Sigmund Freud/Teoria Freudiana

Segundo Freud, o ser humano não é movido apenas por sua parte consciente. Grande parte das ações humanas é influenciada poderosamente por uma porção da psique humana que não é plenamente percebida pela nossa consciência. É o chamado "inconsciente", também chamado por Freud de id, palavra em latim que significa "isso". O uso do termo "id" significa que é uma porção obscura, misteriosa da nossa psique. É composta pelos nossos instintos, desejos, medos e lembranças que foram rechaçados pela porção consciente da nossa psique em virtude de regras morais.

Esquema da psique humana proposta por Freud: o ego (Ich, em alemão) é influenciado pelo superego (Über-ich) e pelo id (Es)
Pintura de 1910 de Henri Rousseau intitulada "O sonho"
Gottfried Leibniz
Gravura grega do século V a.C. representando Édipo e a esfinge. No clássico da literatura, Édipo decifra o segredo da esfinge e, como prêmio, se casa com a mulher que ele viria a descobrir, posteriormente, ser a sua mãe.

É interessante observar que Freud não foi o primeiro a sugerir que somos influenciados por aspectos de nossa psique dos quais não temos plena consciência: o filósofo alemão Gottfried Leibniz já levantara essa questão no século XVII[1]. A porção consciente de nossa psique, aquela da qual temos consciência permanente, é chamada por Freud de ego, palavra em latim que significa "eu".

O nosso eu rejeita muitos de nossos pensamentos por eles irem contra as normas da ética, normas estas que, durante toda nossa vida, são absorvidas por nossa psique. Estas normas éticas que foram absorvidas por nossa psique são chamadas por Freud de superego, palavra em latim que significa "sobre o eu". Segundo Freud, a função destas normas éticas seria conciliar as vontades dos id das pessoas, tornando possível a existência das sociedades. Ou seja, o superego colocaria um limite nas exigências do id: o limite do aceitável pela sociedade.

Dentro dessa estrutura tripartite da psique humana proposta por Freud (id, ego e superego), a função do ego seria conciliar as exigências normalmente antagônicas do id e do superego, achando um denominador comum entre ambos. Os pensamentos provenientes do id que não fossem aceitos pelo ego retornariam ao id, compondo os chamados "traumas", que se manifestariam no indivíduo através das "neuroses", ou seja, as doenças psíquicas.

A terapêutica freudiana consiste em trazer à consciência do paciente, através de sua exposição oral, esses traumas, ou seja, essas lembranças reprimidas. A espontânea exposição desses fatos reprimidos, na sessão de psicanálise, teria o efeito de curar as doenças psíquicas. Esses desejos não satisfeitos no plano consciente e armazenados no inconsciente se manifestariam através dos sonhos. Durante os sonhos, esses desejos poderiam, enfim, ser satisfeitos. Em relação aos sonhos desagradáveis, os chamados "pesadelos", Freud os explicava como sendo frutos de inclinações sadomasoquistas (obtenção de prazer através do sofrimento de outras pessoas ou através do próprio sofrimento)[2].

Uma das críticas que se fazem a Freud é a pouca representatividade dos casos clínicos em que se baseou sua teoria: todos os pacientes de Freud pertenciam a um mesmo estrato social, a classe média vienense do final do século XIX e início do século XX. Visando a superar essa limitação de amostras e, dessa forma, dotar sua teoria de um maior alcance de aplicação, Freud estudou clássicos da literatura e da arte mundiais, buscando, desta forma, aplicar sua teoria em outros contextos culturais.

Foi baseado no clássico de Sófocles (famoso escritor grego do século V a.C.) "Rei Édipo" que Freud idealizou o famoso "complexo de édipo", segundo o qual toda pessoa buscaria o prazer (representado simbolicamente pela figura materna), no que seria contido pelas leis da sociedade (representadas simbolicamente pela figura paterna). Na história do "Rei Édipo", Édipo mata o seu pai e se casa com sua mãe, embora só venha a descobrir a identidade deles após ter realizado tais atos.

Quanto tem consciência dos seus atos hediondos, Édipo fura seus próprios olhos, como forma de autopunição. Segundo o complexo de édipo formulado por Freud, todo ser humano quer "se casar com a mãe" (sentir prazer), tal como fez Édipo, mas, para realizar isso, precisa antes "matar o seu rival, o pai" (se confrontar com as regras sociais)[3].

Como na história de Édipo, o "assassínio do pai" (violação das regras sociais) e o "casamento com a mãe" (obtenção do prazer) não podem ser permitidos pela sociedade, pois gerariam instabilidade. Essa não permissão da sociedade é representada, no clássico de Sófocles, pela autopunição de Édipo e seu exílio. Mais tarde, Freud levantou a possibilidade de este complexo estar representado também em outro clássico da literatura: "Macbeth", de William Shakespeare. Na obra desse autor inglês, o personagem-título mata o pai para se apoderar de seu trono (que representaria, simbolicamente, a figura materna, o prazer).

Para Freud, a vida civilizada era uma luta constante entre o "princípio do prazer", representado pela busca do prazer ao qual todo ser almeja e o "princípio da realidade", que significa os limites que a sociedade, através de suas normas morais, impõe à realização do princípio do prazer. Este conflito permanente geraria um mal-estar na civilização, um "mal-estar na cultura", título da obra escrita por Freud em 1930[4].

Ainda em relação à arte, Freud achava que o fenômeno artístico era muito semelhante à neurose: em ambos os casos, ocorria uma fuga da realidade, visando à superação da limitação imposta pela realidade aos desejos dos indivíduos. Só que a arte gerava um retorno prazeroso para o artista, através da reação agradecida do público diante da qualidade da obra artística, o que não acontecia no caso da neurose.

Referências

  1. NICOLA, U. Antologia ilustrada de filosofia: das origens à idade moderna. Tradução de Maria Margherita de Luca. São Paulo: Globo, 2005. pp. 262-264
  2. http://www.pregaapalavra.com.br/monografia/sonhos1.2.htm
  3. ROCHA, E. O que é mito. São Paulo: Brasiliense, 2006. pp.73-76
  4. http://www.palavraescuta.com.br/textos/o-mal-estar-na-civilizacao-1930-resenha