Civilização romana/As virtudes romanas

As virtudes romanas editar

É muito provável que esta concepção tirânica do dever cívico tivesse sido imposta sobretudo pela sociedade patrícia que tomou o poder em 509 a.e.c.; foi a gens que contribuiu para manter a hierarquia estrita dos elementos sociais, assegurando materialmente a dependência dos indivíduos em relação do clã, perpetuando a autoridade do paterfamilias fornecedor do alimento quotidiano, encerrando os membros da casa numa rede de práticas religiosas que simbolizavam o caráter eminente da gens em relação a cada um deles. E foi nesse momento que se impuseram, vindas de um meio rural, as grandes virtudes romanas. A virtude essencial, capital, para um romano, é precisamente a que responde mais diretamente ao ideal camponês: a virtude de "permanência". Considera-se conforme com o bem tudo o que tenha por efeito manter a ordem existente, a fecundidade da terra, a esperança de uma boa colheita, a repetição dos anos, a renovação regular da raça, a estabilidade da propriedade. Condena-se, pelo contrário, tudo o que seja anárquico, inovador, tudo o que ameace a regularidade dos ritmos, tudo o que desenraize.

A história de um termo significa que uma grande fortuna, a palavra luxus, permite compreender este estado de espírito. O termo começa por pertencer a língua camponesa: designava a vegetação espontânea e indesejável que, por "indisciplina", compromete a colheita. Exuberância do trigo, demasiado denso; exuberância da vinha, com todas as suas folhas, em detrimento dos cachos. Luxus (ou luxuries) é tudo o que excede as marcas; pode ser, por exemplo, o pinote de um cavalo mal adestrado; mas é também, para o homem, todo o excesso que o leva a procurar uma abundância de prazer, ou mesmo, simplesmente, a afirmar-se de forma demasiado violenta, no fausto, no vestuário, no apetite de viver. é, sem dúvida, o luxo, no sentido moderno, condenado pelos efeitos morais, porque desenvolve o gosto pelo lucro, porque desvia o individuo das suas verdadeiras tarefas, favorecendo a preguiça. Mas estas razões são secundárias: a moral romana não se teria mostrado tão severa contra todos os abusos na vida quotidiana se não assentasse na desconfiança, essencialmente camponesa, em relação a toda a inovação, a toda a fuga à disciplina ancestral, a tudo o que tende a ultrapassar o âmbito da cidade. Quem se abandona ao luxo mostra que carece de disciplina, que cederá aos instintos: a atração do prazer, a avidez, a preguiça e, sem dúvida, no campo de batalha, também ao medo - que não passa, afinal, do naturalissimo instinto de conservação. Veja Mais...

Referências Bibliográficas editar

  • E. BADIAN, Publicans and sinners. Private Entreprise in the Service of the Roman Republic: Oxford, 1972;
  • STANLEY F. BONNER, Education in Ancient Rome, Londres 1977.