Retórica e argumentação/Figuras de estilo/Dialogismo


Dialogismo consiste em mencionar/citar o que outros disseram, antecipar o que outros dirão ou especular o que outros diriam. Quando se reproduz, além das palavras, a entonação, o sotaque, a gesticulação e outros aspectos do discurso, chamamos a figura de mimesis.

Exemplo 1: "Já agora descansa e está sossegada toda a terra. Todos exultam de júbilo. Até os ciprestes se alegram sobre ti, e os cedros do Líbano exclamam: Desde que tu caíste, ninguém já sobe contra nós para nos cortar. O além, desde o profundo, se turba por ti, para te sair ao encontro na tua chegada; ele, por tua causa, desperta as sombras e todos os príncipes da terra e faz levantar dos seus tronos a todos os reis das nações. Todos estes respondem e te dizem: Tu também, como nós, estás fraco? E és semelhante a nós? ... Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo. Contudo, serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do abismo. Os que te virem te contemplarão, hão de fitar-te e dizer-te: É este o homem que fazia estremecer a terra e tremer os reinos?" (Isa 14, 7-10.13-16)

Exemplo 2: "Por que Vossa Majestade usa a palavra 'benefício'? Tudo o que me importa é a benevolência e a integridade. Se Vossa Majestade diz 'como posso beneficiar meu Estado?', seus ministros dirão 'como posso beneficiar minha família?', e os oficiais e os populares dirão 'como posso me beneficiar?'... nunca existiu uma pessoa benevolente que negligenciou seus pais ou uma pessoa íntegra que colocou seu senhor em último lugar. Sua majestade talvez dirá agora 'tudo o que me importa é a benevolência e integridade. Por que mencionar benefício?' " (Mencius)

Exemplo 3: "Segundo ele [Tales], não há diferença entre a vida e a morte. 'Por que então', alguém disse, 'tu não morres?'. 'Porque', disse ele, 'não faz diferença'... Ao ser perguntado o que é difícil, ele respondeu, 'conhecer a si próprio'. 'O que é fácil?', 'dar conselhos aos outros'. 'O que é prazeroso?', 'Sucesso'. 'O que é divino?', 'Aquilo que não tem começo nem fim'. À questão sobre qual a coisa mais estranha que já vira, sua resposta foi 'um tirano envelhecido'. 'Qual a melhor maneira de suportar a adversidade?', 'Ver seus inimigos em pior condição'. 'Como viver uma vida íntegra?', 'Evitando fazer aquilo que criticamos nos outros'." (Diógenes Laërtius, Vidas dos Filósofos Eminentes)

Uso na retórica: Há várias aplicações do dialogismo, dentre as quais convém mencionar:

  • Levantar argumentos de outros em seu favor.
  • Expor argumentos e críticas que outros levantaram para então os responder.
  • Antecipar críticas (procatalepse).
  • Descrever detalhadamente situações (enargia).