Língua artificial/Iniciante/Sistemas de escrita

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Obviamente, se você estiver construindo uma língua a posteriori, não é difícil pensar numa pronúncia e num alfabeto. Mas lembre-se de que, quando se trata de outros alfabetos pelo mundo, nem sempre a romanização é fiel à pronúncia real da palavra. Procure sites aonde você possa ouvir as palavras, caso você ainda não esteja familiarizado com alguma língua diferente. Por outro lado, se você está procurando uma língua alienígena, use os sons que você acha que mais combinam com a cultura que você está imaginando. J. R. R. Tolkien criou uma língua com mais vogais abertas e consoantes fortes para o Quenya, e reservou as vogais fechadas e consoantes suaves para o Sindarin.

O melhor modo de ter um panorama completo dos vários fonemas no mundo é através do alfabeto fonético internacional, feito especialmente para isso. Esse sistema contém todos os sons humanos. Para ver e ouvir os sons mais facilmente visite as páginas https://en.wikipedia.org/wiki/IPA_pulmonic_consonant_chart_with_audio?wprov=sfla1 para as consoantes pulmonares, https://en.wikipedia.org/wiki/IPA_non-pulmonic_consonant_chart_with_audio?wprov=sfla1 para as consoantes não pulmonares (elas não existem no português mas são aqueles cliques estranhos das línguas africanas), e https://en.wikipedia.org/wiki/IPA_vowel_chart_with_audio?wprov=sfla1 para as vogais.

Existem diversos tipos diferentes de alfabeto. O importante é não deixar as letras se confundirem umas com as outras. Tolkien não é um bom exemplo disso. As letras das línguas artificiais dele eram tão similares que os elfos provavelmente teriam que escrever seus livros com espaçamentos enormes para que as palavras não ficassem indistinguíveis.

Os alfabetos no Ocidente, que tiveram origem nas línguas do Oriente Médio, começaram com logogramas. Mas como essas línguas eram sintéticas, aos poucos os logogramas foram se transformando em letras. Por exemplo, a palavra "cobra" em egípcio antigo era "nun", e ele era representado com o desenho de uma cobra. Com o tempo, o "nun" começou a ser usado como letra, representando o fonema "n". A letra "nun" foi evoluindo, até virar uma linha bem torta, que lembrava vagamente uma cobra (ن). Ela viajou até a Grécia, foi virada de lado, adaptada no alfabeto grego virando a letra "nu" (Ν/ν), e estava pronta a nossa letra "n". Você pode simular esse processo na hora de criar o seu alfabeto. Para criar o fonema "k", por exemplo, você poderia fazer o desenho de um cachorro e ir simplificando-o.

Uma coisa importante na hora de desenhar os seus caracteres é a quantidade deles. Nessa hora é importante decidir se sua língua vai ser baseada em letras (caracteres que representam um som), silabogramas (caracteres que significam uma silaba) ou logogramas (caracteres que significam uma palavra ou frase). Você pode fazer com que sua língua seja baseada em dois deles ao mesmo tempo mas não é recomendado que você use os três de uma vez já que pode deixar o seu idioma muito confuso. Caso a sua língua seja baseada em letras não faz sentido que o seu alfabeto passe de 40 - 50 caracteres (no IPA existem mais letras porém elas são tão parecidas que se você for usar +50 letras pode gerar vários problemas práticos já que qualquer mudança minima no som pode deixar a palavra com um sentido totalmente diferente). Se for baseado em silabogramas é bom que tenha em torno de 50 a 80 caracteres (eu não sou um bom exemplo disso. O meu silabário tem mais de 280 caracteres. Se esse for o caso do seu é recomendado que os caracteres sejam semelhantes a fusão das letras que eles representam como por exemplo a letra cirílica "љ" (que não é uma sílaba mas eu vou usar de exemplo mesmo assim) que é a fusão da letra "л" com a letra "ь"). Agora se for baseado em logogramas/ideogramas faz sentido que ele tenha entre 1000 - 5000 caracteres. Se o seu sistema de escrita for um silabário é bom saber lidar com três letras juntas em que 2 delas podem ser um caractere. Exemplo:

ary

No meu silabário, existe tanto um caractere para "ar" quanto para "ry". No caso do meu idioma, caso isso aconteça, o silabograma sempre precisa ser a última junção possível (ry), Mas essa regra vai depender das regras de escrita do seu idioma.

A direção com a qual se escreve não precisa ser sempre da esquerda para a direita. No árabe, diveí e hebraico por exemplo, é da direita para a esquerda e, no japonês, é de cima para baixo. Escrever na vertical não é muito recomendável para quem quer criar escritas cursivas mas é mais fácil para ideogramas.

 
Um exemplo de texto árabe, um abjad impuro. (Lê-se "Al-Arabiyya", literalmente "o árabe".)

Em um alfabeto, cada letra representa mais ou menos um fonema. Porém, existem outros sistemas de escrita. Um deles é o abjad. Em um abjad, não existem vogais, somente as consoantes. Isso não é um grande problema. Note que, sem as vogais, mesmo assim é possível entender boa parte do português.

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O abjad mais conhecido é o alfabeto árabe (embora esse não seja um abjad puro, pois existe a vogal "a" no árabe). Se você quiser construir um abjad, é importante tomar certos cuidados. Não poderiam existir as palavras "bala" e "bolo" em um abjad, por exemplo, pois se você falasse "qr m bl, pr fvr", ninguém saberia se você está pedindo uma bala ou um bolo.

Há também o abugida, que é um meio termo entre o abjad e o alfabeto. Em um abugida, existem vogais e consoantes. Cada consoante possui, subentendida, uma vogal padrão. Imagine um abugida hipotético onde essa vogal padrão seja "a". Para querer dizer "fato", se escreveria "fto". A letra "t" está seguida de um "o", para formar a sílaba "to", mas não foi preciso colocar o "a", pois ele já está subentendido na letra "f". O abugida é bastante prático pois economiza vogais sem atrapalhar a interpretação. Porém, existem poucos abugidas.

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Outra opção é o logossilabário, constituído de logogramas. O mais conhecido é o chinês. Os logogramas tentam lembrar o significado que representam. Os chamados pictogramas são aqueles logogramas que representam uma coisa concreta e são parecidos com ela, enquanto os ideogramas são aqueles que representam idéias abstratas, e tentam se parecer com algo que lembre elas. Por exemplo, o ideograma "shàng", que significa "cima", lembra uma seta apontando para cima. Às vezes, no chinês, existem logogramas que são compostos de dois ou mais outros logogramas juntos. Porém, isso não se trata de uma fusão, pois o som do logograma composto não é semelhante ao dos logogramas que o formam. Como já foi mencionado, não existem fusões no chinês.

 
O sistema japonês Katakana de escrita, em comparação com os caracteres originais chineses.

Por último, temos o silabário, cujos exemplos mais famosos são os kana, usados no Japão. Cada símbolo representa uma consoante e uma vogal, formando uma sílaba, ou quase isso. Nos silabários, não existem semelhanças únicas entre os símbolos foneticamente semelhantes. A desvantagem é que você não pode escrever "hotel" com um kana, por exemplo. Você teria que escrever "ho-te-ru". É um sistema que economiza símbolos na hora de escrever, mas é pior na hora de falar. O kana japonês é derivado de ideogramas chineses, e ainda hoje existem alguns ideogramas na língua japonesa significando palavras inteiras.

Depois que você praticamente já montou o funcionamento de sua língua, você precisa ir traduzindo vários textos, para ir pegando o jeito e criar todas as palavras necessárias para um bom diálogo. Faça um teste: tente traduzir o Pai Nosso. Essa oração tem vários dos componentes necessários para a construção da fala. Se você conseguir traduzi-la, então sua linguagem está praticamente pronta. Agora é simplesmente questão de ir aumentando o seu vocabulário. Pegue um mini dicionário e faça um para a sua língua. Continue traduzindo textos, pegue páginas de livros e traduza, em algum tempo você já terá uma linguagem completa. Não pare por aí, continue inventando outras línguas, com diferentes sons, sistemas de escrita e gramática. Construir idiomas pode ser o seu novo passatempo e, quem sabe, você não acaba criando uma língua famosa um dia?