Mato Grosso do Sul/História

Antes da chegada dos europeus à região, no século XVI, o território sul-mato-grossense era habitado por diversas nações indígenas que guerreavam constantemente entre si por causa de território. As principais nações indígenas eram a dos guatós, a dos paiaguás, a dos guaicurus, a dos terenas, a dos guaranis, a dos xamacocos, a dos guanás, a dos bororos, a dos ofaiés, a dos quiniquinaus etc. Os guatós e os paiaguás eram conhecidos pela sua habilidade em conduzir canoas, habilidade esta que os tornava senhores dos cursos d'água na região. Os terenas e os guanás, ambos falantes de línguas do grupo aruaque, eram famosos pelas suas habilidades agrícolas: cultivavam mandioca, milho, amendoim, feijão etc.

Estátua representando Cabeza de Vaca no Whitehead Memorial Museum em Del Rio, no Texas, nos Estados Unidos
Retrato de Juan de Garay

Os guaranis dominavam as matas da atual fronteira com o Paraguai, de onde extraíam erva-mate para produzir sua bebida típica, o ka'a y ("bebida de folha", em português). Os guaicurus se consideravam um povo superior e procuravam submeter os demais povos indígenas à escravidão. Neste contexto, os primeiros exploradores europeus chegaram ao território sul-mato-grossense no século XVI. Expedições espanholas penetraram o continente através do rio da Prata e subiram seu leito em direção ao império Inca ou cortaram o caminho partindo do litoral brasileiro e penetrando a pé pelo interior. Em ambos os percursos, exploraram o território sul-mato-grossense.

Exemplos são a expedição de Aleixo Garcia em 1524/1525, a de Juan Ayolas em 1537 e a de Álvar Núñez Cabeza de Vaca em 1543. Em 1580, Juan de Garay fundou Santiago de Xerez, o primeiro núcleo urbano espanhol em terras sul-mato-grossenses[1]. Logo após, entretanto, a cidade seria arrasada pelos índios guaicurus. Em 1631, os padres jesuítas espanhóis ergueram treze povoados formados por índios catequizados no território sul-mato-grossense. Eram as reduções do Itatim. Porém, em 1633, as reduções foram atacadas por bandeirantes paulistas em busca de mão de obra escrava. Após o ataque, nada mais restou das reduções[2].

As incursões dos bandeirantes serviram de argumento para Portugal reivindicar vastas porções do território sul-americano a oeste da linha do tratado de Tordesilhas, que dividia os territórios recém-descobertos entre Portugal e Espanha. Segundo esse tratado, o atual território sul-mato-grossense pertencia à Espanha. Porém, o Tratado de Madri, assinado em 1750, definiu que os territórios deveriam pertencer a quem realmente os ocupasse. Baseado nesse princípio, Portugal conquistou a posse do território sul-mato-grossense. Visando a defender a região contra ataques de índios e espanhóis, os portugueses erigiram, em 1775, o forte Coimbra, às margens do rio Paraguai, próximo à atual cidade de Corumbá[3].

Por essa época, os índios guaicurus já haviam aprendido a montar os cavalos introduzidos na região pelos europeus e se tornaram exímios cavaleiros e temíveis adversários de portugueses e espanhóis. No século XIX, a pecuária se desenvolveu bastante no território, causando um significativo aumento populacional. Em sua maior parte, decorrente de migrações provenientes de outras regiões brasileiras. Em dezembro de 1864, o sul de Mato Grosso do Sul foi invadido por tropas paraguaias, dando início à Guerra do Paraguai. Visando a retomar o território, uma força do exército brasileiro foi enviada à região em abril de 1867. As tropas brasileiras penetraram em território paraguaio até a localidade de Laguna, mas tiveram então de retroceder por falta de mantimentos e munição.

Fez parte dessa expedição do exército brasileiro Alfredo d'Escragnolle Taunay, o Visconde de Taunay (1843-1899), que reuniu suas impressões sobre a expedição no clássico da literatura brasileira (publicado originalmente em francês, em 1871) La retraite de Laguna ("A retirada da Laguna")[4]. Durante a guerra, os índios cadiuéus (descendentes dos guaicurus) lutaram do lado do exército brasileiro. Como recompensa, o imperador brasileiro dom Pedro II concedeu-lhes a posse oficial de seu território tradicional, a oeste do Rio Miranda[5]. No início do século XX, o território sul-mato-grossense foi muito procurado por imigrantes estrangeiros, como italianos, sírios, libaneses e japoneses, os quais entravam no Brasil através do estado brasileiro de São Paulo e, chegando no território sul-mato-grossense, passavam a se dedicar à agricultura e ao comércio.

Em 1918, a inauguração da companhia Mate Laranjeira, em Ponta Porã, no sul do estado brasileiro de Mato Grosso, deu início ao ciclo do cultivo da erva-mate na região. O principal mercado consumidor era a Argentina. Com a posterior autossuficiência argentina em relação ao produto, no final da década de 1930, a companhia se extinguiu, juntamente com o ciclo da produção em larga escala da erva-mate na região[6]. Em 1932, o estado brasileiro de São Paulo rebelou-se contra a elite política que havia conquistado o poder no Brasil na revolução de 1930. Era a revolução Constitucionalista, que contou com o apoio de revolucionários do sul do então estado brasileiro de Mato Grosso, que fundaram o estado de Maracaju.

O qual teve vida efêmera, pois a revolução Constitucionalista foi derrotada depois de alguns meses de combates contra o governo brasileiro. Entre 1943 e 1946, o extremo sudoeste do estado de Mato Grosso foi transformado, pelo presidente Getúlio Vargas, no território federal de Ponta Porã, visando a proteger a fronteira do país com o Paraguai. Na segunda metade do século XX, uma nova espécie agrícola começou a ser cultivada no sul mato-grossense: a soja[7]. Em 1977, o sul do estado de Mato Grosso se separou do norte do estado visando a facilitar a administração do vasto território, e se constituiu no atual estado de Mato Grosso do Sul.

No início do século XXI, o sul de Mato Grosso do Sul passou a testemunhar um acirramento dos conflitos pela posse da terra: de um lado, índios guaranis e cadiuéus, que lutam pela criação de reservas indígenas que oficializem a posse de suas terras tradicionais; do outro lado, agricultores e criadores de gado, muitos dos quais haviam comprado terras das mãos do governo brasileiro em meados do século XX[8][9].

Referências