortodoxo.
O desenvolvimento das seitas modernas em resposta ao Iluminismo
editarNos finais do século XVIII, a Europa foi varrida por um conjunto de movimentos intelectuais, sociais e políticos conhecidos pelo nome de Iluminismo. O judaísmo desenvolveu-se em várias seitas distintas em resposta a este fenômeno sem precedentes: o judaísmo reformista e o judaísmo liberal, muitas formas de judaísmo ortodoxo (ver também Hassidismo) e judaísmo conservador e ainda uma certa quantidade de grupos menores.
Judaísmo na atualidade
editarNa maior parte das nações ocidentais, como os Estados Unidos, o Reino Unido, Israel e a África do Sul, muitos judeus secularizados deixaram há muito de participar nos deveres religiosos. Muitos deles lembram-se de ter tido avôs religiosos, mas cresceram em lares onde a educação e observância judaicas já não eram uma prioridade. Desenvolveram sentimentos ambivalentes no que toca aos seus deveres religiosos. Por um lado, tendem a agarrar-se às suas tradições por razões de identidade, mas por outro lado, as influências da mentalidade ocidental, vida quotidiana e pressões sociais tendem a afastá-los do judaísmo. Estudos recentes feitos em judeus americanos indicam que muitas pessoas que se identificam como de herança judaica já não se identificam enquanto membros da religião conhecida como judaísmo. As várias seitas judaicas nos EUA e no Canadá encaram este facto como uma situação de crise, e têm sérias preocupações com as crescentes taxas de casamentos mistos e assimilação entre a comunidade judaica. Uma vez que os judeus americanos têm vindo a casar mais tarde do que acontecia antigamente, têm vindo a ter menos filhos, e a taxa de nascimentos entre os judeus americanos desceu de mais de 2.0 para 1.7 (a taxa de substituição é de 2.1) (This is My Beloved, This is My Friend: A Rabbinic Letter on Intimate relations, p.27, Elliot N. Dorff, The Assembleia rabínica|Rabbinical Assembly, 1996).
Nos últimos 50 anos todas as principais seitas judaicas têm assistido a um aumento de popularidade, com um número crescente de jovens judeus a participar na educação judaica, a aderir às sinagogas e a se tornarem (em graus diversos) mais observantes das tradições.