História da Europa/Revolução na França

Hora de mudanças

editar
 
Maria Antonieta e seus filhos

A Revolução Francesa de 1789 é reconhecida como um dos eventos mais significativos da história mundial.

Ela marca a sublevação da terceira classe, depois de séculos pagando altos impostos para o Rei.

O impacto da revolta foi muito grande, tornando-a um exemplo para as posteriores revoluções de 1830, 1848, e muitas outras.

A revolução foi centrada (no seu auge) em torno do fraco Luís XVI e da imatura rainha Maria Antonieta, como o povo os via e seu estilo de vida esbanjador, escondidos em Versalhes.

Na época, o povo estava descontente com as condições de vida sob a monarquia absoluta de Luís XVI e detestava especialmente sua esposa, Maria Antonieta, referindo-se a ela repetidamente como "a prostituta austríaca".

Finalmente, a Revolução Francesa representou um período no qual problemas sociais, econômicos e políticos colidiram e em que as circunstâncias eram propícias à mudança.

O povo francês em 1789 estava sendo influenciado pela mídia, o que em nada ajudava a situação. A imprensa criava histórias da “Rainha Malvada” gastadora, esbanjando dinheiro público, e seus muitos casos de amor, o que a tornava extremamente impopular entre o povo francês.

 
A Morte de MaratJacques-Louis David

O dia 6 de outubro de 1789 marca o inicio da Revolução, quando centenas de mulheres dos mercados (e homens vestidos de mulher) marcharam até o Palácio de Versalhes exigindo a cabeça da rainha e o imediato retorno do rei a Paris.

As mulheres foram bem sucedidas ao conseguir o retorno da família real, ainda que a rainha não tivesse sido morta, como elas queriam. A situação piorou ainda mais, quando o “Reinado do Terror” chegou ao poder.

Junte-se a isso a chamada Revolução Diplomática. Que é um termo aplicado à inversão de antigas alianças diplomáticas no início da Paz de Aix-la-Chapelle que concluiu a Guerra de Sucessão Austríaca em 1748.

As tradicionais alianças da França e da Prússia contra a Grã-Bretanha e a Áustria mudaram para França e Áustria contra Grã-Bretanha e Prússia. Com a finalidade de consumar a aliança, Maria Teresa da Áustria casou sua filha, Maria Antonieta, com Luís XVI, herdeiro do trono francês.


Neoclassicismo

editar

O neoclassicismo surgiu primeiramente no início do século XVIII. O movimento foi influenciado pelo Iluminismo, enfatizando a razão e a ordem em oposição aos sentimentos do Barroco ou do Rococó. Na arte neoclássica, as cores fortes substituíram os tons pastéis das gerações anteriores da arte.

Talvez o artista neoclássico mais famoso tenha sido Jacques Louis David, que pintou para os revolucionários da Revolução Francesa bem como para Napoleão Bonaparte.

Precursores da Revolução Francesa

editar

Incontáveis idéias do Iluminismo contribuíram para a Revolução Francesa.

As idéias de Locke de derrubar os governos que não respeitam o contrato social, bem como as idéias de Rousseau da vontade geral e a falha do governo francês em representá-la, foram fatores capitais.

O Iluminismo também criticava a religião, em especial o catolicismo, atacando diretamente a teoria do direito divino que Luís XVI usava para justificar sua posição.


Ao mesmo tempo havia grande escassez de alimentos através da França, uma guerra constante, ódio à desigualdade social e uma rainha e um rei fracos. Além disso, um inverno mais intenso tinha resultado em uma colheita pobre e na falta de comida, principalmente pão, causando pobreza, morte e destruição.

A centelha da Revolução Francesa, entretanto, foi a crise financeira da França.

 
Abertura dos Estados Gerais

Este problema originou-se de uma miríade de fatores. Um dos mais proeminentes foi o fato de que os nobres não precisavam pagar impostos, e eles resistiram a todas as tentativas de Luís de taxá-los.

A França também havia acumulado o débito da ajuda prestada na Revolução Americana, assim como da Guerra dos Sete Anos. Finalmente, os coletores de imposto franceses eram corruptos. Como resultado, Luís chamou os Estados Gerais para que prestassem auxílio e resolvesse a crise financeira.

Os Estados Gerais estavam divididos em três e cada qual tinha o mesmo número de representantes:

- o primeiro Estado era composto de clérigos,

- o segundo Estado era composto de nobres

- o terceiro Estado era composto por comerciantes e populares, que representavam pelo menos 98% da população.

O terceiro Estado irritado com sua representação desproporcional e a impossibilidade de agir de acordo com suas necessidades, rebelou-se e declarou-se Assembléia Nacional. Três dias depois, membros do terceiro Estado fizeram o juramente da Sala do Jogo da Péla, jurando lealdade à nação francesa e esboçando uma lista das queixas contra o rei. Eles tinham como objetivo representar democraticamente a vontade do povo e dar uma Constituição democrática ao povo e claramente espelhavam-se na Revolução Gloriosa de 1688 na Inglaterra.

Pela primeira vez, a guerra colocou as diferentes classes sociais face a face - unindo o clero e os comuns contra os nobres. A mobilidade e a igualdade sociais eram desejadas e foram uma das causas preliminares da Revolução.

Fim da família real

editar

O rei Luís XVI, a rainha Maria Antonieta e suas duas crianças (Marie Therese de 11 anos e Louis Charles de 4 anos) aterrorizados, junto com a irmã do rei Madame Elizabeth, foram forçados a voltar a Paris no dia 6 de outubro de 1789 por um movimento de mulheres revoltosas.


 
Marie Therese e Louis Charles

Numa carruagem, eles voltaram a Paris rodeados por um bando de pessoas gritando e os ameaçando. A multidão obrigou o rei e a rainha a abrirem a janela da carruagem e num determinado momento, um manifestante jogou a cabeça de um membro da guarda real morto em Versalhes na frente da rainha assustada.

Apesar dos esforços da rainha Maria Antonieta em acalmar a multidão lhes dando pão, as pessoas jogavam tudo fora, dizendo estar envenenado.

Os quatro anos seguintes da vida da família real foram de angústia e esperança. A despeito dos esforços da família austríaca da rainha e dos amigos próximos do rei e da rainha, como o Conde Ferson e o Conde Mercy, e de uma tentativa de resgate ter falhado, eles permaneceram prisioneiros.

A família real presenciou o terror da Revolução Francesa, o sobrinho da rainha, subiu ao trono da Áustria em 1792 e agora era imperador, mas, não se preocupou em socorrer uma tia que jamais tinha visto.

Em 1792 a monarquia foi abolida em favor da república e o rei foi julgado em janeiro de 1793, acusado de traição e sentenciado a morte na guilhotina.

As cenas foram emotivas na despedida da família. O rei foi dizer adeus à sua família, devastada e exclamou para a esposa:

Você veio para a França para isso!

 
Luís XVI a caminho da morte

Ela estava vestida de preto porque soube que o marido seria morto naquele dia. Mais cenas tristes se seguiram quando a rainha viúva se despediu do filho de 8 anos Louis Charles. Ela o abraçou e ficou com ele durante uma hora antes que ameaçassem sua filha.

O menino foi aclamado rei pelos monarquistas na França e na Europa. Marie Therese foi levada por Madame Elizabeth e sua filha:

Trate-a como sua segunda mãe! foi o conselho da rainha deposta.


Maria Antonieta foi levada para a prisão feminina. O homem que estava na secretaria da prisão foi acordado por um guarda (ele já havia trabalhado em Versalhes como chefe da confeitaria e reconheceu a rainha).

Nome por favor ele pediu. Olhe para mim ela respondeu com expressão vazia.

Privada de tudo, a ex rainha viúva passava os dias na cela quente, lendo ou costurando para sua filha ou passando os anéis entre seus próprios dedos. Sempre que ouvia o som parecido com uma harpa ela erguia a cabeça, recordando do passado. Sua existência era de sofrimento e dor.

Finalmente em outubro de 1793, após quatro anos da revolução, ela foi julgada e condenada por traição entre outros crimes. Foi executada em 16 de outubro de 1793 na guilhotina.

Suas palavras finais foram de grande simplicidade: me perdoem, não fiz nada de propósito e subiu os degraus para a execução.

Madame Elizabeth seguiu seu irmão e sua cunhada e foi executada um ano depois.

Louis Charles morreu sozinho em sua cela em 1795 (ele tinha 10 anos).

Marie Therese porém sobreviveu à revolução e viveu até 1850, se tornando rainha da França por 20 minutos e usando o título que sua mãe tornou icônico Dauphine de France

Ela morreu na Áustria, viveu a maior parte de sua vida, exilada em diversos lugares, Escocia, Kent e Áustria.

 
Saint Denis, monumento funerário a Luís XVI e Maria Antonieta

Retornou à França por um breve período e saiu de lá forçada por Napoleão, que disse: ela foi o único homem da família, quando Marie Therese reuniu um exército e se recusou a deixar a França.


Tomada da Bastilha

editar

Em 14 de julho de 1789, a multidão enfurecida de Paris tomou a Bastilha.

Apesar de só haver sete prisioneiros dentro de suas muralhas, este evento foi essencial por que simbolizava que o povo não estava mais sob o poder dos nobres e do rei, ou o levantar da população contra a tirania do absolutismo.

A Queda da Bastilha também simbolizou não apenas a primeira vez e com certeza não a última, durante a Revolução, que revoltas populares deveriam se erguer e atuar fora do sistema legislativo.

Os últimos levantes, chamados na França de journees, se provariam extremamente influentes na opinião pública e também a causa de muitas leis importantes por parte do legislativo, que não queria se arriscar a uma massiva revolta popular contrária à controlada revolução burguesa.

 
Tomada da Bastilha, 14 de julho de 1789


Assim os revolucionários franceses estabeleceram um novo governo com o propósito de alcançar o que desejavam.

Assembléia Nacional 1789-1791

editar

Os membros da Assembléia Nacional vieram dos membros do terceiro Estado nos Estados Gerais. Eles tendiam a ser da classe média alta ou burguesia, e volta e meia foram chamados de "Jacobinos" já que se reuniam com constância nos clubes Jacobinos para discutir a Revolução.

O grupo mais inferior do terceiro Estado, o resto dos cidadãos, conduziu o braço armado da Revolução e a Assembléia Nacional neste tempo. Entretanto, eles não tomaram parte no governo. A classe média urbana conduziu a Tomada da Bastilha e a Marcha a Versalhes.

Esforços para reconstruir a sociedade

editar

A Assembléia Nacional tomou certo número de medidas para reformar a sociedade.

Ela estabeleceu a igualdade social e assinou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a qual era um contrato social.

Proporcionou a liberdade de religião, a taxação igualitária, a igualdade legal e a liberdade de imprensa e de expressão.

Escreveu uma Constituição que estabelecia uma Monarquia Constitucional com um parlamento. O parlamento deveria ser conduzido pela burguesia, que foi considerada formadora dos cidadãos ativos, enquanto o resto dos cidadãos foi considerado cidadãos "passivos" e não tinham direito de participar no governo.

Os cargos públicos seriam abertos ao progresso baseado no mérito.

Finalmente, a Assembléia Nacional estabeleceu a Constituição Civil do Clero (1790), pela qual os clérigos foram obrigados a fazer o juramento em 1791.

Essa Constituição Civil, para nacionalizar as propriedades da igreja, abolia os votos religiosos e tornava todos os clérigos da igreja, incluindo monges e freiras, funcionários civis, que recebiam o pagamento e atribuições, não de Roma, mas de Paris.

Embora fosse inicialmente bem recebida por muitos franceses, que aplaudiram a volta da igreja para casa, as punições subsequentes tomadas contra os clérigos que não aceitaram fazer o juramento (chamados de clérigos refratários), foi causa de grande ressentimento nas províncias do oeste, e foi uma das causas da revolta da Vendéia em 1793.

 
Jean Denis, conde de Lanjuinais na tribuna da Convenção

Assembléia Legislativa 1791-1792

editar

As medidas tomadas pela Assembleia Nacional estabeleceram aquilo que que se supunha ser uma Monarquia Constitucional permanente, a Assembleia Legislativa, com Luís XVI como monarca.

Entretanto, a Assembléia Legislativa falhou rapidamente devido a um número de fatores. O grupo mais baixo do terceiro Estado sentiu-se politicamente abandonado pela burguesia.

Além disso, a Assembleia Legislativa falhou em mitigar os problemas com a comida e o desemprego. Em resposta, os trabalhadores franceses, ou sans-culottes, levantaram-se contra a Assembleia Legislativa.

Guerra com Áustria e Prússia

editar

Os nobres emigrados que tinham fugido da França durante a Revolução desejavam a partir da Áustria, que esta esmagasse a Revolução.

Outras nações temeram revoluções em seus próprios territórios. A Áustria assinou a Declaração de Pillnitz (1791), a qual estabelecia que se as outras potências atacassem a França, a Áustria também o faria. Os franceses interpretaram isto como uma possível declaração de guerra.

O Manifesto de Brunswick (1792) feito pela Prússia dizia que os prussianos puniriam os cidadãos de Paris se estes fizessem qualquer coisa contra Luís XVI ou Maria Antonieta.

A Prússia e a Áustria aliaram para formar um contrapeso a fim enfraquecer a França. As ameaças de guerra no governo recém formado também contribuíram para sua queda.

Convenção Nacional 1792-1795

editar
 
Retrato anônimo de Maximilien Robespierre, 1793 (Museu Carnavalet).


A Convenção era uma república de emergência com sufrágio universal masculino.

O principal comitê da Convenção era o Comitê de Segurança Pública, que trabalhou para perseguir os dissidentes e proteger a Revolução. O Comitê era liderado por Maximilien de Robespierre.

A liderança da convenção dividiu-se em duas facções: a Montanha, que era mais radical e incluía Robespierre, e a Planície ou Pântano, que era mais ou menos radical.

A Convenção tinha algumas questões para solucionar.

Primeiramente, e talvez mais importante, engajaram-se ativamente na guerra contra a Prússia e a Áustria. Instituíram o primeiro recrutamento, chamado levee en masse, e um sentimento nacionalista surgiu entre tropas. Em 1794, o exército do francês invadiu a Áustria e foi bem sucedido.

A Convenção precisava reconstruir a sociedade. Seus membros instituíram a "descristianização," que era essencialmente a extinção do Cristianismo na França.

Ela também necessitava consertar o problema da falta de alimentos, e estabeleceu o "General Maximum" que controlava o preço do pão e os salários.

E por fim a Convenção precisava parar a Contra-Revolução e escrever uma nova Constituição.

Durante um período conhecido como "O Terror," Robespierre e o Comitê de Segurança Pública utilizaram a recentemente inventada guilhotina para matar todos os contra-revolucionários, fazendo com que as cifras atingissem os milhares.

A Convenção escreveu, com sucesso, uma nova Constituição, estabelecendo um governo conhecido como Diretório como uma república permanente.

Em 27 de julho (9 thermidor, no calendário revolucionário) de 1794, o próprio Robespierre foi preso e executado no dia seguinte.

A "Reação Termidoriana" resultante era uma resposta à virada da França para esquerda, durante a qual o governo foi momentaneamente para a direita e finalmente acabou voltando ao Centro.

Os Jacobinos e a Montanha foram substituídos pelos moderados Girondinos (burgueses) e os membros da Montanha foram executados.

Diretório 1795-1799

editar

Foi a primeira república constitucional, tinha um corpo executivo de cinco diretores, assim como um como um órgão legislativo bicameral constituído pelo Conselho de Anciãos e o Conselho dos 500.

Em 1797, foram feitas as primeiras eleições livres e o povo da França surpreendeu os membros, atônitos do Diretório, elegendo a maioria de monarquistas para a legislatura.

Recusando-se a arriscar perder tudo o que tinham conseguido desde 1789, os membros da ala esquerda da legislatura, combinaram com o suporte dos militares, remover do Diretório os membros da direita no golpe de e18 Fructidor. Esse golpe estabeleceu uma ditadura controlada pelos diretores da ala esquerdista.


De qualquer maneira, o povo estava com medo da volta do Terror, portanto, quando Napoleão Bonaparte e Abbe Sieyes empreenderam o golpe de 18 Brumario para dar fim ao Diretório e no lugar, estabelecer o Consulado houve pouca oposição.