Prosumers/O Prosumer
- O prosumer
O advento do novo consumidor
editarEm 1980, o escritor Alvin Toffler previu que a linha que demarcava aqueles que são consumidores daqueles que são produtores começaria a desaparecer. A saturação do mercado e a produção em massa passariam a satisfazer apenas a demanda de consumidores “comuns”. Para continuar lucrando, o mercado começaria um processo de customização em massa dos produtos, e um novo tipo de consumidor surgiria, o prosumer.
O termo prosumer, de acordo com Toffler, deriva da união de duas palavras que em um primeiro momento são antagônicas, produtor e consumidor (Produtor – Producer; Consumidor – Consumer). Esses consumidores além de interferirem na forma de produção, também poderiam customizar seus produtos.
A previsão de Toffler não se concretizou, pois o mercado, por muito tempo, não permitiu a participação dos consumidores na linha de produção, acreditando que a customização de produtos elevaria o custo de produção, e também colocaria muito poder nas mãos dos consumidores.
Mas enquanto o mercado mantinha seus métodos de produção, os consumidores encontram através da Internet, uma fonte dinâmica de informação e um canal que possibilitava a propagação de comentários com caráter pessoal que podia atingir um enorme número de pessoas. É através desse canal que os prosumers começaram a tomar parte no processo de produção, especialmente nas áreas de tecnológia, de moda e de design de produtos.
Esse grupo de usuários do século XXI é formado por jovens, que Don Tapscott chama de Net Generation (Geração Net), ou Geração Y.
Os prosumers não só criticam ou elogiam, mas também comparam preços, opinam sobre os métodos de produção, possuem uma preocupação ambiental e humana, e descrevem suas experiências com as marcas, serviços e produtos.
Atualmente, com a grande opção de produtos similares no mercado, a maioria dos consumidores procurar saber mais sobre o que pretende comprar, e esse conhecimento encontra-se na rede. Os usuários que utilizam a rede para transmitir informações relevantes para outros usuários passaram a ser respeitados como figuras que colocam poder de escolha nas mãos dos consumidores.
Mas como a Internet tornou-se uma ferramenta poderosa em pouco tempo, muitas pessoas ainda estão tendo que se acostumar com as inúmeras possibilidades da rede. Uma de suas possibilidades já foi incorporada pelo mercado, muitas marcas possuem canais na Internet onde consumidores podem falar bem de seus produtos, e ao mesmo tempo procuram sanar problemas que às vezes se tornam públicos.
As peças publicitárias e as propagandas começaram a perder seu poder de sedução e a opinião de terceiros que já tiveram contato com a marca começa a valer cada vez mais. O poder de escolha, que os consumidores sempre imaginaram ter, se revela cada vez mais ameaçador para o mercado. Sem ter muito que fazer em relação à liberdade de expressão na Internet, as grandes empresas tentam incorporar esses novos usuários em suas frentes de publicidade.
Os prosumers ainda são uma minoria na rede, mas estão sempre conectados, atualizados e contribuem constantemente com o ciberespaço e alimentam a cibercultura. Apesar de absorverem muita informação, sabem muito bem como manipulá-la e onde compartilhá-la para uma maior repercussão. Os assuntos e discussões propostos por esse usuários são relevantes para vários nichos de consumidores, por isso procuram sempre apresentar opiniões e ideias bem fundamentadas.
Buscar, ou produzir a informação original na web é algo primordial para os prosumers, sem ela, qualquer comentário pode ser anulado, ou ainda pior, ridicularizado. Eles têm como objetivo, trazer outros usuários para as suas causas, e para isso é essencial fornecer informações corretas, que podem ser verificadas e conferidas.
Como o alcance das informações publicadas no mundo virtual é global, muitos acontecimentos repercutem no mundo todo, podendo beneficiar ou prejudicar as grandes empresas. E é desse trunfo que os prosumers se utilizam.
“Justamente porque a tecnologia permite localizar-se e distribuir a partir de qualquer ponto, o essencial para produzir conteúdo na Internet é ter informação e conhecimento, o que se traduz em pessoas que disponham de informação e conhecimento, pessoas que estão concentradas nos grandes centros culturais e grandes áreas metropolitanas do mundo”. (CASTELLS, 2003).
Esse poder conferido a eles através do advento da Internet possibilitou uma maior inclusão do consumidor no mercado de produção. A linha entre consumidor e produtor da qual Toffler se referia, realmente começou a desaparecer, mas não da forma como ele imaginava.
O consumidor-produtor do século XXI
editarA influência desses novos usuários já está sendo percebida em várias áreas do mercado, o setor empresarial vê o surgimento desse grupo de consumidores como um segmento de mercado e o setor da economia os vê como um grupo com grande independência da economia mainstream (corrente principal).
Muitos teóricos e estudiosos, percebendo essas transformações, começam a explicar essas mudanças a partir de outros pontos de vista e a elaborar novos conceitos para o termo prosumer.
Para Don Tapscott, autor do livro Wikinomics, “os prosumers conduzem você pelo mundo cada vez mais dinâmico da inovação criada pelo cliente, no qual uma geração de consumidores - produtores consideram o ‘direito de modificar’ um patrimônio hereditário. É uma novidade positiva”.
O jornalista Dignam em seu artigo Prosumer Power (Poder do Prosumer) aborda o tema ainda em uma visão Toffleriana, onde a nova tecnologia de comunicação e informação possibilitou um aumento de comunicação entre consumidores e produtores, o que beneficia muito mais os consumidores, e torna os produtores mais vulneráveis, exatamente pelo surgimento do que ele chama “vigilant consumers”, consumidores vigilantes que falam abertamente sobre qualquer marca e/ou empresa.
Outro ponto importante é o tratamento dado aos consumidores pelas empresas, que os vêem como passivos. Algo considerado inapropriado por Dignam, pois os consumidores escolhem dentre tantas marcas aquela com as quais irá se comunicar. Na visão do jornalista, as marcas e corporações devem criar laços duradouros e benéficos com esses novos consumidores.
Kirsner Scott, colunista de economia do The Boston Globe, vê o termo prosumer como a união de “Professional – consumer”, criando um segmento de usuários que seriam um meio termo entre consumidores e profissionais. Ele diz que esse grupo não é motivado pela obtenção de capital, mas por uma paixão pela busca da criatividade. O economista conclui que os prosumers estão em busca de uma resolução para melhorar seus canais de distribuição de trabalhos criativos.
A partir dessa nova definição do termo, Professional – consumer, é possível enquadrar os participantes de crowdsourcing e crowdfunding. Enquanto no primeiro os participantes se caracterizam por reunir um grupo de trabalho sem fins lucrativos, apenas pela vontade de ver realizado um projeto, no segundo, os participantes encontraram um novo canal para o desenvolvimento de seus projetos e para a visualização dos mesmos.
Paul McFedries, escritor canadense, apresenta outra definição para prosumers, a união de “proactive – consumer”, consumidor pró-ativo, que seria aquele que toma providencias para tentar solucionas problemas junto de companhias e empresas.
Apesar das mais diversas nomenclaturas, é fato que um novo grupo de usuários está utilizando as ferramentas disponíveis na web para fortalecer os consumidores e enfraquecer o controle do mercado. Afinal nunca havia sido tão simples e rápido juntar pessoas ao redor do mundo em torno de um único objetivo, onde cada um trás seu conhecimento para contribuir com o todo.
Enquanto a Internet fortalece a conexão entre as pessoas, a web oferece cada vez mais ferramentas para os diversos usuários que desejam participar de forma ativa tanto no mundo virtual como no mundo real.
O prosumer e o mercado
editarUm dos primeiros setores a perceber a influência que opinião de terceiros tinha sobre os usuários-consumidores, foi o da moda. Nos últimos cinco anos os blogs de moda e de cosméticos tornaram-se os principais pontos de busca de informação no que se trata de beleza e tendências (Fonte: Google Insight).
Tanto as marcas de roupas, como de produtos de beleza começaram a entrar em contato com as pessoas que geravam o conteúdo desses sites, e passaram a oferecer altas quantias em dinheiro, para que os blogueiros mencionassem suas marcas e produtos, ou para que aceitassem postar textos produzidos pela própria empresa sobre o produto. Essas quantias podiam chegar a 4 mil dólares no caso de banners. (Matéria de capa da revista Galileu de Junho de 2012).
Para muitos internautas vigilantes, essas ações empresariais não passaram despercebidas. Muitos textos idênticos começaram a aparecer em vários blogs de moda e cosméticos simultaneamente, e muitas blogueiras descreviam ótimos produtos que nunca haviam usado.
O blog Shame on You reúne essas pérolas e as expõe para todos os internautas interessados acompanharem o que anda acontecendo em outros blogs considerados “comprados” pelo “mundo da moda”.
Outro exemplo que ilustra essa união de internautas em prol de uma mesma causa, é o site #FezFail – Cagadas Corporativas no Twitter, criado por três brasileiros em 2009, o site utiliza as ferramentas do Twitter para classificar o conteúdo apresentado no site.
O objetivo do site é monitorar as reclamações feitas por usuários, no Twitter, sobre empresas que deixaram a desejar tanto no atendimento, quanto em seus serviços e produtos. Na página inicial do site, é possível visualizar um gráfico que mostra as 5 empresas mais citadas, ou seja, as mais “mal faladas”, e em que mês foram mais comentadas.
Os internautas podem fazer uma pesquisa pelo nome da empresa, e comparar comentários feitos por outros usuários. A vantagem de se utilizar o Twitter, é que qualquer coisa escrita, em no máximo 144 caracteres, pode alcançar pessoas ao redor do mundo todo em apenas alguns segundos.
Dessa forma, os fundadores do site esperam que as empresas prestem um pouco mais de atenção em seus consumidores, e se mobilizem para resolver problemas que podem afetar apenas uma pessoa, ou grupo enorme de pessoas, que estão fazendo reclamações e não estão sendo atendidos, o que é um direito do consumidor, muitas vezes esquecido.
Enquanto algumas empresas acompanham tudo o que é dito sobre elas na rede, e se disponibilizam para melhor atender seus clientes, outras parecem nem perceber o quanto estão sendo comentadas de forma negativa e deixam passar muitas reclamações.
Que é o caso do Facebook atualmente. No início de 2012, o fundador da rede social Facebook, Mark Zuckerberg, apresentou a nova página inicial do site, que mudaria da visualização em forma de mural, para uma linha do tempo. A nova visualização seria atualizada aos poucos, e testada, primeiro por usuários norte americanos, e depois por usuários de outros países.
A linha do tempo não foi bem recebida pelos internautas, que tiveram dificuldade em manipular as novas informações. Muitas reclamações foram feitas, tanto no próprio site do Facebook, como em outras redes sociais e fóruns. Mas Zuckerberg não deu ouvidos, a linha do tempo, de acordo com seu discurso, será implementada em todos os perfis do site até o meio de 2012.
A ação das empresas em relação aos seus consumidores apresenta fatos importantes sobre as mesmas. Aquelas que dão espaço para que os clientes se manifestem e atendem ao maior numero possível de reclamações, começam a ser bem vistas por outros usuários. Enquanto no caso do Facebook, independente do que for oferecido aos clientes, bem recebido ou não, à empresa não importa, pois no momento não possui concorrentes.
Os prosumers estão atentos a tudo o que acontece na indústria de consumo e como as empresas se posicionam e agem em relação a seus clientes. Enquanto algumas empresas ainda estão começando a se aventurar mo meio virtual e se envolvendo através da rede com seus clientes, outras empresas já começaram a criar laços com seus clientes, não só dando espaço para se manifestarem, mas para se envolver em projetos da própria marca.
A empresa LEGO é pioneira no que tange o envolvimento de consumidores no desenvolvimento de projetos, desde 1998, a empresa mantém um projeto chamado LEGO Mindstorm, voltado para educação tecnológica para crianças.
O projeto foi inspirado na obra “Mindstorms: Children, Computers and Powerful Ideas”, de autoria de um dos fundadores do MIT, que trata do desenvolvimento intelectual de crianças e jovens com o auxílio de computadores.
Em 2006, a LEGO desenvolveu um serviço único de customização, onde os internautas podiam depois de um cadastro no site, montar virtualmente suas próprias criações com peças de LEGO virtuais, utilizando um sistema chamado LEGO Digital Designer. Depois de pronto os projetos eram votados e selecionados para serem efetivamente produzidos e comercializados.
O projeto Design By Me foi encerrado em 2012, e está sendo reformulado. Todos os projetos selecionados e vendidos foram catalogados e publicados em livros, divididos em categorias, como naves espaciais, casas, carros, acessórios, e outros.
Ainda é possível criar virtualmente seus projetos no sistema LEGO Digital Designer e comprar as peças necessárias para construí-lo fisicamente. Esse projeto teve grande repercussão e foi um dos primeiros a incorporar à própria empresa, produtos desenvolvidos pelos consumidores.
Outra empresa a se aventurar na produção em conjunto com clientes, foi a FIAT. Através do Centro Estilo FIAT do Brasil começaram em 2006, a pedidos dos consumidores, a desenvolver o primeiro carro - FIAT Concept Car I - de criação 100% brasileira.
Em 2008, no Pólo de Desenvolvimento Giovanni Agnelli, em Betim, Minas Gerais, foi construído o FIAT Concept Car II, que é ecologicamente correto, também voltado para a demanda de clientes da empresa.
Então em 2009, para comemorar os 30 anos da FIAT, foi criado o projeto FIAT MIO (Meu FIAT), o primeiro carro feito com a licença Creative Commons. Dessa forma, todo o conteúdo gerado durante o desenvolvimento do projeto pode ser propagado sem restrições, podendo ser utilizado por simples usuários e até mesmo outros fabricantes de veículos.
No site da FIAT 30 anos, através de uma experiência interativa, qualquer pessoa de diferentes regiões, idades e classes sociais, poderiam deixar suas impressões sobre o futuro por meio de vídeo, áudio ou texto.
Essa experiência foi o primeiro passo para começar a criação do carro conceito. O objetivo da FIAT era criar o primeiro carro do mundo desenvolvido pelo, e para os clientes. No site do carro conceito FIAT Mio, os internautas podiam mandar ideias sobre o que seria mais interessante de se ter em um carro, desde telas sensíveis ao toque, reconhecimento de voz, direção autônoma, e locomoção por energia elétrica.
Além de possuir um espaço para as ideias dos usuários, o site também contava com uma área de questões levantadas pela própria equipe de engenheiros e designers do projeto, onde expunham opções de tecnologia e seus prós e contras. Os internautas podiam comentar e discutir essas opções chegando a um consenso de quais seriam mais eficientes juntas.
No site é possível encontrar o passo a passo da concepção, desenvolvimento e conclusão do projeto, que durou um ano. O carro FIAT Mio foi exposto no Salão Internacional do Automóvel em 2010 e apresentado em vídeo pelo Youtube.
O carro é conceitual e não pode ser comercializado, mas a ideia da empresa era mostrar que bons projetos podem ser desenvolvidos se o mercado der mais espaço para o consumidor opinar sobre os produtos que compra, ajudando a aprimorá-los.
Don Tapscott, autor do livro Wikinomics, aborda em seu livro vários casos de empresas que agregaram conhecimento ao convidar pessoas de todo o mundo para participar de seus projetos, além de disponibilizar conteúdos considerados sigilosos para que outros pudessem ter acesso e trazer à luz novas formas de se pensar processos de produção estagnados, essas empresas começam a dar espaço para essa nova economia, a qual Toffler chamou de Terceira Onda.
A Terceira Onda só foi possível com o advento da Internet, e às novas gerações que sabem fazer bom proveito dessa ferramenta que foi motivo de incríveis transformações. A chamada Geração Net, Geração Y, ou até Geração Z, formada de pessoas que já nasceram conectadas e com o saber quase natural de manipulação dessa ferramenta, continuará mudando o mundo em que vivem, transformando os meios de comunicação em massa e colocando o poder de escolha e as necessidades das massas em destaque.
“Em vez de serem apenas recipientes passivos da cultura de consumo em massa, a Geração Net passa seu tempo pesquisando, lendo, inspecionando, autenticando, colaborando e organizando (tudo, desde os seus arquivos MP3 até manifestações de protesto). A Internet torna a vida uma colaboração contínua e maciça, e essa geração adora isso. Eles não conseguem imaginar uma vida em que os cidadãos não tinham as ferramentas para pensar criticamente, trocar opiniões, desafiar, autenticar, verificar ou desmascarar o tempo todo. Enquanto seus pais eram consumidores passivos de mídia, os jovens de hoje são criadores ativos de conteúdo midiático e têm sede de interação. Eles também são uma geração de inspetores. São mais céticos em relação à autoridade, à medida que filtram informações na velocidade da luz, sozinhos ou com a sua rede de colaboradores”. (Tapscott, 2006)
Pode-se dizer que o grupo de pessoas que forma o nicho de prosumers, não está em busca de capital, mas sim de uma participação em um todo que está sendo formado pela conexão de dispositivos através da Internet. E essa contribuição acontece dessa forma, pois a web ainda oferece um ambiente que pode ser considerado livre para a expressão de caráter pessoal, seja de forma individual, seja em equipe.