Civilização romana/Cotidiano

Cotidiano

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Horácio, ao atingir os 40 anos, não se resignava a viver na cidade. Passava a maior parte do tempo no campo, em Tibur, ou a beira-mar e na tranqüila cidade de Tarento, Mas o escravo que encarregara de cultivar os seus domínios de Tibur não partilhava do entusiasmo do amo. Outrora, tinha certamente desejado viver mais a vontade do que na cidade, sonhara nas longas noites de Inverno, em que se dorme a sociedade, com provisões acumuladas no celeiro mas, depois de se tornar vilicus, mudara de idéias e por mais de uma vez lamentara não gozar os prazeres da cidade. Horácio recorda-lhe ironicamente:

"Agora", diz-lhe, "aspiras a Cidade, e aos jogos, e aos banhos, agora que és rendeiro... Eu e tu não apreciamos as mesmas coisas... Um local mal freqüentado, uma taberna de cozinha gordurosa recordam-te a cidade, bem o vejo, e também pensas que este pequeno domínio produziria pimenta e incenso mais rapidamente do que vinho, que não tens ao teu alcance uma taberna para te fornecer de vinho, nem uma jovem complacente que toque flauta para dançares até caíres redondo no chão..."

Os gostos do rendeiro de Horácio podem parecer-nos vulgares. Mas são os da plebe romana, ávida de prazeres fáceis que não se encontram no campo: para ela, beber sem restrições entre mulheres, dançar, freqüentar os jogos, os banhos são características da vida urbana, assim como, talvez, essa espécie de prazer mais difícil de definir que se experimenta ao contatar com outros seres humanos: a plebe romana - e não só a plebe - é geralmente sociável. Não é verdade que já Catão proibia os seus rendeiros, sobretudo as rendeiras, de receberem liberalmente nos seus domínios os vizinhos conversadores em busca de companhia? Para o Romano, o principal prazer consiste em encontrar-se com os amigos no Fórum, no Campo de Marte, junto aos pórticos das praças públicas, nas termas e em casa, se é rico e pode entregar-se, à noite, aos intermináveis jantares a que se seguem prolongados serões bem regados; se, pelo contrário, a sua condição não lhe permite este luxo, gosta, pelo menos, de se regalar num cabaré.

Os encontros entre amigos eram freqüentes, obrigatórios numa cidade que, apesar de tudo, era pequena e cujo centro foi, durante muito tempo, uma única praça pública e onde, apesar do crescimento da população, um dos principais deveres dos homens de elevada condição consistia em saber o nome de cada um dos cidadãos que encontrasse ao longo do dia. É verdade que, no fim da República e durante o Império, os romanos ricos se faziam acompanhar por um escravo especialmente encarregado de lhes recordar os nomes que pudessem ter esquecido: o nomenclator (assim se chamava o secretario de infalível memória) não existia no século II a.e.c. e a sua intervenção testemunha apenas a fidelidade dos Romanos ao velho principio segundo o qual não devia haver desconhecidos no Fórum. Uma boa parte dos costumes romanos explica-se assim: a vida social baseia-se, em primeiro lugar, em relações pessoais. Cada individuo existe em relação a família, aos aliados, aos amigos, e também em relação aos inimigos; há alianças tradicionais e inimizades que não o são menos. Os princípios políticos contam menos, afinal, do que a relação de homem para homem. A vida da cidade assentava, pelo menos tanto como nas leis, nestas relações regidas pelos costumes. Veja mais...

Referências Bibliográficas

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  • A.FERRUA, Nuove tabulae lusoriae Iscritte, in Epigraphica 1964, pp. 3-44;
  • H.A.SANDERS, Swimming Among the Greeks and the Romans, in Classical Journal XX, pp. 566-568;
  • L.ROBERT, Les Gladiateurs dans l'Orient grec: Paris, 1940.