Microeconomia/Comércio internacional

Este capítulo será o último de análise do modelo procura-oferta. Após termos analisado a elasticidade, os efeitos de price ceiling ou price floor e a questão da tributação, analisamos agora o que acontece no modelo quando se decide a abertura ao comércio internacional. Não é a primeira vez que falamos sobre isto. Fizemos a mesma análise com o modelo da Fronteira de Possibilidades de Produção e concluímos que a abertura ao comércio pode ser algo positivo. Agora, com base neste modelo vamos fazer uma análise mais cuidadosa das consequências, positivas e negativas, da abertura ao comércio internacional. Analisaremos também duas formas de controle que o Estado utiliza para minimizar as consequências para alguns agentes econômicos. De modo geral estes mecanismos de controle reduzem a eficiência do mercado mas são utilizados por uma questão de redistribuição e justiça social. À semelhança do que analisámos nos capítulos anteriores trata-se de novo de um trade-off.

Abertura ao comércio internacional

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Como no modelo da fronteira de possibilidades de produção, a abertura ao comércio internacional faz com que os produtos sejam vendidos ao preço internacional. Ou seja não interessa os preços domésticos (dos consumidores e dos produtores). A partir do momento em que se abre a economia ao comércio internacional o preço praticado será indiscutivelmente o preço internacional (Pi). Se o preço original fosse superior ao preço internacional os produtores não conseguiriam vender nada pois os consumidores iriam adquirir ao preço Pi os produtos. Da mesma forma se o preço original fosse inferior ao internacional os consumidores não conseguiriam comprar nada no mercado interno pois os produtos seriam vendidos para o exterior.

O primeiro gráfico ilustra o caso em que o preço internacional é definido acima do preço de equilíbrio. Neste situação, como o preço praticado será mais elevado, os consumidores irão consumir menos que a quantidade inicial. Temos por isso no mercado interno a venda e o consumo de Qd unidades. Contudo a um preço mais elevado os produtores estão dispostos a colocar mais produto à venda (Qs). Temos por isso uma diferença entre Qd e Qs. Em autarcia (economia fechada) teríamos uma situção em que iria existir um excesso de oferta. Seria um desperdício de recursos e o preço deveria baixar. Porém como existe a hipótese do comércio internacional tal situação não acontece pois o excesso de oferta é escoado e vendido no estrangeiro. Assim, o excedente produzido (Qs-Qd) serão as exportações, o que permite aos produtores venderem para o exterior toda a quantidade que sobra. Não existe assim nenhum desperdício de recursos e, apesar dos consumidores comprarem menos face à situação inicial, os produtores poderão vender mais unidades a um preço maior o que permitirá um ganho de eficiência econômica no mercado pois o excedente social irá aumentar.

O segundo gráfico representa um caso semelhante. Neste caso o preço internacional encontra-se abaixo do preço de equilíbrio. Como o preço praticado será mais baixo, os consumidores vão consumir mais que a quantidade inicial. Temos por isso no mercado interno o desejo de consumir Qd unidades. Contudo a um preço mais baixo os produtores estão dispostos a colocar menos produto à venda (Qs). Temos por isso uma diferença entre Qd e Qs. Em autarcia (economia fechada) teríamos uma situção em que iria existir um excesso de procura e não teríamos produto suficiente para todos se o preço não descesse. Porém como existe a hipótese do comércio internacional tal situação não acontece pois o excesso de procura é corrigido por compras ao estrangeiro. Assim, a quantidade de unidades em falta (Qd-Qs) serão as importações do mercado, o que permite aos consumidores consumirem mais do que aquilo que existe à venda dentro do mercado. Não existe assim nenhum desperdício de recursos e, apesar dos produtores venderem menos face à situação inicial, os consumidores poderão comprar mais unidades a um preço menor o que permitirá um ganho de eficiência econômica no mercado pois o excedente social írá aumentar. Teremos por isso o ponto de produção interna em Qs (unidades que os produtores nacionais vendem), um ponto de consumo em Qd (quantidade consumida), sendo que a sua diferença corresponderá às importações feitas ao exterior.

A diferença é que, apesar da definição de um preço, o excedente social aumenta pois aumentam as possibilidades de consumo/ venda com o exterior. Parte-se do princípio que a economia é price-taker (não influencia o preço do mercado mundial). Desta forma o preço definido é uma limitação mas será também uma oportunidade para um dos agentes econômicos. Como a limitação causada a um grupo é menor que a oportunidade para o outro grupo, o excedente social aumenta como veremos de seguida.

Análise do bem-estar econômico

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A abertura ao comércio internacional resulta sempre num aumento do excedente social. Isto acontece se P>Pi, pois o excedente dos consumidores aumenta mais do que a perda que existe no excedente dos produtores. Se Pi>P, ocorreria o oposto, o excedente dos produtores aumentaria mais do que a redução do excedente dos consumidores. Contudo, e apesar das perdas existentes em ambas as situações, o balanço final é positivo e o excedente social efetivamente aumenta. Contudo por vezes as perdas dos produtores/consumidores são tão elevadas que apesar de Xs aumentar e o mercado tornar-se mais eficiente, o Estado interfere no mercado de modo a mitigar as perdas existentes de alguns agentes no mercado. Vamos analisar esses mecanismos já a seguir.

Controle do comércio internacional

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Quotas

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Uma quota de importação é uma barreira alfandegária não tarifária, onde o governo limita a entrada de importados. O controle é estabelecido através de licenças de importações concedidas aos importadores interessados. Com isso, a oferta total será a oferta interna mais a quantidade determinada pelas quotas. A quota reduz o volume de exportações e eleva o preço interno acima do preço mundial. A curva de oferta acima do preço mundial se desloca para a direita na exata quantidade permitida pelas cotas. Os vendedores internos e os licenciados ficam em uma situação melhor enquanto os consumidores internos saem perdendo. Como efeito geral, há uma diminuição no excedente total de mercado.

Tarifas

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Efeito da tarifa de importação no excedente do consumidor e do produtor

Uma tarifa alfandegária é um imposto sobre mercadorias importadas. Obviamente, a tarifa apenas surtirá algum efeito se o país for um importador do produto (se fosse um exportador, os consumidores internos continuariam a comprar os bens produzidos localmente). Neste caso, os fornecedores internos podem vender seu produto pelo preço internacional, adicionado ao valor da tarifa, que é mais próximo ao preço de equilíbrio na ausência o livre comércio. Após a imposição da tarifa, há uma perda no Excedente do consumidor equivalente as áreas de A + B + C + D. O Excedente do Produtor tem um aumento dado por A, e C representa as receitas do governo. O Excedente Social tem uma redução dada por B + D, que é a perda de Peso Morto.