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  • O homem e a cultura digital


O ser humano social editar

O ser humano é antes de qualquer coisa, um ser social. E isso se dá exatamente pela forma como o homem percebe o mundo a sua volta. Suas necessidades vão além do fato de que deve se alimentar, se abrigar e procriar. O ser humano não só tem conhecimento desses fatos, mas também tem o poder de questionar todos eles, tem a necessidade de procurar uma explicação para cada um deles.


E é essa vontade de aprender que faz com que os homens vivam em sociedade, pois o homem só se sabe ele mesmo a partir do momento em que se especifica quem é o outro.


“Sem o outro, cada pessoa seria um mundo fechado em si mesmo, é através do contato com o outro que as pessoas podem trocar experiências, ideias e sentimentos. E ao se relacionarem como seres interdependentes, influenciam-se mutuamente e juntas modificam a realidade onde estão inseridas.” (BORDENAVE, 1982)


Essa necessidade de se viver em sociedade fez com que o homem desenvolvesse um artifício, que nada mais é do que a mais humana das características, a comunicação.


A comunicação é um conjunto de símbolos e signos expressos através de sons, gestos ou da escrita. É claro que esse conjunto de símbolos e signos não é padronizado ao redor do mundo, e para que houvesse entendimento entre pessoas e povos, foram criadas algumas convenções. De uma forma universal, existem signos e símbolos compatíveis entre sociedades diferentes, mas as convenções criadas seguem algumas normas, como gestos, apertos de mão, sorrisos, tudo levando em consideração, que a nação mais influente no mundo acaba por ditar muitas dessas normas de conduta.


Mas apesar de diferentes, as sociedades possuem algumas características que são comuns universalmente, e uma delas, é a necessidade de consumir.


Seja o consumo de alimentos, vestimenta, remédios ou informação. Essa necessidade em especial fez surgir uma forma de interação entre sociedades com culturas diferentes, mas com os mesmos desejos, possuir algo que necessitavam, mas que não estava disponível dentro de seu território. O consumo possibilitou a troca das mais variadas formas entre as mais variadas culturas. Atualmente a população mundial alcançou o número de 7 bilhões de habitantes.


Mesmo com sistemas econômicos diferentes, religiões diferentes e linguagens diferentes, foi possível criar uma conexão entre culturas. Essa conexão é tão importante, que certos produtos são produzidos apenas para exportação, os valores de produtos muito procurados são altos, e nações que não estão de acordo com normas mundiais podem até sofrer bloqueios comerciais.

Foi a necessidade de consumir que criou essa conexão entre produção e consumo, e essa mesma necessidade fez com que a comunicação entre nações se alterasse. As mudanças econômicas e os avanços tecnológicos estabeleceram uma comunicação de alcance global.


Durante a guerra fria, a competitividade entre os Estados Unidos e a União Soviética cresceu, e o desenvolvimento de tecnologias, em especial as militares, teve um grande avanço. Não só com a corrida armamentista, mas também com a corrida espacial.


A transmissão de informações era algo que estava em foco, não só para manter as massas consumindo, desenvolviam-se métodos cada vez mais precisos de manipulação de informação, mas também havia a preocupação de manter em segurança informações sigilosas dos governos.


Satélites foram lançados no espaço e novas formas de comunicação, mais seguras e estáveis começaram a ser desenvolvidas. A internet dos dias de hoje, é fruto de uma experiência tecnológica que começou em meados de 1955, nos Estados Unidos.


O advento da Internet editar

O governo americano pesquisava então uma forma de enviar e receber arquivos de maneira rápida e segura, primeiramente, conectando sistemas de radar.


Em 1969, enquanto o homem pisava na Lua e era visto pela televisão por milhões de pessoas ao redor do mundo, foi criada a ARPANET. Diferente dos radares, que se conectavam através de circuitos, a ARPANET se conectava através de pacotes de dados - protocolos - o que mantinha a conexão mais estável.


Em um primeiro momento essa conexão acontecia somente entre a Universidade da Califórnia, em Los Angeles, e o Instituto de Pesquisa de Stanford (Stanford Research Institute), em Menlo Park, um instituto de pesquisa sem fins lucrativos, também na Califórnia. Essa comunicação entre computadores se limitava a algumas formas de troca de texto, incluindo dados matemáticos.


O desenvolvimento dessa tecnologia levou a criação de inúmeros pacotes de dados diferentes, que não se comunicavam entre si, dessa forma, existiam algumas redes privadas, mas não era possível manter uma comunicação entre essas redes.


Por esse motivo, em 1974 foi criado um protocolo único para todas as conexões entre computadores, o Protocolo de Internet, ou TCP/IP (Transfer Control Protocol/ Internet Protocol). Foi então que o termo Internet, Rede de Trabalho Internacional (International Network) começou a ser usado em escala mundial. Essa conexão acontecia inicialmente através de cabos de fibra óptica, e mais tarde, via conexões sem fio (Wireless).


Mas durante alguns anos essas conexões entre computadores eram uma exclusividade de universidades, bancos e grandes empresas. Foi apenas em 1980 que os computadores domésticos começaram a ser vistos como objeto de desejo por grande parte da população e começaram pouco a pouco a fazer parte do cotidiano social. Mas a conexão entre computadores domésticos era simples e se resumia a envio de emails e alguns boletins de notícia, podendo ser feitos através dos BBS (Bulletin Board System). Que nada mais eram do que um software que permitia a conexão via telefone, assim como a Internet. Proporcionavam a distribuição de aplicativos, informações e jogos online.


Foi então em 1990 que, a Organização Européia para Investigação Nuclear (CERN), em Genebra, já conectada à Rede da Internet, lançou a chamada, Rede de alcance mundial (World Wide Web), ou apenas Web.


A Web é um sistema executado através da Internet, utilizando o protocolo HTTP, o Protocolo de transferência de Hipertexto (HyperText Transfer Protocol), um dos muitos protocolos utilizados através da Internet. Esse em específico se utiliza da linguagem HTML, a Linguagem de marcação de Hipertexto (HyperText Markup Language) para compilar informação em forma de códigos.


Esse sistema nada mais é do que uma forma de se manipular, enviar e receber conteúdo. Para a visualização desse conteúdo, é necessário que se utilize os navegadores (Browsers), que são programas de computador (Softwares). Os navegadores mudam, mas o conteúdo das páginas (Sites) não. Um dos primeiros navegadores a serem utilizados para navegar na rede, foi o Netscape, muito utilizado entre 1995 e 1998, até a criação do navegador da Microsoft, chamado Internet Explorer.


Sem a Web, ainda é possível “navegar” na Internet, utilizando outras aplicações, como mensagens instantâneas (MSN), trocar arquivos via FTP (File Transfer Protocol) ou até enviar e receber emails via SMTP (Simple Mail Transfer Protocol). Mas para se utilizar todas essas outras aplicações ou usa-se um navegador, assim como para a Web, ou usa-se linhas de código, o que não é tão simples.


Muitos dos protocolos que utilizamos enquanto “navegamos” pela Internet, visualizamos através de navegadores, como Internet Explorer, Firefox, Opera e Google Chrome. De fato é difícil saber o número preciso de protocolos que são utilizados enquanto se acessa a Internet. Sendo a Web apenas uma aplicação para a Internet, foi natural que, assim como a Internet, ela se desenvolvesse de forma a atender as necessidades criadas pelos usuários. Que se tornaram a maior fonte de alimentação desse sistema de comunicação.


No início a Web era considerada estática, pois o usuário final, ou seja, aquele que visualizava o conteúdo final, não podia interferir nem alterar nada do que via e lia. Neste formato de visualização não existe interação do usuário com o a página (Site). Somente o programador ou o dono da pagina (Webmaster), podem realizar alterações e/ou atualizações no conteúdo.


Em 2004, a Web começou a ser comercialmente chamada de Web 2.0, isso devido ao aumento de interação entre o usuário final e as páginas visitadas. De modo geral não houve uma mudança física entre o que chamamos de Web 1.0 e 2.0, o que fez essa alteração perceptível foi a forma como a Web começou a ser utilizada por novos usuários.


Essa “nova” Web se destaca por ser mais dinâmica e interativa, onde o usuário pode postar comentários, enviar imagens e vídeos, compartilhar arquivos, e alterar o conteúdo instantaneamente.


Essa liberdade de manipulação de conteúdo deu ao usuário final a possibilidade de não apenas ler e ver conteúdos de seu gosto, como discutir, argumentar e propor modificações, abrindo assim um canal de comunicação extremamente importante para a cultura jovem do século XXI.


Com os rápidos avanços tecnológicos, já se começa a comentar sobre o futuro da World Wide Web, a Web 3.0, que passaria a se chamar Wold Wide Database. A WWD ainda é conceitual, pois as tecnologias que a tornam possível ainda estão em desenvolvimento. A Web 3.0 visa organizar e tornar o uso das informações disponíveis na Internet, mais rápido e inteligente. Seu foco de inovação não é o usuário, como foi a Web 2.0, mas as estruturas de bancos de dados e a análise dos mesmos.


Tecnologias como a banda larga, o acesso móvel à Internet através dos celulares e a tecnologia de rede semântica, convergem para tornar essa nova Web possível, que passaria de uma rede mundial, para uma base de dados mundial.


Atualmente, somos 7 bilhões de pessoas, do total apenas 35% está conectada, ou seja, apenas 2,5 bilhões de pessoas possuem acesso à Internet.


A Internet de bolso editar

Essas diversas relações humanas entre pessoas e entre pessoas e empresas só puderam ser criadas através da Internet. De dentro de suas casas os internautas criaram e alimentaram um novo mundo, virtual, que se estende para muito além do computador, o Ciberespaço.


A penetração do mundo virtual no mundo real foi tão intensa, que muitas pessoas começaram a necessitar dele fora dos horários de lazer ou trabalho. Qualquer hora se tornou hora para uma visita ao mundo virtual. O ciberespaço nunca esteve tão cheio de informações e dados, mas também está cheio da vida das pessoas, que vivem nele diariamente.


Mesmo podendo acessar o ciberespaço através de computadores e notebooks, as empresas perceberam que havia outro aparelho eletrônico, que estava 24 horas por dia junto das pessoas que poderia ser mais um portal para o mundo virtual.


Ao final do ano de 2010, 50% dos brasileiros possuíam celulares, e pelo menos metade deles, consumidores da classe B e C, possuem mais de um celular. (IBGE)


Ficou claro para a indústria que o investimento em celulares que poderiam acessar a Internet era mais do que natural e que a aceitação do público, principalmente jovem, seria unânime. Apesar de esses celulares inicialmente não custarem barato, a tecnologia de acesso à Internet avançou tanto em tão pouco tempo, que é possível encontrar três gerações de tecnologia em apenas alguns poucos anos.


De todos os celulares brasileiros, 35% possuíam acesso à Internet em 2012 (IBGE). A inclusão digital acabou por começar de forma natural, pois a necessidade de comunicação não é uma exclusividade das classes altas, mas te todas as classes.


A população brasileira atualmente é a que passa mais horas conectada por dia, são 44 horas online por mês (IBGE). Mas com a expansão dos celulares, esse número com certeza crescerá.


De acordo com a ITU (International Telecommunication Union), União Internacional de Telecomunicação, em cinco anos o acesso via celulares e tablets será superior ao acesso via computador.


Os avanços tecnológicos de comunicação transformaram os celulares e outros aparelhos portáteis em dispositivos com melhor experiência de manipulação e acesso às informações da web, o que facilita a migração do acesso do computador para dispositivos mobile.


A utilização de todas essas tecnologias de comunicação transformou não só as relações humanas, mas também as culturas das diversas sociedades e a forma como o mercado via os consumidores. Esses dispositivos deram poder aos usuários para falar abertamente, e mundialmente sobre qualquer assunto, e isso inclui falar do mercado de consumo atual.


Essas novas visões que surgem e se reúnem através da Internet vindas de vários lugares do mundo, que possuem culturas diferentes e costumes diferentes começaram a tomar forma em âmbito global formando o que hoje conhecemos por Cibercultura.


O Ciberespaço editar

Atualmente a Web 2.0 tem tornado possível conexões entre pessoas ao redor do mundo todo, e junto da Internet, criou um acervo não só de imagens, textos e vídeos, mas de ideias, medos e desejos. Os usuários não vêem mais o computador apenas como uma ferramenta de trabalho e pesquisa. Agora o computador se tornou uma parte daquilo que esses jovens são, do que representam, do que desejam, do que temem e do que almejam alcançar.


Todos esses sentimentos e experiências, transferidos para dentro da rede, compõem aquilo que é chamado de Ciberespaço (Cyberspace). O termo foi difundido em 1984 através do livro Neuromancer de Willian Gibson. O ciberespaço conceitua um espaço virtual, que é intangível e imensurável, onde toda a informação pode ser encontrada e acessada, mas não pode ser tocada.


Na Internet, de acordo com Pierre Lévy, o ciberespaço nada mais é do que, “O espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores”. Pode-se incluir também a memória daqueles que acessam o ciberespaço e o alimentam a cada dia com um pouco daquilo que acreditam.


Como o homem é um ser social, a Internet tornou-se um meio através do qual se pode conhecer e aprender qualquer coisa, pois todos que se conectam, tem como objetivo não só procurar por informações, mas também produzi-las e compartilhá-las.


Esse novo meio de interação proporcionou uma forma de comunicação que possui alcance global. O que é dito de um lado do mundo pode ser acessado do outro em apenas alguns segundos. Essa rapidez faz com que as relações entre os usuários da rede sejam intensas e poderosas. A mobilização de numerosos grupos de pessoas se tornou não só possível, mas bem articulado e com grande impacto nas mídias convencionais.


Os jornais e a televisão vêm documentando esses acontecimentos, enquanto tentam sobreviver nesse mundo digital onde tudo o que acontece fica obsoleto em algumas horas. De maneira geral, as mídias convencionais já migraram para o ciberespaço, e já começam a se adaptar a essa nova mídia que difere e muito dos meios de comunicação impressos e televisivos.


Diferente da televisão e do jornal impresso, onde é necessário um tempo de compilação, produção e revisão do material a ser divulgado, na Internet não há tempo. Quanto mais rápida a informação é fornecida, mais destaque o canal de transmissão recebe. Não só a rapidez é crucial, mas também a qualidade da informação, o que é contraditório, mas deve ser uma meta dos meios de comunicação que pretendem manter-se confiáveis como fonte de informação relevante para os usuários da rede.


Não só os usuários criam relações de confiança entre si, mas também as organizações e empresas que começam a fazer parte desse meio digital tem de buscar essa mesma relação de confiança com os usuários. Porque enquanto na televisão e nos jornais, os leitores apenas consomem a informação que lhes foi transmitida, na Internet tudo pode ser comentado, editado e manipulado por qualquer pessoa que possua as ferramentas e o conhecimento para fazê-lo.


“Nunca na história houve tantas pessoas razoavelmente instruídas, armadas coletivamente com um âmbito tão incrível de conhecimento. Nunca tantas puderam viajar, comunicar-se e aprender tanto de outras culturas.” (TOFFLER, 1980).


A Cibercultura editar

A relação criada entre as tecnologias de comunicação e o homem libertaram os indivíduos das limitações de espaço e tempo. A cibercultura surgiu dessa relação e se caracteriza por uma busca pela dominação, no sentido de manipular para conhecer e transformar.


Essa cultura globalizada tem como objetivo transformar o mundo através do desenvolvimento tecnológico que possibilita novas formas de sociabilidade. Mas de acordo com professor de Mídia Digital, Marcelo Pereira da PUC Rio, “o desafio está em utilizar a tecnologia da informação como uma ferramenta para o desenvolvimento socioeconômico de todas as camadas da população e não apenas como uma forma de controle nas mãos de uma pequena elite”.


Enquanto essas tecnologias estiverem nas mãos de uma minoria, a cibercultura será formada pelas opiniões e ideias desse grupo, excluindo grande parte da população mundial. O barateamento e o alcance que está sendo conquistado, já estão mudando esse panorama.


Na cibercultura, tudo está em rede, e agora a rede está em todos os lugares, esse fenômeno tecnológico altera as dinâmicas sociais e também econômicas. Os usuários se apropriaram dessas mídias sociais que oferecem um espaço muito mais flexível para intervenção, diferente das mídias convencionais que tem um sistema muito mais restrito para a intervenção dos telespectadores.


As manifestações culturais que ocorrem através do ciberespaço começam a influenciar as massas de consumo pouco a pouco, enquanto conquistam seu espaço por meio de trocas e influências mútuas entre culturas.


Não só as relações humanas sofreram alterações nas últimas décadas, mas também as sociedades como um todo, que foram bombardeadas com informações de outras culturas. No ciberespaço é possível encontrar as formas de intervenção que estão acontecendo e que estão compondo aos poucos a cibercultura.