Sociologia e Comunicação/Karl Marx

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A influência de Marx sobre a Sociologia ocorre com a introdução da luta de classes e das contradições sociais como o centro da análise das dinâmicas sociais.

Karl Marx (1818-1883)

As sociedades são vistas e analisadas a partir dos conflitos e contradições gerados em torno da produção e da distribuição da riqueza produzida nelas.   

Nesta aula, vamos destacar o método dialético e materialista como uma forma particular de abordagem das sociedades; a dinâmica instável, expansionista e globalizante do capitalismo e a análise da mercadoria (ou do fetichismo da mercadoria) como o fundamento da lógica capitalista.

A Dialética Marxista e o Materialismo Histórico

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A Dialética e o materialismo encontrado no pensamento de Marx está relacionado, respectivamente, a Hegel e a Feuerbach.

A ideia de que a História é um Devir, um vir a ser, um permanente movimento de superação das contradições que as sociedades carregam é a marca da Dialética (Hegeliana e Marxiana). Todas as sociedades que carregam contradições nas suas formas de existência são obrigadas a enfrentá-las e superá-las de algum modo.

 
Engels (1820-1895)

A existência de um modo particular de sociedade ( a tese ou sua afirmação) é marcada por contradições (sua antítese ou negação) que, de algum modo, pressupõe algum tipo de superação (síntese ou negação da negação) gerada pelas forças sociais em conflito. Cada nova superação torna-se mais complexa que anterior porque foi obrigada a superar suas contradições em um novo modo de existência.

Quando Marx dizia que o socialismo somente seria possível após o capitalismo, ele pretendia dizer que somente com a superação das contradições de classe da antiga sociedade aristocrática e feudal foi possível criar as condições para que uma série de condições fossem dadas para uma nova superação.

O materialismo consiste no modo pelo qual Marx entende os conflitos. Eles não são conflitos entre ideias de sociedades diferentes, mas um conflito de interesses materiais.  A estrutura econômica ou as formas materiais de existência da sociedade passam  a ter um peso importante na análise sociológica. As ideias não estão descoladas de um modo de existência material muito particular. Na verdade, elas acabam por se articular a esse modo de existência.

Há um relação complexa de condicionamento (às vezes, Marx usa o termo determinação) entre a estrutura econômica da sociedade (as condições materiais de produção) e a sua superestrutura (leis, ideologia, Estado, escolas etc.).

 
G.W.F. Hegel (1770-1831)

“O modo de produção da vida material condiciona o processo da vida social, política e espiritual em geral. Não é a consciência do homem que determina o seu ser, mas, pelo contrário, o seu ser social é que determina a sua consciência... “O conjunto dessas relações de produção forma a estrutura econômica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta a superestrutura jurídica e política e à qual correspondem determinadas formas de consciência social.”(Prefácio à "Contribuição à Crítica da Economia Política” - texto em que Marx faz um balanço da sua trajetória)

Que consequências podemos tirar desse pensamento:

Não podemos separar as ideias das condições sociais de existência daqueles que as compartilham e acreditam nelas.  Ou seja, a posição de classe de determinados indivíduos vai condicionar o modo pelo qual pensam a sua existência, como pensam os conflitos ou a ordem.

Isso tem consequências sérias para as formas de consciência social ou o que Marx chama de ideologia:

“As ideias da classe dominante são, em todas as épocas, as ideias dominantes, ou seja, a classe que é o poder material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, o seu poder espiritual dominante. A classe que tem à sua disposição os meios para a produção material dispõe assim, ao mesmo tempo, dos meios para a produção espiritual, pelo que lhe estão assim, ao mesmo tempo, submetidas em média as ideias daqueles a quem faltam os meios para a produção espiritual” (Feuerbach. Oposição das Concepções Materialista e Idealista -  Capítulo Primeiro de A Ideologia Alemã - Karl Marx e Friedrich Engels 1845-46)

O Capitalismo como um processo civilizatório

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Como o foco de sua atenção são as contradições da sociedade burguesa ou capitalismo, Marx observa que o modo pelo qual essa sociedade enfrenta seus conflitos se dá por um processo de constante expansão e revolução dos modos de produção (que já foi chamada de "destruição criativa") . Trata-se de um processo civilizatório que pretende atingir todo o globo terrestre e submeter todas as culturas à sua lógica.

É o que ele diz no Manifesto Comunista:

“A burguesia não pode existir sem revolucionar constantemente os instrumentos de produção, e, por conseguinte, as relações de produção, isto é, o conjunto das relações sociais. Uma revolução continua na produção, uma incessante comoção de todo o sistema social, uma agitação e uma insegurança constantes distinguem a época burguesa de todas as anteriores...

Em virtude do rápido aperfeiçoamento dos instrumentos de produção e do constante progresso dos meios de comunicação, a burguesia arrasta na corrente da civilização todas as nações, até as mais bárbaras ... Numa palavra: forja um mundo à sua imagem e semelhança.”

A Alienação e o Fetichismo da Mercadoria

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Ludwig Feuerbach (1823-1892)

“Podemos distinguir os homens dos animais pela consciência, pela religião — por tudo o que se quiser. Mas eles começam a distinguir-se dos animais assim que começam a produzir os seus meios de vida, passo este que é condicionado pela sua organização física." (Feuerbach. Oposição das Concepções Materialista e Idealista - Capitulo Primeiro de A Ideologia Alemã - Karl Marx e Friedrich Engels 1845-46)

Vamos dar uma olhada neste esquema.

É importante notar o peso que a noção de TRABALHO tem no pensamento de Marx. O trabalho é a forma pela qual os seres humanos produzem o mundo em que vivem. O modo pelo qual trabalham, as relações que estabelecem entre si, as ferramentas e técnicas que criam constituem o seu mundo.

"Pelo trabalho, o homem ... modifica o mundo e se modifica a si mesmo. Produz objetos e, paralelamente, altera sua própria maneira de estar na realidade objetiva e de percebê-la.” (Leandro Konder. O futuro da filosofia da práxis)

No capitalismo, esse esquema assume uma forma histórica particular. Devido à sua forma particular de propriedade, os meios de produção concentram-se na mão de algumas pessoas apenas. As leis, o Estado e a ideologia organizam-se ao lado dessa forma de existência jurídica.  A maioria tem apenas a sua força de trabalho que precisa ser "vendida" para quem tem os meios de produção.

Nesse caso, um depende do outro para existir: os proletários (força de trabalho) e a burguesia (capital). Por isso, a produção vai ser sempre coletiva.

Marx, como um grande leitor dos pensamento econômico liberal, valoriza muito a descoberta desses economistas que centram a produção da riqueza no trabalho. Até então, os economistas fisiocratas diziam que a riqueza vinha da terra.

Quem descobriu que o trabalho era uma categoria fundamental de estudo foram os economistas liberais. O que eles não analisaram direito foi como o trabalho se organiza no capitalismo.

Foi aqui que Marx identifica uma relação de exploração que passa despercebida para esses economistas.

Se a riqueza vem do trabalho, como explicar que a maior parte da riqueza produzida pelo proletariado não fica com ele e, sim, com quem é dono dos meios de produção. Marx percebe que essa parcela de riqueza que é retirada do trabalhador funciona como uma mais-valia, uma valor produzido a mais que não vai para as mãos de quem o produziu.

Logo, a riqueza não pode vir do trabalho, mas da exploração do trabalho de alguém. Se alguém enriquece, esse alguém não é o proletário. Pelo contrário, ele se empobrece e se aliena em todos os sentidos.

 
Adam Smith (1723-1790)

Quanto mais rico é o mundo que produz, mais pobre ele fica.

Ele não controla o que produz. Não controla como produz. E não controla o que é feito com aquilo que produz.

Quem controla tudo é sempre um ser alheio a ele, é sempre algo fora dele que conduz a sua vida: daí a noção de alienação.

Essa alienação vai ter consequências profundas no seu modo de perceber o mundo que ele mesmo criou.

Ao se deparar com as mercadorias que produziu - e pelas quais recebeu um salário - ele vai ver que, muitas vezes, não pode comprá-las. O mesmo se dá com o prédio que ajudou a erguer, mas em que nunca vai poder morar. Talvez, nem passar perto. E assim vai.

As mercadorias ganham vida e ele se torna um objeto. Elas o definem, dão um lugar a ele. Todo o seu trabalho - e de seus colegas- que estão nela, são apagados e elas aparecem com um poder sobrenatural. Elas ganham vida e são capazes de definir o que ele é. Daí, a noção de "fetichismo" da mercadoria.

A mercadoria

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Marx começa sua principal obra, O Capital, analisando a mercadoria. A unidade básica que traduz a lógica burguesa ou capitalista. No capitalismo os produtos asumem a forma-mercadoria, ou seja, neles é possível identificar a produção de dois tipos de valores diferentes: o valor de uso e o valor de troca.

O valor de uso é a utilidade de um bem. O ar, a água etc pode ser um valor de uso e não ser uma mercadoria. A lógica do DIY (Do It Yourself ), a produção de um bem artesanal para si mesmo, produz valor de uso, mas não mercadoria.

Nas formas de produção capitalistas, além do valor de uso de uma coisa, é produzido um valor de troca. O valor de troca é o tempo de trabalho socialmente necessário para produzir um bem e que vai ser trocado no mercado.

Essa lógica faz com que a utilidade de um bem só faça sentido se puder ser convertida em um valor de troca. O que se produz é relativamente indiferente (camisas, carros, educação, petróleo, música etc.) desde que possa assumir a forma-mercadoria e ter um valor de troca.

Não é a utilidade de um bem o sentido de seu produção, mas a sua capacidade de ser convertido em mercadoria e lucro.

Referências

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MARX/ENGELS (História). Coleção Grandes Cientistas Sociais (org. Florestan Fernandes). 3.ed. Ática: São Paulo, 1989

QUINTANERO, Tânia; BARBOSA, Maria Lígia de O. ; OLIVEIRA, Márcia G. Um toque de clássicos. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.