Prosumers/O Design(er) no meio virtual

  • O Design(er) no meio virtual


Das muitas áreas que começam a se adaptar a esse novo grupo de usuários da Web, pode-se destacar três que estão em constante contato com clientes e consumidores: Publicidade, Marketing e Design.


Em um primeiro momento, os profissionais dessas áreas tinham como objetivo criar necessidades e desejos de consumo nas massas, e então oferecer diversos produtos para saciar essas necessidades.


Mas esses novos consumidores, que possuem tantas informações à mão, começam a tornar essas estratégias obsoletas. A publicidade antes espalhada pelas ruas, revistas, jornais e televisão se tornou secundária, e a opinião de terceiros torna-se cada vez mais importante. Não é a toa que grandes marcas, procuram criar páginas na internet onde seus consumidores possam comentar e expor suas opiniões.


Até o momento, o mercado de consumo ainda tenta manter os consumidores afastados e ainda procura manter “mascaradas” suas publicidades. Nada na televisão e nas revistas é real, tudo é preparado e cuidadosamente editado.


Mesmo a Internet sendo um grande espaço para comércio e publicidade, e chegue até certo ponto a fortalecer o consumismo, o conhecimento do ciberespaço é vasto, e muitos usuários tomam para si o dever de “vigilantes”, “desmascarando” muitas dessas propagandas.


Quantas imagens foram digitalmente tratadas? Quantos produtos são embelezados? E por trás de tantas ilusões criadas para vender produtos e serviços, os prosumers encontram verdades que devem vir à tona.


Roupas de grife são produzidas devido a trabalho escravo, peças caríssimas são feitas de pele de animais. Cosméticos são testados em animais antes de serem vendidos. Aparelhos eletrônicos, como impressoras, deixam de funcionar depois de pouco tempo de uso, pois foram programadas para tal.


Boicotes foram feitos à marca Zara, envolvida em trabalho escravo. Protestos foram feitos durante o evento Fashion Week, contra o uso de pele de animal. Manifestações ao redor de todo o mundo acontecem quase que simultaneamente expondo marcas de cosméticos que fazem teste em animais.


Enquanto nas mídias televisivas e impressas só é publicado e mostrado aquilo que é de interesse político e/ou econômico. Nas redes sociais, como Facebook e Twitter, os consumidores expõe tudo aquilo com o que não concordam e reúnem ao redor dos mais variados assuntos, inúmeros seguidores. As mobilizações começam a sair do virtual.


Milhões de pessoas vão às ruas, e as mídias convencionais não mostram, é claro que a maioria delas possui apoio financeiro de grandes corporações, mas na Internet, a informação é de todos.


É claro que não é só o mundo da moda que está envolvida em escândalos, muitas marcas de aparelhos eletrônicos não se preocupam com o descarte de seus produtos, que possuem compostos poluentes, e que depois de vendidos, passam a ser responsabilidade de seus compradores. O próprio mercado de eletrônicos lança novidades em poucos meses, tornando obsoletos os modelos anteriores, enquanto outros são “programados” para pararem de funcionar.


Na rede é possível encontrar vídeos explicando como desativar chips internos de impressoras que possuem uma contagem regressiva para pararem de imprimir. Mas como descartar uma impressora, um celular quebrado, um notebook, ou até uma televisão? A maioria das pessoas apenas os joga no lixo.


Todo esse lixo eletrônico possui um único destino. Países africanos, como Gana, recebem 80% de todo o lixo eletrônico produzido nos Estados Unidos e Europa, que chegam ilegalmente como sendo produtos semi-novos, mas a maior parte já está obsoleta e não possui qualquer utilidade.(Fonte: UN Environmental Program)


É claro que os avanços tecnológicos não vão parar, e nem o sistema econômico vai deixar de sempre vender produtos novos o mais rápido possível. Mas muitos profissionais já começam a olhar com outros olhos toda a informação produzida por prosumers na Internet, e juntos procuram soluções para inúmeros problemas.


Na área de Design, o principal foco para resolução de problemas deve ser o envolvimento do designer em todo o processo de produção, seja na criação de estampas, no desenvolvimento de mobiliário, na concepção de propagandas urbanas, e até no desenvolvimento de aplicativos para celular.


Se o designer está envolvido com a criação de produtos de moda, porque não se envolver também com que quem produz as peças, de que forma são transportadas, e que embalagens são usadas após a venda das mesmas?


Se é na criação de mobiliário, porque não pensar no material mais adequado, e não no melhor, acompanhar a produção em larga escala, preocupar-se com possíveis resíduos e processos químicos, acompanhar o transporte da fabrica para a loja, pensar em um gasto mínimo de embalagens, e no seu descarte pós uso.


Designers de comunicação visual podem ter uma maior preocupação com o gasto de materiais, e o uso dos mesmos de forma mais correta, como é o transporte a aplicação urbana da peça publicitária, e seu descarte pós uso.


É claro que todo trabalho deve ser feito em conjunto, reunindo designer e equipe da empresa envolvida. Profissionais de todas as áreas devem ter uma maior preocupação não só com a imagem de suas empresas, mas também uma preocupação ambiental.


Pois os novos consumidores do século XXI possuem essas preocupações e estão cada vez mais envolvidos nos processos de produção. Pouco passa despercebido por esse grupo. E tudo está disponível para ser acompanhado pela rede. Todos aqueles que estão conectados podem estar envolvidos de forma a coletar e apresentar informações importantes que devem ser do conhecimento de todos e trazer para o “mundo real”.


Grandes empresas já começam a pensar dessa forma, são as chamadas Empresas Transparentes. Possuem responsabilidade social corporativa, que atualmente é considerado um elemento importante para o desenvolvimento dos negócios e para estabelecer relações positivas entre as empresas e as chamas “partes interessadas”.


As Empresas Transparentes adotam posturas ligadas à ética e à qualidade da relação empresa-sociedade, que impõem mudanças nas dinâmicas de mercado, de concorrência e de competitividade.


A responsabilidade social corporativa não surgiu apenas com a preocupação dos impactos da produção no meio ambiente, mas também pela nova postura que vem sendo adotada por consumidores conectados pelo mundo todo.


“Ser uma Empresa Transparente significa entender e agir em resposta a essa nova demanda da sociedade, que é a de que o valor gerado por uma empresa se reflita em benefícios não somente para seus acionistas, mas que tenha também impacto positivo para o conjunto dos afetados por suas operações, em particular o meio ambiente e a comunidade, seus funcionários e a sociedade, respeitando sua cultura e agindo de forma ética e transparente.” Instituto Ethos (2001)


A forma como a sociedade percebe o mercado de consumo já está em fase de mudança, e para muitos consultores corporativos, como Erik Qualman e Don Tapscott, as empresas que não se adaptarem ao novo mercado colaborativo, que envolve produtor e consumidor, estão fadadas ao fracasso.


A geração Y, ou a Geração Net, podendo escolher dentre uma gama de empresas e marcas, irá optar por aquelas que têm a preocupação de estarem envolvidas, e que vêem na colaboração uma forma de solucionar velhos problemas. A solução virá da rede, do cérebro global. Do saber coletivo.